domingo, 30 de março de 2014
O meu desejo para ti
Há que não amargurar-se: tarefa mais árdua que há! Já que às vezes só amarguras recebemos; mas ainda assim há que olhar para frente, seguir o passo, lutar para transformar o incômodo em mudança.
E quando não der, quando a mudança for inoperável, mudar a nós mesmos, como matéria ímpar que somos, como ponto de nossa própria vista, como fato de nossa própria vida, como fala de nossa própria voz.
Há que crer: se não nos outros, em si mesmo, em si mesma. Não se sai ileso da vida. É impossível fazê-lo: pois somos nós mesmos criatura que se cria e desfaz-se, somos nós mesmos cirandas de um carrossel que não apenas gira, mas rodopia nossas noções, nossas (in)certezas, nossos referenciais.
Há que amar: a si e aos outros que são passíveis de receber amor. E, quando acontecer de amar sozinho, que ame sem peso: que ame apenas por amar, como uma admiração e encantamento por outro ser.
Existe uma leveza no amor maduro: ele sabe-se. E por saber-se, entende que o amor é uma irradiação de nós mesmos, é uma luz que sai de nós e, assim, clareia nossa existência.
No entanto há que entender o feio do mundo. É necessária essa compreensão. Para, consciente, saber ter empatia, saber ser um ser-no-mundo, saber do todo que compõe o existir. Há que reconhecer o não ideal para saber lutar pelo ideal. Há que entender a lágrima para esforçar-se por mais sorrisos. É preciso até conhecer a solidão: para se saber reconhecê-la também no outro e, assim, juntar solidões em companhia.
Há que se saber dar auto-abraços: porque às vezes os outros abraços falham. E há que se compreender que a sua trajetória tem uma razão sua de ser. É sua. Com seus significados e desafios, com seus labirintos e dores, com todo o crescer que lhe cabe. E, nos momentos de benevolência da vida, a sua existência cruza-se com outras existências: e a sua luz brilha mais forte por juntar-se a outra luz.
Mas é preciso guardar sorrisos internos: é preciso saber achar o caminho de volta para si. É preciso perde-se e (re)encontrar-se sempre.
Doloridos, guardamos também amarguras: de nosso não pertencimento, das traições que sofremos, do não reconhecimento do tanto que temos em si. Dessas amarguras guardadas façamos conhecimento: porque toda cicatriz conta uma história e toda história leva uma moral. Há muito o que ser mudado sempre.
Da tua paz, te peço compaixão. Seja benevolente consigo mesmo, consigo mesma. Não é para ser pesado ser você. Quando tudo o mais pesar, seja você seu amor, seja você seu encantamento, seja você seu abraço. Não só porque tudo chega ao fim, mas principalmente porque a sua história é seu maior tesouro. É a sua razão de ser quem você é, é o motivo da sua existência, é a colheita do seu olhar.
E perceber a unicidade de tudo o que te compõe é a sua maior realização. Chega nela para que a vida fique mais interessante. Para que você entenda a real razão de viver-se: para que você exista com esta nova perspectiva: a de ser você. E então absorve tudo o que a vida pode lhe dar.
Todas as suas experiências lhe compõem. Engrandecem-lhe. Fornecem-lhe os dados para a chave do tempo: a expansão interna.
Que a sua alma cresça. Que seu encantamento expanda-se a ponto de você não caber mais em si: pois só quando nos esparramamos da nossa experiência de estar-se vivo é que nossa existência toma um propósito maior que nós: e conseguimos, por sermos exatamente quem somos, tocar outras vidas.
Mas é necessário ser-se.
Abraçar as dores e os amores de tudo o que nos faz.
É necessário identificar o amor e o não amor. E aproximar-se do primeiro e distanciar-se do segundo. E a maior prova do amar é deixar ser. Não há amor na imposição: amar é a quietude do permitir ser. E, sendo, receber o aprendizado que existe no ser que se faz.
Tornarmo-nos quem nascemos para ser é o maior desafio que existe.
Poucos vivem para aprender a ser quem deveriam.
Muitos vivem para ser aquilo que lhes queriam.
Há que encantar-se por seus próprios olhos.
Só assim nasce-se para si mesmo.
E pode-se, então, crescer.
http://www.sapatilhando.com.br/2014/02/o-meu-desejo-para-ti.html
Política
Internet
A anticlimática votação do Marco Civil
Artimanha das teles, implosão do 'blocão” e pressão
social explicam como a lei dos direitos dos internautas passou em
votação simbólica na Câmara após cinco meses de guerra.
Agência Brasil
Na tarde da terça-feira 25, um grupo
de ativistas pró-Marco Civil da Internet esbarrou na Câmara com o
presidente da Casa, Henrique Alves, e ouviu dele: “Podem se preparar
para tomar cerveja hoje, porque nós vamos votar”. À noite, a lei de
proteção dos direitos dos internautas foi aprovada, e os ativistas
correram mesmo para um bar. Algumas tulipas mais tarde, um deles ficou
preocupado ao ler um texto no celular. O sindicato das telefônicas,
SindiTelebrasil, dizia que o projeto aprovado era positivo pois “fica
preservada também a oferta de pacotes diferenciados, como os de acesso
gratuito a redes sociais”. Advogado, um dos ativistas comentou: “É a
disputa de interpretação”.
Essa “disputa de interpretação” ajuda a entender
por que a “Constituição da Internet” foi aprovada pelos deputados numa
tranquila votação simbólica, contra a posição de um único partido, o
PPS, depois de cinco meses de guerra no plenário.
A nota do SindiTelebrasil, entidade que fez lobby
junto a deputados contra o projeto, sugere que de alguma forma as
empresas sentem-se juridicamente respaldas a vender pacotes de conexão à
web elaborados com base no conteúdo (sites, redes sociais) a ser
acessado pelo internauta. Tal disposição jurídica, supõe o ativista
advogado ouvido por CartaCapital, se basearia numa tripla
combinação: os termos usados no texto escrito pelos deputados, nos
termos esperados de um futuro decreto presidencial a regulamentar a lei e
na capacidade dos advogados das teles.
Se tudo isso se confirmar, seria uma burla ao
princípio da “neutralidade”, um dos pilares do projeto. Autor da
proposta do Marco Civil, o governo não aceita que os provedores de
conexão vendam pacotes que se diferenciem pelo conteúdo. Só admite
diferenciação por velocidade, como já ocorre hoje em dia sem uma
legislação específica. Sem a neutralidade, haveria risco de censura
econômica e competição desleal. Por exemplo: um site poderoso
financeiramente poderia pagar um provedor de conexão para facilitar a
visita a este site e para prejudicar o acesso à concorrência.
“Discriminar conteúdo não pode, o acordo com as teles não é esse”, diz
um negociador do governo.
O citado acordo do governo com as teles, selado
no Ministério da Justiça alguns dias antes da votação desta terça-feira
25, buscava deixar claro que o Marco Civil não proibiria a venda de
pacotes com velocidades diferentes, como ocorre hoje. Na reunião, o
SindiTelebrasil comprometeu-se a divulgar uma nota pública manifestando
apoio ao Marco Civil. A nota nunca foi divulgada.
A interlocução direta do governo com as empresas
na reta final do Marco Civil teve também um outro combustível
importante: tentar afastá-las do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha.
O deputado foi um firme aliado das teles contra a neutralidade e um dos
responsáveis pelo projeto ter bloqueado todas as votações no plenário
da Câmara desde o fim de outubro do ano passado.
Quando o Marco Civil estava para bloquear a pauta
da Câmara, Cunha deu uma demonstração clara de compromisso com o setor.
No mesmo mês de outubro do ano passado, na condição de relator de uma
lei que alterou as regras eleitorais, ele defendeu que fossem
autorizadas as doações para campanhas políticas feitas por empresas
controladas pelas telefônicas.
A lei 9.504, que estabelece as regras dos
financiamentos privados nas eleições, proíbe empresas concessionárias de
serviço público de contribuírem com campanhas. As teles caem nesta
restrição, pois são concessionárias. O projeto relatado por Cunha tinha
sido aprovado no Senado. No texto, os senadores tinham aberto uma brecha
para as doações das teles, caso fossem feitas por via indireta, como
empresas controladas. No parecer que apresentou no plenário da Câmara
para votação pelos deputados, Cunha defendeu a brecha. Na hora da
votação, desistiu da ideia.
Na hora da votação do Marco Civil, Cunha também
recuou. Declarou-se a favor do projeto, apesar de algumas críticas. Seu
poder de barganha caiu com a implosão do “blocão” que ele havia montado
com alguns partidos governistas e oposicionistas contra o Palácio do
Planalto. A conclusão da reforma ministerial por Dilma Rousseff animou
alguns descontentes e implodiu o blocão, outro motivos a explicar a
tranquila votação da lei pró-internautas.
Não houve emoção nem um tema específico que
despontara nos últimos dias como uma divergência potencial. Em uma
reunião de líderes partidários com dois ministros do governo na
terça-feira 18, contestou-se um dispositivo que impede que se retire da
web uma notícia ou informação que leve uma pessoa a se declarar
ofendida. Definido no artigo 20, o dispositivo diz que a exclusão de
conteúdo depende da Justiça. Sem isso, explicou o relator do projeto,
Alessandro Molon, do PT do Rio, haveria censura. Bastaria que o suposto
ofendido fosse financeira ou politicamente poderoso, que o conteúdo
sairia do ar com uma mera notificação.
A contestação do dispositivo na reunião do dia 19
partiu do deputado Domingos Sávio, líder da bancada oposicionista na
Câmara. Sávio é do PSDB de Minas, como o senador Aécio Neves,
pré-candidato à Presidência. O senador tenta impedir na Justiça que
sites como Google e Facebook difundam informações que o relacionem a
desvio de verbas da saúde como governador de Minas e ao uso de
entorpecentes.
Na reunião, Sávio argumentou que todos os
parlamentares, inclusive os ali presentes, estavam expostos à difamação.
Eduardo Cunha apoiou a argumentação e defendeu que o dispositivo fosse
excluído. Quando a apreciação do Marco Civil começou no plenário da
Câmara nesta terça-feira 25, havia a expectativa de que o dispositivo
fosse ter uma votação específica. Mas isso não aconteceu. Nos bastidores
da Câmara, o que se diz é que nenhum partido ou parlamentar teve
coragem de expor-se publicamente à acusação de censor.
Uma última razão ajuda a explicar o clima
tranquilo na aprovação do Marco Civil. Ativistas de entidades com a
Avaaz, plataforma online de petições, e Intervozes, que defende a
democratização dos meios de comunicação, fizeram intensa pressão sobre
os deputados, inclusive com ações a constrangê-los em suas bases
eleitorais.
A Avaaz pagou propagandas no Facebook a mostrar o
nome e o rosto dos parlamentares que eram contra o projeto. Tais
propagandas foram direcionadas a atingir cirurgicamente o estado peli
qual o deputado em questão se elege. Um dos atingidos foi o líder do
PSDB, Antônio Imbassahy, da Bahia. Pouco antes da votação, Imbassahy
cruzou com militantes da Avaaz, que queriam convencê-lo a apoiar a lei.
Irritado com a propaganda, recusou-se a atender o pedido: “Eu não falo
com a Avaaz”.
A dupla Avaaz-Intervozes também fez circular
entre os deputados e na internet os depoimentos de figuras ilustres a
defender o Marco Civil e a neutralidade, como o ator Wagner Moura, o
cantor e ex-ministro Gilberto Gil, o humorista Gregorio Duvivier, o
filósofo francês Pierry Levi e o “pai da web”, Tim Berners-Lee.
Aprovado na Câmara, o projeto foi enviado ao
Senado, onde o governo espera uma votação rápida. O obejtivo do Palácio
do Planalto é ter a lei aprovada em definitivo a tempo de exibi-la em
uma conferência global sobre internet que acontecerá em São Paulo entre
os dias 23 e 24 de abril. O Planalto espera que o Marco Civil se torne
uma referência mundial no assunto.
Gwyneth Paltrow's “Conscious Uncoupling” From Chris Martin Sounds So Lovely. Can I Have One?
Ever since Gwyneth Paltrow became famous in her early 20s, she has
made women feel bad about themselves. As Gwyneth’s former high school
classmate told a New York magazine reporter in the mid-'90s,
“Even people who don’t know Gwyneth measure themselves against her
success. … Gwyneth makes us feel extremely lame.” And so it was Tuesday,
when Paltrow and her husband, Chris Martin, announced their split in
the most Gwyneth way possible by telling the world about their
separation in her lifestyle newsletter Goop,
with a personal note and an accompanying expert essay about something
called “conscious uncoupling.” Because Gwyneth does not break up like
the rest of us.
The gist of the essay—by Habib Sadeghi and Sherry Sami, doctors who
integrate Eastern and Western medicine—is that the institution of
marriage hasn’t evolved along with our longer life spans. Divorce
doesn’t mean your relationship wasn’t successful, they say. It just
means that this particular relationship has come to its conclusion; you
may have two or three of these successful relationships in a lifetime.
Instead of a typical, rancorous, regular-person separation, you just
need to have a “conscious uncoupling.” You need to be spiritually
“present” and recognize that partners in intimate relationships are our
“teachers.” You need to “cultivate” your “feminine energy” to salve any
wounds.
Underneath that psychobabble is the message that goes along with all
Goop productions: Even Gwyneth’s separation is better than yours. The
announcement of the split is accompanied by a gorgeous photograph of the
supremely actualized couple lounging in the grass. After the news
broke, a friend of mine texted, “Honestly it made me want to get
divorced! And I am not even married.”
New-agey as it all sounds, Gwyneth’s sun-dappled breakup announcement
is just the same tired keeping up appearances that wives and mothers
have long been expected to do. Certainly for the sake of their children,
it makes sense for Paltrow to refrain from bashing her husband in
public. But there is no admission of pain (besides a nod to “hearts full
of sadness”) or any other emotion that might be messy, inconvenient, or
real.
I was thinking about Gwyneth when I read an article in Bethesda Magazine about another “super mom,” a woman named Melissa “Missy” Lesmes.
She’s a partner in a big-name Washington law firm, a “party maven,” and
mom of four children ages 11 to 18, one of whom has Down syndrome.
She’s pretty, blond, and fit. She wakes up every morning at 5:30 a.m.
and doesn’t go to sleep until midnight or later. She wears makeup when
she’s working out.
Just as Gwyneth presents herself as an ideal to strive for, Lesmes is
also offered as something of a model woman. Their stories are meant to
make mere mortals feel inadequate, but I finally had the opposite
reaction reading about Paltrow and Lesmes in the span of an afternoon.
Both of their lives sound like a nightmare to me. Paltrow’s because she
has to behave outwardly as if everything is glossy and perfect all the
time lest she ruin her “brand.” Lesmes because she doesn’t get any
sleep, and because while she buzzes around being übermom, her husband
“lounges on the couch at the end of the great room, watching the day’s
tennis matches at Wimbledon on a huge, flat-screen TV.”
Granted, these are all just images of people, whose internal selves
and real-life relationships we don’t really know anything about. But as
aspirational idols go, can’t we do better? It’s time to evolve past the
2014 versions of Betty Draper that continue to clog up our media space.
Jessica Grose is a frequent Slate contributor and the author of the novel Sad Desk Salad. Follow her on Twitter.
http://www.slate.com/blogs/xx_factor/2014/03/26/gwyneth_paltrow_and_chris_martin_s_conscious_uncoupling_much_better_than.html
Música
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Entrevista: Luiz Ruffato fala sobre polêmico discurso e rebate críticas
Mineiro de Cataguases conta sobre as repercussões da fala na abertura do evento
"Esse discurso serviu para
mostrar quem pensa como eu, quem pensa diferente de mim, e respeito, e
quem pensa diferente de mim e não respeito, aquelas pessoas que me
agridem. Dessas não quero saber"
Frankfurt (Alemanha) – Inicialmente, o “astro” brasileiro na Feira do Livro de Frankfurt – que homenageia o Brasil e será encerrada hoje – seria Paulo Coelho, que cancelou sua participação com críticas aos critérios de seleção de autores adotados pelo governo federal. Mas um mineiro de Cataguases, na Zona da Mata, acabou roubando a cena: Luiz Ruffato, em seu discurso contundente na abertura do evento, realizada na terça-feira. O autor de Eles eram muitos cavalos afirmou que o Brasil nasceu sob o genocídio, disse que estupros foram a base da democracia racial brasileira e destacou que impunidade e intolerância são regras no país. “Não queria me transformar na ‘vedete’ do evento dessa maneira, mas virei, de forma involuntária. A última coisa que queria é todo esse constrangimento. E o constrangimento era meu: de ter de falar, aqui na Alemanha, que o meu país tem todos esses problemas. Não é bom, não é agradável. Mas, enfim...”, afirmou ele em entrevista concedida na Estação Central de Frankfurt. Nada mais mineiro do que a conversa entre trens e um cafezinho num lugar em que Ruffato é apenas mais um dos milhares de transeuntes. A poucos metros dali, no espaço equivalente a 14 campos de futebol, está o pavilhão brasileiro da feira, o maior evento do mercado editorial do mundo. Depois de seu polêmico discurso, o escritor até evitou aparecer por lá. Na Alemanha desde o começo do mês, Ruffato tem agenda intensa: 62 eventos em 15 cidades. “É bacana esse reconhecimento aqui. Tenho livros traduzidos para o alemão e isso ajudou a me a dar alguma visibilidade. Sou mais divulgado aqui do que no Brasil”, afirma.
Você esperava toda essa reação a seu discurso?
Evidentemente, esperava que o discurso fosse provocar reações. Mas não que provocasse reações, digamos assim, pessoais. Isso para mim é realmente desagradável. Teve gente que falou que eu deveria ir embora do país, outros disseram que só mesmo o filho de uma lavadeira e de um pipoqueiro para falar uma bobagem dessas. Até a TFP (Tradição, Família e Propriedade) soltou aqui nota, em alemão, muito agressiva, falando que sou comunista, que estou incentivando a luta de classes. Como se tivesse de incentivar alguma coisa. Enfim, acho que, de certa maneira, infelizmente, tanto a esquerda quanto a direita estão desfavoráveis a mim.
Mas tem muita gente a favor também.
Sim. A maioria está a favor. Aqui na Alemanha, da parte dos alemães, tive total apoio. Dos meus colegas escritores, a maioria me apoia, mas sempre há os que não apoiam.
E essa história de que você chegou a ser agredido?
Não me agrediram, mas tentaram. Pessoas comuns. Brasileiros que estão aqui na feira e vieram me abordar de maneira extremamente agressiva. Não sabem a diferença entre Estado e governo. Falaram que eu estava falando mal do governo e fui pago pelo governo. Não fui pago pelo governo, mas pelo Estado. Se o governo tivesse me pagado, claro que não poderia falar mal. Esse espírito brasileiro de defender: ah, roupa suja lava-se em casa. Sim, lava em casa. Exatamente por isso somos o oitavo país em que as mulheres mais apanham no mundo.
Quando você escreveu esse discurso, imaginava que ele provocaria algum efeito de certa maneira? Ainda mais num evento cheio de holofotes.
Olha, falo isso há 10 anos no Brasil. Os meus livros falam isso. Mas como li o discurso fora do Brasil, na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, acabou tendo maior repercussão. Não falei mal do Brasil. Se alguém falar mal do Brasil perto de mim, brigo. Só dei um retrato não hipócrita do que é o nosso país.
Você não tem sido visto no pavilhão brasileiro da feira depois de toda essa história. Há até uma piada de bastidores dizendo que você se escondeu num bunker (abrigo subterrâneo antinuclear) para evitar esse assédio. Você evitou ir lá?
Tenho ido à feira, aos outros pavilhões, mas tenho evitado ir ao do Brasil para não criar constrangimentos ou algum tipo de problema. Mas, sabe, não entendo esses ataques pessoais. De minha parte não houve nenhum ataque a ninguém e a governo algum. E as reações boas foram muito boas. Mas as ruins também foram muito ruins.
Como você elaborou o discurso?
Esse discurso ampliado foi publicado num jornal suíço, de Zurique, dos três jornais mais importantes em língua alemã, o Neue Zürcher. É um artigo imenso, de quase duas páginas, escrito no começo do ano a pedido do jornal. Naquela época, nem sabia que faria esse discurso. Não havia sido convidado ainda. O editor me encomendou um ensaio sobre São Paulo. Depois, ele pediu para transformá-lo num ensaio sobre o Brasil. Nesse meio-tempo, surgiu o convite para abrir a feira. Então, percebi que o discurso que queria fazer estava ali naquele artigo. O que fiz foi pegar uma parte dele, reescrever, juntar algumas estatísticas mais atualizadas. Na verdade, ele foi publicado no sábado anterior à abertura da feira.
Você não ficou constrangido de fazer esse discurso ao lado do vice-presidente da República, Michel Temer, e da ministra da Cultura, Marta Suplicy?
De jeito nenhum. Até porque não estava criticando o governo. Muito pelo contrário, até defendo o governo. Tanto que em vários momentos cito os avanços registrados ao longo dos anos. Por isso, não poderia me sentir constrangido. E mesmo que estivesse criticando o governo, não teria problema algum. O meu papel é esse. O meu dever é esse.
Estamos vivendo uma certa regressão? Tudo está politicamente correto demais?
Estamos vivendo um momento muito curioso. É um momento importante em que, até por razões alheias à nossa vontade, as coisas estão ficando mais escancaradas. Nós, no Brasil, temos essa mania de ser hipócritas e ficar de nhe-nhe-nhem: todo mundo é bonitinho, e a gente nunca sabe exatamente com quem está falando. No meu caso, esse discurso serviu para mostrar quem pensa como eu, quem pensa diferente de mim, e respeito, e quem pensa diferente de mim e não respeito, aquelas pessoas que me agridem. Dessas não quero saber. Mas com quem pensa diferente de mim, e respeito, quero debater. Nesse sentido, foi importante tudo isso que aconteceu comigo.
Você soube que o Ziraldo passou mal.
Alguém me falou. E ainda teve uma pessoa maldosa que insinuou que ele tinha passado mal por minha culpa. Fiquei horrorizado com isso, nem o conheço pessoalmente. No dia do discurso, alguns autores ficaram berrando, mandando-me ir embora, mas nem ouvi direito. Naquele dia estava tão nervoso, tão ansioso, que nem as palmas cheguei a ouvir. Mas tive cinco minutos de aplausos. No auditório, eram umas duas mil pessoas. Tanto os brasileiros quanto os alemães me aplaudiram. (NR Depois do discurso de Luiz Ruffatto, Ziraldo mandou o colega calar a boca, gritando que se ele estava tão insatisfeito deveria se mudar do Brasil).
E como o discurso repercutiu em sua terra, Cataguases? Alguém ligou para você?
Que nada. Em Cataguases, não sou nada (risos). Certamente, não tenho nenhuma dúvida de que é mais fácil ganhar o título de cidadão honorário de Hofheim, aqui na Alemanha, do que o de Cataguases, por exemplo. Isso porque sou filho da lavadeira e do pipoqueiro. Não sou filho da burguesia de Cataguases. Vou muito pouco à cidade, agora só tenho uma irmã morando lá. Nunca recebi um muito obrigado por falar da cidade. A ponte de Cataguases, inclusive, estampa as capas dos meus livros.
*A repórter viajou a convite do Governo de Minas
Imagem desconstruída
“A participação brasileira destruiu a imagem que se fazia aqui na Alemanha de um país colorido no qual ninguém trabalha, que é como 90% dos alemães viam o Brasil”, afirmou ontem Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, que homenageou o Brasil, em referência ao discurso polêmico do escritor Luiz Ruffato na abertura da feira. Boos reforçou: “A variedade de discursos mostra como o Brasil é uma sociedade dinâmica, que reinventa a si própria. A abertura foi extraordinária: muito literária e muito política”. Ontem, foi a foi a vez de o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro falar no evento, sem poupar críticas. Chamou os políticos de “população desordeira e parasitária” e Brasília de “um monumento a ideologias passadas” , arrancando aplausos. A boa notícia ficou por conta do cartunista Ziraldo, que completa 81 anos no dia 24. Ele recebeu alta do hospital em que estava internado na Alemanha, onde passou por um cateterismo de emergência.
http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2013/10/13/noticia_arte_e_livros,147370/entrevista-luiz-ruffato-fala-sobre-polemico-discurso-e-rebate-criticas.shtml
'Golpe de 64 tornou-se inevitável', diz Serra
Guilherme Balza*
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Arte/UOL
Como presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Serra tinha trânsito com Jango e outros líderes da esquerda agrupados na FMP (Frente de Mobilização Popular). O tucano, que se exilou no Chile, onde testemunhou a deposição violenta do socialista Salvador Allende, relatará o que presenciou naqueles dias tumultuados de 1964 em livro a ser lançado em junho deste ano.
A direita, a esquerda e o golpe, segundo José Serra - 13 vídeos
Veja abaixo a entrevista.
Golpe "inevitável"
Teria [saída ao golpe] em outro contexto, mas eu acho que naquele momento o Jango não tinha apoio do lado da esquerda, que era contra um entendimento, e do lado da direita, onde houve a grande mobilização golpista porque eles queriam era tirar o Jango, não queriam negociação nenhuma em torno da manutenção da democracia. Jango não tinha apoio nem de um lado, nem de outro para um processo de entendimento.A partir de um certo momento o golpe tornou-se inevitável. Que houve momentos que se poderia ter negociado, feito um governo para valer, houve, mas o processo não caminhou para isso. Não sou a favor da tese que diz que com a desorganização econômica tinha que ter acontecido o golpe. Não necessariamente. O Brasil viveu períodos, por exemplo no governo [José] Sarney (1985-89), com superinflação, com economia se desfazendo, e nem por isso a solução foi autoritária.
Depoimentos
Jango "sabia que iria cair"
Tenho para mim que ele [Jango] sabia que iria cair naqueles dias. É como se tivesse isso já na cabeça, programado. [Ele] não [estava] provocando, mas já sabia que iria acontecer. É a única explicação que encontro para as atitudes dele no final do período que de fato acabaram favorecendo o golpe, a mobilização das forças militares para o golpe. Mesmo aqueles que eram mais legalistas, que eram mais de centro, na última hora também foram para o outro lado em razão de sinais que o próprio Presidente da República deu."País estava sem programa"
Na vida pública todo mundo comete erros. Mas a questão básica é que ele [Jango] não foi capaz de comandar o processo no Brasil a partir da renúncia do Jânio Quadros. Isso também foi em boa medida consequência da tentativa da direita de impedir que ele assumisse a Presidência. O acordo que houve, para que os militares permitissem que o Jango tomasse posse, foi o parlamentarismo. Mas o que houve depois? Ele [Jango] ficou lutando, durante um ano e meio, para derrubar o parlamentarismo. Essa passou a ser a grande meta do governo. Depois que assumiu a presidência, isso já em 1963, ganhou no plebiscito, voltou o presidencialismo, mas aí a situação econômica era realmente muito ruim e tudo materializado no caso da inflação, que era muito alta.Ele fez um gabinete presidencialista, o primeiro, que era muito bom, mas caiu em meses. Foi aí que ele colocou o Carvalho Pinto como ministro da Fazenda, mas sempre o governo atrás dos acontecimentos, e a situação se deteriorando. E aí ele passou a dizer que sem reformas o país não teria conserto. Mas boa parte delas não tinha a ver com a situação que se vivia. Você permitir ao analfabeto votar, dar direito de voto a cabos, soldados, sargentos, mesmo medidas corretas com relação a universidades, não apontavam para uma solução da crise em si. Nem a reforma agrária, que é uma medida de médio e longo prazo, que tem a ver com a distribuição de patrimônio e renda, não é algo para resolver uma inflação galopante. Então, o país estava sem programa.
Saída estratégica
Ele efetivamente se jogou mais pelo lado que a esquerda queria. Se você olhar a posteriori, é como se fosse uma trajetória que levaria necessariamente ao golpe, que ele seria derrubado. O que o Jango poderia ter em mente? É uma hipótese. Era ser deposto, voltar a São Borja (RS) e entrar para a história como o presidente das reformas, que eram sempre coisas bem vistas pela população. A partir daí, viraria uma legenda e poderia ser chamado de volta algum dia. Não se daria um tiro como se deu o Getúlio, mas poderia voltar como um homem que marcou a vida brasileira naquele período até para o comando do país. Isso não era algo alheio ao que o Jango poderia ter na cabeça.Direita e esquerda subestimavam a democracia
Se você olhar antes de 1964, a direita subestimava a democracia, queria era o poder e implantar o seu modelo não pelo voto. Agora, na esquerda também se subestimava a democracia. Dizia-se: "não dá para ter democracia se a barriga está vazia". Era até uma música do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE. Na verdade, se deveria dizer: "precisamos de democracia porque a barriga está vazia". O básico é a democracia, são as liberdades civis, as liberdades de opinião, que, aliás, no Brasil existiu amplamente antes do golpe de 64 e também no Chile do Allende. Não houve transgressão nesse sentido, coisa que a direita sempre procurou mistificar.Direita preparou o golpe
O pessoal que derrubou o Getúlio, que era ditador, em 1945, parte era UDN (União Democrática Nacional, partido de direita). Em 1950, o Getúlio voltou e foi eleito. Queriam impedir a posse, mas ele tomou posse. Teve problemas e se suicidou em 54 para não deixar o governo. Assumiu o vice dele, que iria levar o país para o rumo que esse pessoal, a chamada direita, queria. E o Juscelino [Kubistchek], que era do PSD, mas tinha relações com o getulismo, ganhou a eleição. Iam dar um golpe para o Juscelino não assumir, daí o ministro da Guerra de então, o marechal Henrique Teixeira Lott, depôs o vice-presidente Café Filho (...) e garantiu a posse de Juscelino.Houve duas tentativas de quartelada militar ao longo do governo de Juscelino. E o candidato do Juscelino, que era o próprio Lott, perdeu a eleição. Ganhou o Jânio, que era oposição ao esquema prevalecente, do PSD do Juscelino e do PTB também. Jânio ganhou, dali sete meses renuncia, e não querem deixar o Jango tomar posse. Ou seja, a direita foi sendo frustrada e se preparando realmente para um golpe de maior profundidade. Daí as cassações de direitos políticos de dez anos, cassações de intelectuais, de técnicos, para baní-los da vida pública. Eles queriam erradicar tudo que pudesse ser nacional, desenvolvimentismo, populismo, da vida pública. Nesse sentido, trabalharam para ser uma coisa mais definitiva, não passageira.
Saiba mais
Dois golpes: Brasil e Chile
O golpe do Chile foi muito mais violento, já de cara, e muito mais profundo, porque também as mudanças que estavam acontecendo no Chile eram mais profundas. O presidente Salvador Allende encabeçava uma coalizão de partidos, a Unidade Popular, que queria fazer o socialismo de verdade. Desapropriou 500 grandes indústrias, todo o sistema financeiro e o comércio exterior foram praticamente estatizados. Radicalizou a reforma agrária, mas naufragou na política econômica de curto prazo. De novo, a inflação, e o desabastecimento, inclusive, porque tinha controle de preços. Uma situação desesperadora. No terceiro ano [de governo], ele [Allende] foi derrubado pelos militares que já entraram assassinando. Foi uma coisa muito violenta.Não era realmente o mesmo fenômeno [que a ditadura brasileira]. Havia, claro, Guerra Fria, apoio americano, mas o processo chileno foi muito mais radicalizado. Aqui a orientação do Jango não era socialista, nem mesmo a esquerda, boa parte dela, pregava o socialismo, a estatização dos meios de produção, a nacionalização de tudo, não era assim, era mais um programa nacional-desenvolvimentista.
Papel dos EUA
No caso brasileiro, eles puseram dinheiro, Na campanha eleitoral de 1962, eles puseram US$ 6 milhões na época, isso deve dar em dólares de hoje uns US$ 45 milhões. Eles financiavam o Idab (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e organizações civis para fazer campanhas contra o comunismo, contra a "república sindicalista". Era estratégia para assustar a classe média. E foram simpáticos ao golpe. Agora, eu não diria a vocês que foram decisivos. Nem no caso brasileiro, nem no Chile. Não há golpe dessa proporção feito de fora. O que o de fora faz é ajudar. No caso chileno, a interferência foi muito maior. Mas, de fato, o fator decisivo foi a desorganização da economia, do abastecimento, mercado negro e tudo mais.Medo da luta armada era "fictício"
Não havia ameaça de luta armada no Brasil por parte da esquerda. Isso é fictício. Vendeu-se essa mercadoria antes do golpe para poder se mobilizar para o golpe. Até 64 não tinha nada disso (...) Não havia nenhuma preparação armada. Outra coisa era a retórica. Assustar, dar a ideia de que tinha. Mas na prática não tinha mobilização armada nenhuma. (...) Isso é um mito que se criou. Houve um começo de luta armada depois do golpe. Até 1964 não tinha tido nada.Militares começaram a violência
[A luta armada pós-golpe] era meio inevitável, o que não significa que tenha sido a melhor estratégia, mas quando se fecha vias democráticas, a luta política se torna muito mais difícil (...) Mas quem começou a violência no Brasil, de fato, foi quem deu o golpe. A violência das cassações, da perseguição, o que não significa que a reação [armada] tenha sido a melhor, que acabou sendo muito custosa do ponto de vista de vidas e até para justificar um endurecimento maior [do regime].Heranças da ditadura
Eles entregaram a economia com uma inflação de 200% ao ano, com o país praticamente inadimplente, quebrado, do ponto de vista do balanço de pagamentos e com superinflação. Foi uma herança muito ruim. Diziam: "o regime autoritário é bom por causa da racionalidade econômica". Isso foi uma coisa que sempre combati. O legado da ditadura significou para o país um preço altíssimo a ser pago.Outra [herança], que é menos perceptível, mas que teve um peso imenso, foi o sacrifício de uma ou duas gerações. A minha geração, que tinha 20 anos na época do golpe, foi sacrificada pela perseguição, pela coação, e alguns que mergulharam na luta da oposição até com o sacrifício da vida. A política passou a atrair menos. Os melhores quadros, que potencialmente seriam líderes políticos, se afastaram da política. Isso se estendeu pelos anos 60 e 70. Criou-se um vazio no Brasil. Foram duas gerações desperdiçadas, o que se projetou num declínio da qualidade da chamada classe política.
Anistia e Comissão da Verdade
Querer revogar a Lei da Anistia é uma batalha que não vai dar certo. Isso não vai passar pelo Supremo. Na Argentina houve alguma coisa e até no Chile chegou a acontecer. Por exemplo, no Chile, os assassinos do [músico] Victor Jara foram julgados e condenados em 2012, ou seja, 40 anos depois da morte. No caso brasileiro, você tem dez anos a mais que o Chile. Acho que o grande trabalho da Comissão da Verdade é mostrar quem foram os responsáveis, é ter o reconhecimento, a explicitação disso. É a maior conquista que nós poderíamos ter até para cicatrizar. Porque o fato é o seguinte: passados 50 anos, o golpe ainda é uma questão mal resolvida. Hoje, 1964 é atual.Retorno do conservadorismo
Restaurar a Marcha da Família é uma piada. Parece uma coisa exótica, nada a ver. É normal numa democracia ter setores mais à esquerda, setores mais conservadores, eu acho que a gente tem que conceber isso dentro do processo democrático, contanto que se defenda as regras do jogo democrático. Você ter um bom pensamento conservador, ajuda. Só que tem uma dificuldade no Brasil que é a seguinte: aqui, a chamada direita, sempre foi populista, gastadora. O Brasil nunca teve uma Margaret Thatcher [ex-premiê do Reino Unido], um Ronald Reagan [ex-presidente dos EUA]. O pessoal quando pega, bota para quebrar os cofres públicos.*Produção: Noelle Marques
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/03/27/golpe-de-64-tornou-se-inevitavel-diz-serra.htm
Invasão da UFSC não tem nada a ver com maconha
26 03 2014
Quando tomei conhecimento da
invasão da Universidade Federal de Santa Catarina, ontem, 25 de março,
por policiais federais não identificados, já imaginei o teor das
notícias da mídia no dia seguinte tentando dividir os atores em os que
são a favor da maconha e os contra. Afinal, uma das formas mais comuns
de manipular informações é desviar o foco do principal para uma falsa
polêmica e esta mídia é a mesma que apoiou o golpe militar em 64. Vamos
reler os fatos.
Em primeiro lugar os
policiais que iniciaram a ação, não se identificaram como tal, tampouco
tinham ordem judicial para prender gente. Sem se identificar, não estão
efetuando uma prisão, estão realizando sequestro exatamente como os que
são lembrados às vésperas do aniversário de 50 anos da ditadura militar.
Nem o carro em que chegaram era identificado. São práticas típicas da
polícia política da ditadura. Como saber se o estudante estava sendo
preso ou sequestrado? Quem sabe até por narcotraficantes? Além do mais
qualquer operação policial dentro de uma Universidade Federal deve ser
comunicada à Reitoria antes e negociada de comum acordo. Ninguém pode
invadir uma Universidade e sequestrar estudantes. Isto acontecia,
repito, na ditadura quando tínhamos um Estado sem leis e os direitos
individuais estavam suspensos.
E também vamos parar com o
moralismo de tratar maconha como se fosse pior que drogas legais, tipo
cigarro, que mata e ninguém se importa. É que o tabaco enche os cofres
de multinacionais que o exploram diretamente e da indústria de
medicamentos e equipamentos médicos usados para tratar da epidemia de
câncer provocada por esta droga.
Polícia que não se
identifica está agindo como bandido, fora da lei, e foi tratada como
bandido pelos estudantes até descobrirem do que se tratava. Ouvi o tal
delegado no rádio dizendo-se ofendido pela nota da Reitoria que repudia a
invasão, chamando a reitora de irresponsável e acusando-a de querer
transformar a UFSC numa “república de maconheiros”. Disse quase a mesma
coisa no Jornal Nacional (Está ficando famoso). Exatamente o mesmo
discurso da imprensa comercial. Aqui vale uma observação. O Delegado
Cassiano é muito jovem, deve ter passado nesses últimos concursos que
são disputados por uma nova categoria chamada de concurseiros. Nada
posso afirmar do delegado pois não o conheço. Mas conheço muitos
outros. Estas pessoas são na maioria jovens que, tão logo recebem o
diploma, se ocupam unicamente de estudar e viajar pelo Brasil fazendo
concursos, em geral, às expensas da família já que, para tanta
atividade, não é possível trabalhar. Um dia são aprovados e passam a ser
um juiz, um procurador, um delegado, investidos de autoridade de Estado
sem que tenham experimentado a vida real. Muitos desses conhecem o
mundo pelas páginas da Veja, assinada pelos pais. Espera-se que o
Ministro da Justiça e o Ministério Público Federal abram inquérito e
processem este delegado por desacato e total despreparo emocional para o
exercício da função. A Polícia Federal há muito tempo é um órgão sério
empenhado como poucos no combate à corrupção e aos crimes de colarinho
branco e não merece ser julgada por atos despropositados e
preconceituosos como este. Irresponsável ao extremo é o delegado que
mandou lançar gás lacrimogênio e outros artefatos do gênero contra
estudantes desarmados na hora da saída das crianças do Colégio Aplicação
e outras duas escolas infantis existentes no local onde se deu o triste
episódio. Li no jornal que o delegado está substituindo o
superintendente – presumivelmente em férias. Dá a impressão de que
aproveitou a ausência do titular e da momentânea investidura no Poder
para buscar seu minuto de fama armando uma operação espetacular. Para
que? Para capturar os donos do tráfico? Não. Para vasculhar Jurerê
Internacional onde foram presos magnatas do tráfico há pouco tempo pela
própria Polícia Federal? Não. Para pegar os traficantes que abastecem de
crack os morros de Florianópolis? Também não. A operação desastrosa
tinha por objetivo pegar “perigosos” estudantes de Ciências Humanas que
fumavam um baseado sem colocar em risco a vida de ninguém! Para isso o
delegado foi responsável pela invasão de um campus universitário, cheio
de jovens estudantes, por soldados armados da Polícia de Choque! Ainda
bem que os estudantes também estavam armados com suas câmeras. O vídeo
abaixo mostra o poder de fogo de uma lente afiada.
A Polícia Federal não tinha
nada mais importante para fazer? A sociedade brasileira espera muito
mais dessa instituição. Espera que prenda os óbvios donos da droga
apreendida no helicóptero dos Perrela. Espera uma operação para
desvendar os casos de corrupção ambiental que saltam aos olhos de
qualquer cidadão de Florianópolis. Espera que prenda o Presidente da
Assembléia Legislativa de SC, envolvido em crimes de colarinho branco.
Ocorre que criminosos grandes são sempre protegidos pela mídia e
tratados como vítimas quando investigados. Lembram do banqueiro Daniel
Dantas que preso por corrupção, com mandado judicial, tentou subornar o
Delegado Federal? Para a mídia o banqueiro foi vítima e o delegado
bandido. Talvez o estudante sequestrado, por portar alguns cigarros de
maconha, seja a chave para desbaratar uma quadrilha internacional de
tráfico de drogas! Uau! Não sejam ridículos. Todos sabem que um mero
usuário final compra a droga na esquina e jamais vai levar aos magnatas
do tráfico, simplesmente porque não tem a menor ideia de quem sejam.
Quem tem obrigação de saber é a polícia e para tanto deve fazer como faz
com a corrupção, planejando e executando por anos operações de
inteligência conjuntamente com o Ministério Público e a Justiça Federal,
tudo dentro da lei. A Polícia Federal sabe fazer isto muito bem. O
Delegado Cassiano, no entanto não tinha nenhum interesse em combater o
tráfico na raiz como deveria ser sua atribuição. Se tivesse esta
intenção, o último lugar provável para encontrar alguma conexão seria a
Universidade. Ele atuou com abuso de poder, que é crime, pois não tinha
mandado para invadir uma universidade federal. Atuou aparentemente para
atender interesse particular e não público (fama momentânea e espaço na
mídia, sabe-se lá com que outras intenções) o que pode configurar, se
apurado, crime de prevaricação. Efetuou prisão de forma clandestina pois
não se identificou como polícia, o que também é crime. Somente quando a
confusão foi formada os policiais se apresentaram como tal, de acordo
com todos os depoimentos de professores e estudantes que presenciaram o
fato.
O delegado, que talvez se
sentisse melhor trabalhando no DOI-CODI do regime golpista, realizou uma
“operação” pirotécnica ilegal em conluio com a Polícia de Choque que
evidentemente estava a par e a postos para o assalto e operações dessa
natureza não se realizam sem preparação logística prévia. O governador,
que comanda a polícia militar, está devendo explicações embora a
autointitulada “imprensa profissional” tenha esquecido de fazer esta
ligação, colocando como centro do problema não os atos abusivos do
delegado e da polícia, mas reduzindo-a a uma simples questão de ser a
favor ou contra a maconha. Uma das formas mais comuns de manipulação da
informação pela imprensa comercial é desviar o foco da atenção do
principal para um problema secundário de ordem moral sobre o qual as
pessoas já tem opinião formada. Dessa forma o debate fica resumido a uma
briga de torcidas de times de futebol na qual ninguém vai abrir mão do
seu time. Enquanto isso, o que deveria ser debatido, fica fora da pauta.
Por fim uma última
observação. Não deixa de ser curioso que o delegado tenha escolhido para
sua operação ilegal justamente o momento em que os saudosos da ditadura
se assanham, incentivados por Veja, Rede Globo e outros veículos de
comunicação que apoiaram o golpe militar. Assistimos há alguns dias até
mesmo a tentativa de realização de uma patética marcha, com cartazes
pedindo expressamente a volta da ditadura. A ação isolada deste delegado
despreparado deve ser veementemente repudiada por toda a sociedade
catarinense e principalmente pelos seus próprios colegas que tem
prestado, via de regra, excelentes serviços ao país.
Quando você, que está lendo
este texto, se posicionar sobre a invasão da UFSC, preocupe-se em dizer
se é a favor ou contra uma polícia que age fora da lei e dos limites
impostos ao Estado pela Constituição, para proteger os cidadãos. Esta é a
questão principal deste debate. Os cinco cigarros de maconha só estão
ai para desviar sua atenção. Não fique chapado com as interpretações da
“imprensa profissional”. Ela é muito mais poderosa que a maconha para
confundir sua percepção da realidade.
Inúmeras manifestações
contra a ditadura estão sendo organizadas em todo o país. Elas tem por
objetivo repudiar qualquer tentativa de assaltar o poder para atender
interesses particulares de pessoas ou grupos minoritários. As que vão
ocorrer em Florianópolis são a melhor oportunidade que temos para dizer
não ao autoritarismo e repudiarmos qualquer forma de ataque à
democracia, como o que ocorreu na UFSC. Muita gente prefere que fiquemos
discutindo a maconha em vez de lembrarmos nosso passado para evitar que
ele volte. Que nos encontremos todos na rua, dia primeiro de abril às
17 horas.
http://criticadaespecie.com/2014/03/26/invasao-da-ufsc-nao-tem-nada-a-ver-com-maconha/
Chris (17:02:55) : Seu comentário está aguardando moderação
Sim, é facilmente perceptível a manobra focando a discussão sobre a maconha.
É claro o seu ensinamento sobre o grau de relevância de alguns cigarros de maconha frente a crimes de maior vulto, embora não o tenha feito de forma absolutamente imparcial e pessoas que têm problemas de interpretação de texto se apeguem a este ínfimo ponto de seu texto, apesar dos outros 99% de lucidez e esclarecimento.
Aqui apenas alguns exemplos da hipocrisia, do quão tacanhas são as pessoas que bradam, clamam, rugem, conclamam o combate da ilegalidade de algo como o uso de maconha: baixam música pirata, assistem a vídeos piratas, compram produtos piratas e contrabandeados, não respeitam o limite de velocidade da vias, estacionam o carro em vagas para deficientes/idosos, estacionam em lugar proibido, sonegam impostos, trazem produtos de Miami para o país sem declará-los e por aí vai. Imaginem a cena da PF arrombando as portas e invadindo as suas casas, seus criminosos!
Parabéns, é bom saber que ainda há pessoas com lucidez como você e tenho apenas uma ressalva a fazer: Direita X Esquerda (Comunismo) acho que é mais um artifício para manipular a sociedade no contexto em que estamos, manipulação essa vinda exatamente das mesmas fontes que fomentam a final do clássico: favor X contra maconha. Outro embate que agita e emociona as arenas do país, já sabemos, é outro clássico Direita X Esquerda. Enquanto isso o país é dilapidado em seus recursos naturais, humanos, na cidadania, no futuro melhor para este povo.
É claro o seu ensinamento sobre o grau de relevância de alguns cigarros de maconha frente a crimes de maior vulto, embora não o tenha feito de forma absolutamente imparcial e pessoas que têm problemas de interpretação de texto se apeguem a este ínfimo ponto de seu texto, apesar dos outros 99% de lucidez e esclarecimento.
Aqui apenas alguns exemplos da hipocrisia, do quão tacanhas são as pessoas que bradam, clamam, rugem, conclamam o combate da ilegalidade de algo como o uso de maconha: baixam música pirata, assistem a vídeos piratas, compram produtos piratas e contrabandeados, não respeitam o limite de velocidade da vias, estacionam o carro em vagas para deficientes/idosos, estacionam em lugar proibido, sonegam impostos, trazem produtos de Miami para o país sem declará-los e por aí vai. Imaginem a cena da PF arrombando as portas e invadindo as suas casas, seus criminosos!
Parabéns, é bom saber que ainda há pessoas com lucidez como você e tenho apenas uma ressalva a fazer: Direita X Esquerda (Comunismo) acho que é mais um artifício para manipular a sociedade no contexto em que estamos, manipulação essa vinda exatamente das mesmas fontes que fomentam a final do clássico: favor X contra maconha. Outro embate que agita e emociona as arenas do país, já sabemos, é outro clássico Direita X Esquerda. Enquanto isso o país é dilapidado em seus recursos naturais, humanos, na cidadania, no futuro melhor para este povo.
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