Oncologista Antônio Carlos Buzaid fala sobre tratamentos contra o câncer
20/03/2019 - 00h30min
Felipe Nunes
Tratamento que estimula as células de defesa do paciente a atacarem tumor ganha destaque no 3º Congresso de Cancerologia realizado na última semana em Rio Preto
Objeto de diversas de pesquisas ao redor do mundo e
com recentes descobertas de resultados promissores no tratamento de
diversos tipos de câncer, a imunoterapia foi destaque durante a 3ª
edição do Encontro de Cancerologia do Interior Paulista (Ecip),
realizado entre os dias 14 e 16 de março, na Famerp, em Rio Preto.
O tratamento não é novo, mas os resultados
positivos colocam a terapia cada vez mais em evidência por ter
apresentado um dos principais avanços no tratamento da doença. Segundo
especialistas, os medicamentos têm apresentado efeitos satisfatórios que
melhoram a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes diagnosticados
com câncer grave. De acordo com especialistas, o medicamento estimula
as células de defesa do paciente a atacarem o tumor. A imunoterapia
estimula o corpo a produzir anticorpos e combater as células
cancerígenas.
O encontro contou com a presença do oncologista de
renome internacional Antônio Carlos Buzaid, diretor do Centro Oncológico
do Hospital Beneficência Portuguesa e membro do Comitê Gestor do Centro
de Oncologia do Hospital Albert Einstein, ambos de São Paulo. Segundo o
Buzaid, respostas interessantes foram registradas a partir de uma série
de novos medicamentos que foram criados para aumentar os organismos de
defesa do corpo durante o combate ao câncer.
"No tratamento com a imunoterapia, o paciente pode ter
um controle maior do câncer e, assim, aumentar sua expectativa de vida,
com mais qualidade", explica.
As descobertas recentes tornaram o tratamento um dos
temas mais importantes da oncologia no mundo, por conta de sua
relevância no tratamento do câncer. Para Buzaid, estudos em pacientes no
país e no exterior mostraram que foi possível mudar a forma como o
sistema imune do próprio paciente vê o câncer. "Ele passa a atacar a
célula cancerosa com o objetivo de matá-la. Isso significa manipular o
sistema de alguma forma para aumentar sua eficácia com o objetivo de
eliminar a célula cancerosa", destacou.
Tratamento simultâneo
As duas grandes áreas que mais crescem são a
imunoterapia isolada ou em combinação com a quimioterapia. E, mesmo com
os recentes resultados positivos apresentados pelo tratamento com a
imunoterapia, tratamentos tradicionais como a quimioterapia e a
radioterapia não devem ser eliminados a curto prazo. Isso porque
diversos tratamentos mostraram uma maior eficácia na combinação das
terapias. O oncologista esclarece que a combinação da quimio com a
imunoterapia tem se mostrado uma estratégia apropriada para certos tipos
de câncer. Entre os exemplos mais importantes está o tratamento do
câncer de pulmão, para o qual a combinação dos dois tratamentos
apresenta resultados claramente melhores do que a quimioterapia. O
tratamento também apresentou bons resultados em pacientes com melanoma,
câncer de rim, de cabeça e pescoço.
A imunoterapia isolada também apresenta resultados
positivos. "Uma pequena parcela, mesmo com câncer de pulmão, consegue
ser curada com a imunoterapia isolada".
Alimentação
Durante sua apresentação para os participantes do
Encontro, o oncologista esclareceu como a alimentação pode influenciar
no surgimento da doença. Entre os alimentos cancerígenos, ele destaca a
linguiça, salsicha, bacon e até o peito de peru, pois eles contêm
quantidade consideráveis de nitratos. Essas substâncias, em contato com o
estômago, viram nitrosaminas, substâncias consideradas mutagênicas,
capazes de promover mutação do material genético.
Além das comidas, as bebidas também podem ter efeito
cancerígeno. A bebida gaseificada, além de conter muito sal em forma de
sódio, possui adoçantes associados ao aparecimento de câncer. O
ciclamato de sódio, por exemplo, é proibido nos Estados Unidos, mas
ainda é utilizado no Brasil, principalmente em refrigerantes "zero".
Essa substância aumenta o risco de aparecimento de câncer no trato
urinário.
Ecip
Considerado um dos maiores da oncologia no interior do
país, o encontro reuniu centenas de especialistas de todas regiões do
Brasil, além de convidados de renome internacional. O evento é voltado
para médicos, residentes, estudantes e profissionais que atuam na área
da saúde.
Os três dias do encontro serão divididos em 10
diferentes módulos: mama; cabeça e pescoço; trato gastrointestinal;
pulmão; urologia; pesquisa clínica; cardio-oncologia; princípios em
oncologia; tumores raros e ginecológicos. Na edição do ano passado, o II
Ecip reuniu 718 inscritos e 72 palestrantes, sendo considerado evento
referência no Brasil em cancerologia na discussão diagnóstica, novos
tratamentos e pesquisa.
Prêmio Nobel
Em 2018, o estudo sobre a terapia imune contra câncer
levou o Prêmio Nobel de Medicina. Os vencedores foram os
pesquisadores James P. Allison, dos EUA, e Tasuku Honjo, do Japão. Eles
foram laureados com o prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia pela
descoberta de uma terapia contra câncer por inibição da regulação
imunológica negativa.
A descoberta dos cientistas foi considerada, na época,
um marco na luta contra o câncer por estimular a capacidade do sistema
imunológico de atacar as células cancerígenas soltando os freios das
células do sistema imunológico.
Sem previsão para o SUS
Mesmo com os avanços do tratamento da
imunoterapia contra o câncer, o preço limita o acesso ao tratamento. De
acordo com o oncologista Antônio Carlos Buzaid, ainda não há uma
previsão de quando o tratamento chegará ao Sistema Único de Saúde (SUS).
"Essas drogas novas que são complexas, elas têm um alto custo. Então, a
curto prazo não é possível colocá-las no Sistema Único de Saúde",
explicou.
Entre os medicamentos aprovados no Brasil
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma única caixa
de pembrolizumab, por exemplo, utilizado para o tratamento de melanoma
em estágio avançado, pode custar cerca de R$ 18,8 mil. O tratamento de
um ano pode chegar a R$ 582 mil.
https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2019/03/vida_e_estilo/comportamento/1144344-oncologista-antonio-carlos-buzaid-fala-sobre-tratamentos-contra-o-cancer.html
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