Recentemente encaminhei um e-mail ao Daniel logo que comecei a
“postar” neste blog. Sempre acompanhei seu blog onde encontrei muitas
coisas ali que uso e já usei. Quando vi sua resposta, fiquei feliz e
admirado pela pessoa simpática que ele é.
Aos que não conhecem, Daniel Meyer é Triatleta e Ultramaratonista. Vegan desde de 2005, possuí o
Blog Daniel Meyer Força Vegana, tem o apoio do
Vista-se e, em sua
página no Vista-se pode-se ler ( de suas próprias palavras):
“….Existem pessoas que nasceram para pintar, cantar, tocar,
outras para exercer a medicina, engenharia e por aí vai. Eu, nasci para
fazer triathlon e, hoje só me empenharei em algo que fizer meus olhos
brilharem e meu coração bater mais forte.”
Assim, eu pensei em realizar uma entrevista com ele, mesmo que as
perguntas sejam mais minhas dúvidas mesmo, Daniel me respondeu com muita
atenção e apoio para minha “vida amadora de atleta” e para minha
iniciativa em criar este blog.
Gostaria de agradecer ao Daniel Meyer por ter participado da
entrevista e também pelos conselhos e experiências que compartilham
conosco em seu blog.
Segue a entrevista, espero que gostem =D
Crédito: Cesar Carvalho e Murilo Rafael de Souza
1 – Daniel, recentemente você colocou um post em seu blog
sobre o New
Balance Minimus e, em seu mesmo blog, você já havia
comentado sobre o usado Five Fingers.
O que eu gostaria de saber é, você
já vem usando o New Balance Minumus? Se sim, quais suas impressões
sobre ele? Em relação ao Five Fingers,
você já colocou uma avaliação em
seu blog em agosto de 2011. Assim,
gostaria de saber, se você faz
treinamentos de corridas descalços e porquê?
Não, ainda não tive a oportunidade de correr com o NB Minimus. Minha
intenção era adquirir o modelo voltado para corridas off road da
linha Minimus, visto que, em boa parte destas provas torna-se muito
difícil correr descalço ou com o VFF (Vibram Five Fingers) e obter o
melhor desempenho possível. Ano passado arrisquei correr a K42 Adventure
Marathon em Bombinhas com o VFF Sprint e tive muita dificuldade para
suportar a dor na sola dos pés nos 12km finais da prova. Desde então,
tenho procurado o calçado ideal para este tipo de competição, procuro
algo que proporcione proteção ao pé, mas que ao mesmo tempo seja muito
leve, flexível e com solado bem baixo, tudo que o Minimus me parece ser.
Só não comprei o Minimus ainda por causa do preço, muito acima do que
me disponho a pagar por um tênis. Até hoje jamais comprei um tênis por
mais de R$250,00 e, mesmo sendo triatleta e ultramaratonista, compro
somente 1 ou 2 pares de tênis por ano!
Aproximadamente, realizo 80% dos meus treinos de corrida descalço,
15% com o VFF e somente 5% com tênis convencionais de perfil baixo. Não
tenho dúvidas em afirmar que correr descalço é mais eficiente, porém,
não é possível correr descalço em qualquer lugar, por isso minha segunda
opção é o VFF, que realmente proporciona quase todos os benefícios de
se correr descalço com a vantagem de proteger o pé. Só tenho utilizado
tênis mesmo, em terrenos muito ruins, distâncias muito longas ou em
provas de triathlon curtas, onde uma transição veloz, ou seja, onde
calçar o tênis rápido é de suma importância.
É interessante ressaltar que, desde que passei a correr quase
exclusivamente descalço, me curei progressivamente de três lesões
(tendinites) crônicas, nos tendões do calcâneo, nas laterais do joelho e
no púbis! Coincidência ou não, fato é que, correr descalço, só me
trouxe alegrias, sobretudo na questão econômica! rsrsrsrs
2 – Daniel, ainda em relação aos tênis de corrida, qual sua
opinião sobre o mercado de tênis para corrida e, o que um iniciante (
vegan )
deve prestar atenção ao ambicionar corridas mais longas?
Felizmente hoje em dia, existem muitas opções de tênis que podem ser
considerados veganos, no entanto, ainda não conheço uma marca de
calçados esportivos com uma proposta totalmente vegana, me parece que
todas elas possuem alguns modelos com componentes de origem animal. Ao
procurar um tênis para corrida, primeiramente escolha o que mais te
agrada, só então, olhe as informações sobre os materiais que compõem o
tênis e na falta de informações precisas e detalhadas, entre em contato
diretamente com o fabricante para saber se o calçado possui ou não
componentes de origem animal. Lembrando que na maioria das vezes é
preciso ser persistente para conseguir informações corretas dos
fabricantes. A maioria das marcas de tênis deixa muito a desejar neste
aspecto, geralmente fornecendo informações imprecisas e demorando muito
para responder. Mas sempre vale à pena demandar um pouco mais de tempo e
ter a certeza de estar comprando um produto isento de crueldade. Os
calçados que utilizo para correr no momento são, VFF Sprint, VFF Bikila e
Olympikus Rio. Para qualquer tipo de corrida e para a maioria das
pessoas, eu sempre recomendo os tênis de solado bem baixo, mas se você
está acostumado com tênis pesados com solado mais alto, principalmente
no calcanhar, vá com calma, provavelmente será preciso um bom tempo de
adaptação.
3 – Daniel, o que mais me admira em seus posts é o
“compartilhamento” de sua alimentação e, principalmente, sua alimentação
durante as provas. Apesar de eu haver lido,
recentemente, sobre o uso
de suplementos que você estaria utilizando e
, sendo patrocinado até,
gostaria de saber se, para nós atletas amadores
(vegans), você
considera que seja importante o uso de suplementos ou se, tendo
conhecimento sobre uma dieta equilibrada e, até mesmo, acompanhamento
nutricional, uma alimentação
natural, sem a necessidade de uma
suplementação por meio de produtos industrializados, já seja o
suficiente em atividades que exijam resistência?
Créditos: Cesar Carvalho e Murilo Rafael de Souza
Vou expressar minha opinião sobre esse assunto, de forma bem clara e
direta. Suplementos esportivos podem ser úteis dependendo do caso, mas
não são de forma alguma uma necessidade! É possível sim, para atletas de
endurance veganos, amadores ou profissionais, atingirem excelentes
níveis de desempenho esportivo com uma dieta vegana simples, barata e
variada. Com exceção à vitamina B12, nenhum outro nutriente precisa ser
suplementado, nem a tão badalada e comentada proteína, pois uma
alimentação vegana supre com excelência nossas demandas por aminoácidos,
sem qualquer necessidade de combinações mirabolantes de alimentos. Em
mais de 7 anos como triatleta e ultramaratonista vegano, utilizei
suplementos proteicos por pouquíssimos meses. Meu estilo de vida simples
e tranquilo, definitivamente não demanda a utilização de qualquer tipo
de suplemento salvo a vitamina B12 que não pode ser encontrada em
alimentos de origem vegetal não fortificados.
Em termos gerais o foco dos atletas de endurance veganos ou não deve
ser em manter uma ingestão elevada em carboidratos, moderada/baixa em
proteínas e baixíssima em gorduras. O interessante é que uma dieta
vegana natural possui exatamente essa configuração de macronutrientes.
Minha dica para atletas de endurance é a seguinte, abandone o máximo
possível os alimentos industrializados e sempre que possível, compre a
matéria-prima e cozinhe em casa, será sempre mais barato e saudável.
Abuse dos cereais integrais, frutas, legumes e verduras, manere nas
nozes, sementes e castanhas e reduza ao mínimo o consumo dos óleos. Esse
é o caminho para a aquisição de um corpo magro, forte e resistente, que
é a base para o sucesso em provas de endurance.
É importante entender que uma alimentação equilibrada e saudável não
significa necessariamente, que você tenha que se abster de tudo que é
industrializado, processado ou refinado. Existe espaço para todos estes
alimentos dentro de uma dieta balanceada. Se você conseguir se abster de
tudo isso, muito bom! Mas sabendo incluir os alimentos
industrializados, em minha opinião, não haverá prejuízo para sua saúde e
desempenho esportivo. Eu por exemplo, consumo alimentos refinados como
macarrão, farinha de trigo e açúcar, mas de forma planejada, em geral
utilizo açúcar refinado somente nas preparações de final de semana, onde
dou uma relaxada na alimentação.
Se você está procurando a melhor relação entre custo e benefício,
foque toda sua atenção e dinheiro, na alimentação e não na
suplementação.
Por outro lado, esportistas veganos de modalidades em que uma massa
muscular avantajada e um percentual de gordura baixíssimo são
necessários, como no caso dos fisiculturistas, eu diria que a
suplementação proteica é quase indispensável, caso queiram é claro,
atingir o melhor desempenho esportivo possível. Não estou dizendo que
não seja possível adquirir massa muscular com uma dieta vegana simples
sem suplementos. Muito pelo contrário, eu, por exemplo, sempre tive um
biótipo muito mais musculoso do que magro e, com minha esposa não é
diferente, ela também é vegana há mais de 7 anos, nunca utilizou nenhum
suplemento (exceto vit. B12) e mesmo sendo atleta de endurance é difícil
encontrar mulheres com pernas tão fortes como as dela!
Mas no caso dos fisiculturistas veganos, a suplementação se faz
necessária porque a dieta vegana é naturalmente moderada em proteínas, o
que não atenderá as exigências competitivas da modalidade que, demanda
um aumento de massa muscular extraordinário! Ao contrário do que muita
gente pensa, a dieta vegana por si só não emagrece, o que emagrece é
ingerir menos calorias do que se gasta. Minha maior dificuldade como
atleta de endurance é, justamente emagrecer (eu como muito!).
Lembrem-se, um bom profissional da área da saúde, de preferência especializado em nutrição vegetariana, pode nos ajudar muito!
Mas precisamos romper essa dependência absurda e doentia em que
vivemos hoje, em relação a esses profissionais. Cadê a autonomia das
pessoas!? Parece que ninguém mais é capaz de chamar a responsabilidade
sobre sua saúde para si, é sempre mais fácil pagar alguém para resolver
as coisas, mas no final das contas, os profissionais poderão nos apontar
um caminho, mas percorrê-lo, sempre caberá a nós mesmos. Com um pouco
de boa vontade, estudo e percepção corporal, na maioria das vezes
podemos decidir sozinhos o que é melhor para cada um de nós,
estabelecendo nosso próprio ritmo e estilo de vida.
4 – Daniel, recentemente, diante de alguns maratonistas, fui
alvo de piadas e descrença quando afirmei que minha base alimentar era o
grão-de-bico (que, particularmente,gosto muito =D). Gostaria de saber,
se o fato de você expor e divulgar o veganismo e ser contra a crueldade
em animais, acaba causando o mesmo ou semelhante desconforto vindo dos
demais atletas?
Na verdade, como atleta vegano, surpreendentemente eu sempre fui
muito respeitado. Em mais de 7 anos divulgando e promovendo o veganismo
através do esporte, nunca fui alvo de piada, comentários maldosos ou
qualquer outro tipo de insulto. Acredito fortemente que a forma como
abordo e divulgo o movimento vegano, aliado a minha postura nas provas e
alguns bons resultados que venho colhendo ao longo dos anos contribuem
muito para isso. Em todas as competições que participo alguém vem falar
comigo querendo saber mais sobre dieta vegetariana e veganismo. De um
modo geral as pessoas estão muito mais receptivas e abertas, mas é claro
que ainda existe muita gente que acredita que alimentos de origem
animal, principalmente a carne seja indispensável à saúde e, ficam muito
irritados se alguém os contraria. Mas os que agem dessa forma são
sempre pessoas totalmente desinformadas (alienadas pela mídia) e
viciadas nesses alimentos. Pessoas assim, simplesmente não conseguem
imaginar viver sem comer carne, leite ou ovos, por isso ficam tão
nervosas. Nestes casos é preciso ter paciência e debater o assunto de
forma pacífica.
A melhor resposta que podemos dar aos irônicos e descrentes “onívoros
de plantão” é a informação, é presentea-los com uma avalanche de
informações contundentes à cerca da dieta vegetariana. Até hoje não teve
um onívoro se quer, que após ter conversado comigo não tenha se
convencido de que os alimentos de origem animal são completamente
desnecessários. Sabe por quê? Por que isto é um fato, já está provado
cientificamente e milhões de veganos, atletas ou não, vem afirmando isto
dia após dia, exibindo mentes sãs e corpos saudáveis! Em minha família
nem todos são veganos, mas hoje todos reconhecem a forma cruel de
industrialização dos produtos de origem animal e sabem muito bem que os
alimentos de origem animal não são uma necessidade, ou seja, convencidos
eles estão, mas foram tão fortemente doutrinados a consumir estes
produtos que simplesmente não conseguem (ou não querem) mudar. Mas pode
ter certeza que se ao menos aos domingos ao invés do “Domingão do
Faustão”, passasse na TV bons documentários sobre exploração animal como
“Terráqueos”, todo mundo já teria virado vegano!
5 – Em um dos posts em seu blog, uma frase me chama a atenção, é:
“Houve um tempo, em que eu corria simplesmente para mim,
até descobrir
que, através do simples ato de correr poderia ser
possível tocar a alma das pessoas,
alcançar sua mais pura essência,
instigando-as a experimentar os mais
suaves e também mais intensos
prazeres destinados àqueles que se entreguem
a
mais simples das
atividades humanas, CORRER!”
Dos três esportes que você compete, a corrida é a que mais lhe dá prazer?
Eu
sou simplesmente apaixonado pelo triathlon de longa distância, a
complexidade, a dificuldade e o empenho necessário para se desenvolver
em 3 modalidades, simplesmente me fascina! É no ciclismo que possuo o
melhor nível técnico, mas sem dúvida alguma a corrida, pela sua
simplicidade, é o que mais me dá prazer. Sou um amante das coisas
simples, um apaixonado pela prática de esportes ao ar livre e filho da
Mãe natureza. Para mim, correr não é opção, é necessidade!
6 – Daniel, o ciclismo é um esporte para mim muito prazeroso e
ao mesmo
tempo o mais caro em termos financeiros, devido ao alto custo
das
bicicletas e equipamentos.
As bicicletas para provas específicas
dos triatletas não fogem a esta
regra. Assim, se possível, para nossa
curiosidade, qual é sua bicicleta,
relação e, o que você considera
essencial em uma bicicleta para uma boa e longa pedalada?
Realmente os custos de uma bicicleta competitiva são bem elevados, no
entanto, tento mesmo assim economizar o máximo possível, procurando
escolher sempre aquilo me proporcionará o melhor custo/benefício. Passei
5 anos competindo provas de triathlon, incluindo 4 provas de Ironman,
com uma TREK 1000 com os componentes mais simples possíveis e sem rodas e
capacete aero. Consegui uma bicicleta competitiva somente em meados de
março de 2011 graças ao eterno e incondicional apoio dos meus pais. Para
poder treinar e competir em alto nível eu precisaria de 3 bikes, uma
MTB para cross triathlon, uma road bike para treinos e provas curtas e
uma bike TT (Time Trial), especial para triathlon de longa distância,
mas hoje possuo apenas uma, a TT. Minha bike é uma Cannondale Slice
modelo 2011, a mesma utilizada por Crissie Wellington (4xcampeã mundial
de ironman) só que com componentes bem inferiores, tamanho 58 com grupo
shimano 105 de 10v, relação 52-38 na frente e 25-12 atrás.
Continuo competindo sem rodas e capacete aero, algo que prejudica
consideravelmente meu desempenho. Sem dúvida nenhuma a Cannondale Slice
era na época o melhor custo/benefício oferecido pelo mercado e
provavelmente ainda continua sendo.
Com minha antiga road bike Trek 1000, meu melhor tempo nos 180km do
ironman foi 5h15’, algo em torno de 34,4km/h, no meu primeiro ironman
com a bike TT Cannondale Slice, cravei 4h52’, 37km/h! Por isso não tenho
dúvidas em afirmar que uma boa bicicleta faz muita diferença, mas ainda
assim acredito que o essencial mesmo em uma bicicleta é o ciclista!
Rsrsrs
Brincadeiras à parte, para uma boa e longa pedalada, você não precisa
de uma SUPER BIKE, mas que ela seja uma bike para o seu tamanho e que
esteja principalmente com a altura do selim e do avanço (mesa) corretos.
Acredito que um bom bike fit seja muuuuito útil, apesar de eu mesmo
nunca ter feito. Aprendi tudo sozinho através de bastante estudo e
prática. Para treinar não precisamos de equipamentos caros, os simples
atendem muito bem a necessidade, mas para competir, quase sempre
equipamentos mais caros irão se traduzir em melhores desempenhos.
7 – Daniel, você comenta em seu blog sobre o Scott Jurek, ultramaratonista
que também é citado no livro “Nascidos para correr”, o mesmo é vegan,
assim como
David Zabriskie,
ciclista da elite da Garmin/Barracuda. Éder Jofre,
vegetariano,
atribuía sua performance na alimentação.
Como você vê o veganismo e a
causa da libertação animal no mundo dos
esportes e, o que ainda pode
ser feito para a divulgação do veganismo por
meio do esporte?
Eu vejo o esporte como uma grande vitrine, através da qual podemos
promover e difundir o veganismo de uma forma contagiante! Os feitos de
atletas veganos são fonte de inspiração e motivação para que muitos
onívoros abandonem os alimentos de origem animal. A mídia parece não
querer que as pessoas saibam que os produtos de origem animal são
desnecessários, por isso as pessoas permanecem desconfiadas e até com
certo medo de tornarem-se veganas. A mídia e os maus profissionais da
área da saúde são os maiores responsáveis por amedrontar e alienar as
pessoas à respeito da dieta vegetariana. Por outro lado, quando as
pessoas veem atletas veganos saudáveis, fortes e resistentes competindo
em alto nível, realizando façanhas incríveis e alcançando muitas vezes
os lugares mais altos do pódio, o medo e toda a alienação dão lugar a
vontade e o desejo de se tornar vegano e parar de compactuar com a
exploração animal. Para tornarem-se veganas, a maioria das pessoas
precisa apenas de informação e inspiração.
Infelizmente acredito que muito pouco esteja sendo feito dentro do
esporte para a promoção do veganismo, principalmente por falta de
apoio/patrocínio destinado a carreira dos promotores veganos no esporte,
a comunidade vegana, precisa ainda, reconhecer o nosso verdadeiro valor
para a erradicação da exploração animal no mundo! As empresas veganas,
precisam reconhecer também, que ser atleta vegano é profissão! E sendo
profissão, é preciso ter um salário. Somos atletas diferenciados, não
estamos interessados em ganhar rios de dinheiro, ficar famosos ou
conquistar o campeonato mundial a qualquer custo. Somos promotores de
uma causa e de um estilo de vida pautado na compaixão, na
sustentabilidade e na ética. Precisamos apenas do mínimo de
reconhecimento e apoio financeiro para realizar nosso trabalho de forma
eficaz.
8 – Daniel, quais são suas aspirações, inspirações e
expectativas para o
ironman, já que, em suas próprias palavras, me
comentou ser o
” único triatleta vegano profissional competindo as
provas mais importantes
do país e disputando o circuito mundial de
IRONMAN”?
Na verdade eu ainda não disputo circuito mundial de ironman como
profissional. Até agora participei das competições como amador, no
entanto, após alguns meses de reflexão no começo deste ano, decidi
investir tudo na minha carreira como triatleta vegano profissional.
Vivendo e treinando como profissional eu já estou, mas ainda estou
passando por uma fase de transição. E para disputar o circuito mundial
de ironman entre os profissionais não basta querer, é preciso ter o
currículo aprovado e para isto, preciso ainda mostrar bons resultados
como amador nas provas do circuito mundial de ironman e apresentar
também resultados expressivos competindo na ELITE em provas nacionais.
Ou seja, preciso provar que mereço estar entre os melhores. Acredito
fortemente que com apoio financeiro, conseguirei alcançar todos meus
objetivos. A maior motivação na decisão de me tornar triatleta vegano
profissional é dar ainda mais visibilidade ao veganismo. Mais do que
vencer os atletas onívoros, meu principal objetivo é convencê-los e
ajudá-los a se tornarem veganos.
São nas provas de ironman (3,8km de natação/180km de ciclismo/42,2km
de corrida) que se concentram minhas mais ambiciosas expectativas. Vou
trabalhar duro para cravar um tempo sub 9h no Iron Brasil de 2013. Este
ano ainda pretendo participar do Ironman Punta Del Este no Uruguai em
dezembro, onde almejo finalizar entre os 5 primeiros colocados. Mas para
mim, o “suprassumo” seria mesmo conseguir representar o veganismo em
nível internacional, disputando o circuito mundial de ironman entre os
profissionais e quem sabe conseguir conquistar os tão suados pontos
necessários para poder disputar a final do campeonato mundial no Havaí.
9 – Nós, aspirantes, amadores, iniciantes ou demais atletas
que são ou
aspiram o veganismo, vemos em você uma grande referência.
Para você, quem
é, ou quem são,
suas referências para a realização de
suas conquistas?
Meus principais inspiradores fora do esporte são Henry David Thorreau
e Gandhi por seus ensinamentos sobre desobediência civil e pela “luta”
através da não-violência. Já no âmbito esportivo, meus heróis são todos
aqueles atletas que ousaram pensar, ser e fazer diferente da grande
massa. Em geral são os atletas “anônimos” que me servem de inspiração,
pessoas próximas a mim, gente simples e guerreira, autênticos campeões,
porém, esquecidos pelo próprio país. Eu não poderia deixar de destacar
também minha gigantesca admiração por Amyr Klink, não somente, pelo
grande espírito aventureiro que possui, mas principalmente por ser um
homem simples, ético e totalmente comprometido em promover a
sustentabilidade.
Em minha opinião, não são os melhores atletas que merecem o maior
reconhecimento, mas sim, as melhores pessoas. Somente assim o esporte
servirá como exemplo para toda uma nação. Mais do que títulos no
esporte, um país precisa de atletas conscientes, pensantes e
responsáveis, colecionadores de boas ações e não de medalhas, defensores
de grandes causas e não do interesse próprio.
10 – Para finalizar, este blog está iniciando assim como eu,
que estou
iniciando na corrida e já me iniciei há algum tempo no
ciclismo, e para
aqueles, que por ventura,
possam ler este blog, o que
nos deixa como inspiração e reflexão?
Existem muitos crimes ocultos em nossa sociedade, por mais distantes
dos supermercados e das lojas que esses crimes possam estar acontecendo,
ainda assim existe cumplicidade. Não nos façamos de cegos e surdos,
abramos os olhos, agucemos os ouvidos e gritemos o mais alto possível
contra toda a crueldade e injustiça desse mundo.
No mais, só façam aquilo que vier da alma! Sejam autênticos, busquem
sua verdadeira essência por mais diferente que ela seja. A única maneira
de viver integralmente feliz é fazendo o que se ama. No final das
contas, a única pessoa com quem você prestará contas no fim da vida,
será você mesmo. Portanto, Carpe diem (aproveitem o dia)!
E lembrem-se, em termos universais não existe certo ou errado, o que existe é aquilo que nós consideramos certo ou errado.
http://atletaorganico.wordpress.com/2012/05/20/entrevista-com-o-triatleta-ultramaratonista-e-vegan-daniel-meyer/