terça-feira, 23 de setembro de 2014

Coursera oferece 4 cursos gratuitos sobre tecnologia

Por Redação Olhar Digital - em 18/09/2014 às 16h29

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A Coursera, plataforma gratuita de cursos online, anunciou hoje parceria com duas importantes universidades brasileiras: USP e Unicamp passam a elaborar cursos em português para o projeto. Além disso, alguns módulos estão sendo legendados em português com a ajuda de tradutores voluntários.
O Brasil é o quinto país com mais cadastrados no site, com cerca de 300 mil usuários entre os 9 milhões no mundo todo. Criada em 2012 na Universidade de Stanford, a plataforma conta com 110 instituições de ensino parceiras que oferecem mais de 700 cursos em diversas áreas.
Por enquanto, apenas 28 cursos estão legendados em português, mas a intenção é que o número cresça. Os programas ministrados pelas universidades brasileiras começam ainda este mês. Para conferir todos os temas oferecidos, clique aqui.
O Olhar Digital encontrou quatro cursos de tecnologia legendados em português. Para mudar a linguagem, é preciso ativar a opção nas configurações.
Linguagem R
Duração: 4 semanas
O curso ensina a programar e analisar dados em R. As aulas abrangem questões práticas da computação estatística, descrevem conceitos de linguagem de programação genéricas, além da construção de funções de depuração, leitura de dados e perfis na linguagem.
Ciência da computação 101
Duração: 1000 semanas *(Se o redator da Coursera não tiver colocado zeros a mais, o aluno vai estudar por 19 anos)
O curso ensina ideias de ciência da computação para quem não possui conhecimentos no tema abordando assuntos como hardware, jargões utilizados, funcionamento de softwares, funcionamento da internet, segurança na computação, entre outros.
Iniciação à programação JAVA
Duração: 7 semanas
Durante as aulas, o aluno é introduzido à linguagem de programação com conceitos básicos, estruturas de controle e funções de JAVA.
Introdução à computação interativa em Python
Duração: 9 semanas
O curso é voltado para alunos com pouca ou nenhuma experiência em computação e ensina fundamentos básicos da construção de aplicações interativas que utilizam a linguagem Python. Para mais informações, acesse o programa do curso.
Via Galileu e Coursera

Livro analisa manifestações sobre fim da vida na Terra

Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro usam cultura pop, estudos científicos e textos religiosos em 'Há Mundo por Vir?'
LEÃO SERVA COLUNISTA DA FOLHA
É o fim do mundo. O tema do novo livro do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, escrito com Déborah Danowski, são as diversas manifestações da cultura humana atual que afirmam que está em extinção a vida na Terra "tal como conhecemos hoje" (uma expressão aberta, que os autores também discutem na obra).
Normalmente associado à pesquisa sobre culturas indígenas, que ele revolucionou com a criação do conceito de "perspectivismo", Viveiros, em "Há Mundo por Vir? Ensaio sobre os Medos e os Fins", também analisa produções culturais das sociedades dominantes ou desenvolvidas, tais como tratados científicos, filmes e literatura.
Assim começa o livro: "O fim do mundo é um tema aparentemente interminável --pelo menos, é claro, até que ele aconteça".
A análise equaliza as diferentes imaginações contemporâneas sobre a extinção do homem no mundo como expressões de um pensamento humano dominante. "Sem em qualquer momento afirmar qual interpretação é correta", o livro mostra que a convicção de que a vida humana sofrerá uma profunda ruptura é um "zeitgeist" ("espírito do tempo") deste início de século 21.
Assim, os autores descrevem inúmeros sinais dessa convicção generalizada. É o caso, por exemplo, dos estudos do departamento de Defesa dos EUA (Pentágono) sobre como o país deve enfrentar as ameaças que vão ocorrer caso se confirme o prognóstico de alta de 2°C na temperatura média do planeta nas próximas décadas.
Passam pelo crivo dos escritores também filmes apocalípticos como "Melancolia", de Lars von Trier, e "4:44 - O Fim do Mundo", de Abel Ferrara (ambos de 2011) e livros de ficção, como de Philip K. Dick (autor da história que deu origem ao filme "Blade Runner") e mitos indígenas, como o pensamento do xamã ianomâmi Davi Kopenawa em seu livro "A Queda do Céu" (lançamento previsto para 2015), entre outros.
Danowski explica que o livro foi escrito como uma reação aos ataques feitos a quem divulga informações sobre o agravamento das condições de vida na Terra: "Quando se diz o que está acontecendo, surge uma acusação de imobilismo ou catastrofismo. Ao falar contra a destruição de nossas florestas, somos acusados de servir à indústria americana. Então decidimos juntar tudo, filmes, livros, teses, mitos, que carregam esse espírito do tempo".
O lançamento do livro, realizado nesta semana no Rio, coincidiu com um colóquio internacional promovido pelos autores na cidade. "Os Mil Nomes de Gaia - do Antropoceno à Idade da Terra" reuniu cerca de 35 pensadores de 11 países, todos estudiosos de diversas áreas do conhecimento para discutir o conceito de "antropoceno": a ideia de que passamos a viver uma nova era geológica, esta determinada pelo homem, que deixa de ser um agente biológico entre todos os outros para se tornar o agente transformador da geologia.
Viveiros de Castro destaca a importância do conceito: "Neste momento do mundo, em decorrência da ação humana, o clima muda mais rápido que o homem. Vamos poder assistir a mudanças no sistema climático ao longo de uma vida", diz.
Embora escrito por dois cientistas (marido e mulher, ela se dedica à filosofia e ele, à antropologia), acostumados aos códigos acadêmicos, o livro tem conteúdo acessível, por tratar de manifestações culturais disponíveis ao grande público e descritas com didatismo.

Os 2 melhores Programas de Edição de Imagens Online (gratuitos)



Na era das redes sociais, ficar bonito na foto é bastante importante…
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Tá certo que muita gente não tá nem aí pra isso, mas pra quem curte dar um upgrade da foto, o ideal é usar programas de edição. Existem por aí vários programas pra isso, o mais famoso é o Photoshop, que precisa de um certo conhecimento técnico para usar, além de ser caro (tirando a versão antiga que é gratuita).
Só que hoje, como tudo está online, nas nuvens, instalar programas na sua máquina não é mais necessário, a não ser que seja um profissional da área. Enfim, vamos destacar 2 programas de edição (gratuitos) muito fáceis de usar, mas extremamente completos! Agradeçam depois.

Pixlr

pixrl 1
Fala esse nome 3 vezes rápido. Beleza, pode limpar a tela do computador. Esse programa, em inglês, é dividido em 3 categorias:
pixrl 2
Um editor no melhor estilo Photoshop, para quem está habituado com o programa da Adobe é muito fácil usar. E para quem não conhece, olha oportunidade de aprender. Essa categoria é a única opção do site em português.
pixrl 3
Também um editor, só que mais intuitivo, ou seja, mais simples. Para quem não quer se aventurar no mundo dos editores de fotografia, mas quer dar um trato naquela foto do Reveillon, tá aí uma solução. No Express você também encontra opção para fazer aquelas colagens, juntar várias fotos em uma só.
pixrl 4
Também tem vários filtros pré programados, efeitos, molduras, texto e adesivos fofos de bichinho. Você pode instalar no seu celular, para iPhone e Android.
pixrl 5
Essa opção é bem parecida com o Instagram, ou seja, pode colocar um monte de filtro, efeitos e molduras. Muito interessante e fácil de usar, mais simples que as duas opções anteriores, qualquer um consegue fazer com que aquela foto sem graça, se torne digna da capa de revista #sqn. Também para iPhone e Android.
O site Pixrl tem alguns diferenciais, além dessas 3 opções para edição, ele é consideravelmente rápido, ou seja, uma internet de velocidade média dá conta.

Fotor

fotor 1
Ora pois, esse site português é incrível, uma recente descoberta, muito fácil de usar, até para quem nunca editou imagem na vida. Também é dividido em 4 categorias, só que eles, ao contrário do que dizem, foram mais espertinhos, separando a colagem (várias fotos em uma só) em uma categoria específica.
fotor 2
Mil possibilidades, sério, muitas mesmo! É tipo um Photoshop para iniciantes, tem muitas funções do programa mais famoso de edição de imagem, só que de forma simples e inteligente. Essa categoria foi a que mais me impressionou pela qualidade dos efeitos e pela facilidade de uso.
Você pode fazer a edição básica da imagem, colocar filtros (incríveis), molduras, adesivos (que eles chamam de Clip-Art), texto. Tudo muito fácil.
fotor 3
Quem não tem um app desse no celular? Pois é, nem eu. Por isso essa parte do site pode te ajudar. Se quer poupar seus amigos de verem mil fotos, pode junta-las em uma só. Também muito simples de usar, podendo colocar mais de 8 imagens na mesma foto.
Além de ter opção de fazer montagens divertidas, com formatos diferenciados, de coração, por exemplo. Pode configurar as bordas, e o mais legal, tem a opção de fazer colagem livre! Ou seja, quantas imagens quiser, do tamanho que quiser.
fotor 5
HDR, já ouviu falar? Não, pois é, nem eu, de novo… que beleza. Mas pra quem não conhecia essa técnica, se liga nesse post que explica exatamente tudo que precisamos saber. Pois bem, como esse site é incrível, até edição de imagem em HDR é possível fazer.
fotor 4
Cartão de Natal, de aniversário, dia dos Pais, etc… no melhor estilo Power Point, só que melhorado, aqui você consegue fazer um cartão temático sem dores de cabeça.
Esse site português foi a descoberta mais genial desse mês, só que tem um problema, precisa de uma internet rápida, afinal, pra ser incrível precisa de muitas funções, tornando-o mais pesado.

Agora foto feia é uma questão de opção.
Aliás, você já viu esse post de como sair sempre bonito em foto?

Documentário ‘A Lei da Água’ fecha a Virada Sustentável em grande estilo

Paulina Chamorro
segunda-feira 01/09/14 14:57

O filme, que teve apenas uma exibição neste domingo, 31, conseguiu contar a história da criação do Código Florestal até a peleja das votações para sua nova versão unindo o que deveria parecer óbvio: o ciclo das águas e florestas.


O filme ‘A Lei da Água’, uma das últimas atrações da Virada Sustentável, revelou o espírito deste evento exuberante, colaborativo, que rolou por quatro dias nos quatros cantos da cidade de São Paulo e adjacências. Sua pré-estreia conectou o Novo Código Florestal (os pontos e contrapontos daquele processo, em 2012) com os dias de hoje e a crescente discussão sobre a ameaça do abastecimento de água aqui mesmo em nosso estado. E de quebra colocou o meio ambiente no centro do debate político-administrativo do País.
A sessão de pré-estreia ocupou um palco igualmente exuberante, mais uma ótima escolha dos organizadores do evento e do filme: o Auditório Ibirapuera recebeu centenas de privilegiados que tomaram “um soco no estômago” de realidade, segundo um dos próprios espectadores, em depoimento após a exibição de A Lei da Água. O filme ainda não tem data para fazer sua estreia nas salas de cinema do circuito tradicional. E também não será exibido pela internet. Por isso foi tão emblemática a sessão fechando a programação da Virada Sustentável 2014.
O enredo dinâmico e a velocidade de documentário conduz a plateia a experimentar uma sensação de frustração por não saber como agir e participar do processo que decidiu sobre o Código Florestal aprovado em setembro de 2012 e parcialmente vetado pela Presidente Dilma Rousseff um mês depois. Mais depoimentos na roda de conversas após o filme retrataram essa impressão de quem esteve lá no Ibira às 17h do domingão.
Esse é o papel de um filme tão criterioso e atual. Trazer a realidade das coisas mais próximas das pessoas. “Tem gente que acha que água nasce no cano”, disse o diretor André D’Elia, expondo o que ouviu durante a produção do filme, que contou com o cineasta Fernando Meirelles, presente no Auditório Ibirapuera e orgulhoso de poder dar sua contribuição ao projeto.
A tela grande e a nobre arte revelam em A Lei da Água, como talvez nenhum canal de tevê teve a ousadia de fazer, a opinião clara daqueles que venceram a votação do novo Código Florestal, os signatários do agronegócio no Brasil ( apesar do filme mostrar que nem dentro dos ruralistas existe consenso na maioria das opiniões expostos). Igualmente confrontou seus argumentos com estudiosos e especialistas de todas as ciências, de ambientalistas e também de gente comum que sente na pele os benefícios e prejuízos ao lidar com um tema tão transversal como as questões ambientais.
Pra não dizerem que é lobby ambiental, mas uma questão que bate à porta há tempos, algumas coincidências colocam o filme de André D’Elia na linha de fogo contra aqueles que ainda insistem em relegar a segundo plano o binômio meio ambiente/desenvolvimento e o futuro no Brasil. Logo após a sessão no Ibirapuera o Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma reportagem sobre desmatamento e a importância das árvores na Amazônia para a produção de água em todas as outras regiões do País e da América do Sul. Hoje o Estadão sai com o caderno especial Fóruns Brasil 2018 com a capa “Mudança na gestão ambiental é urgente”. Na última sexta-feira participei desse fórum como mediadora do painel com a Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e recomendo a leitura para entender melhor o que realmente está ocorrendo em nosso País. E pra fechar esse momento de muita reflexão sobre o futuro do meio ambiente do Brasil o site ((O Eco)) publicou a lista (LINK) dos deputados que votaram contra e a favor do Código Florestal, e qual deles estão agora pedindo para as urnas mais um mandato.
Com 806 lugares, todas as cadeiras do Auditório Ibirapuera poderiam estar ocupadas por esses mesmos políticos.
Veja o trailer do documentário:
No ultimo Planeta Estadão tem uma entrevista com o  diretor Andre D´Elia. Ouça aqui
RIOS VOADORES-
E finalmente, falando dos Rios Voadores (que ainda quero dedicar um post especifico sobre ele), resgatei aqui um  arquivo da Rádio Eldorado do programa Território  Aventura com áudio do  aviador Gerard Moss voando  num balão para a captação  destes vapores.


(Com Leandro Alves)

http://blogs.estadao.com.br/vias-alterlatinas/documentario-a-lei-da-agua-fecha-a-virada-sustentavel-em-grande-estilo/

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Oito visões sobre a crise da USP


A universidade gasta mais do que arrecada. Aprovou um plano de demissão voluntária. Parte dos funcionários e docentes está em greve desde maio. A seguir, oito professores de destaque em suas áreas apontam causas e possíveis saídas para os problemas
José Goldemberg
ex-reitor da USP (1986-1990)
"Eu me arrependo amargamente de não ter transformado em obrigação, no decreto da autonomia [universitária], a recomendação de que se gastasse até 75% do orçamento com pessoal.
Funcionários propõem pedir mais [recursos ao governo]. Não é solução. O Estado tem outras prioridades. Teria que tirar da saúde e da educação para dar às universidades.
A demissão voluntária tem funcionado bem em empresas [o programa de demissão da USP foi aprovado terça (2)].
Se o ICMS [imposto que destina recursos às universidades] não aumentar, fica difícil dar reajustes acima da inflação. [Negar aumentos maiores] Não vai sucatear coisa nenhuma. O que vai sucatear é fechar portões e bibliotecas e não deixar pesquisadores trabalharem."
Tuca Vieira - 27.jan.2006/Folhapress
José Goldemberg diz que grevista fechar portão da USP é que vai sucatear a instituição
José Goldemberg diz que grevista fechar portão da USP é que vai sucatear a instituição
*
Renato Janine Ribeiro
Professor titular de ética e filosofia política na USP
"Houve uma gestão irresponsável, um reitor que não foi devidamente escolhido pela comunidade e quer gastou dinheiro de uma forma aparentemente irresponsável. A USP não tinha e ainda não tem acompanhamento de gastos. Não veio a público que estávamos gastando tanto. Agora não dá para ser pelo arrocho de quem faz a universidade [que se irá economizar].
Se for para equilibrar a conta dentro do orçamento, teríamos que aceitar perda de salários de 15%, 20%. Isso destruiria a força, o ensino e a pesquisa, que a universidade demorou 80 anos para construir.
O que precisa ser feito para compensar as universidades estaduais pela expansão enorme [de vagas] com corpo docente praticamente mantido igual, não sei. Mas perda real de salário vai diminuir ainda mais o interesse de professores novos e aumentar o abandono de professores muito bons."
*
Nina Ranieri
Professora da Faculdade de Direito da USP, onde também já atuou como procuradora
"A USP já enfrentou momentos semelhantes no passado. É um problema administrativo, cujas alternativas estão sendo propostas. Sou dos que não veem isso como crise, mas como um problema conjuntural que vai ser resolvido.
Eu acho que o programa de demissões voluntárias foi uma proposta muito interessante, porque é voluntário, facultativo, adere quem quiser. Pode ser uma solução interessante para reorganizar o quadro de funcionários.
Entrei na USP em 1985. Perdi a conta de quantas greves já aconteceram. Os sindicatos estão no seu papel. O que precisa é ter uma razoabilidade na discussão desses temas. Se você colocar em perspectiva, você vê que a greve não é sinal do que está se chamando de crise. Ela não é produto da situação atual. Ela é sazonal, cíclica. A questão financeira é mais um elemento."
*
João Whitaker
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
"A crise na USP é mais política que orçamentária. A universidade já passou por outros momentos em que os gastos superaram os alegados 105% da folha de pagamento. Esse não pode, então, ser um argumento.
Desde a Constituição Estadual de 1989 era prevista a expansão da universidade pública em regiões com grande número de egressos do ensino médio. Nas disposições transitórias da Constituição, foram estabelecidos cinco anos. Já expiraram pelo menos 21. E a USP, a Unesp e a Unicamp expandiram vagas de graduação e pós-graduação, mas com os mesmos recursos desde 1995. São os mesmos 9% do ICMS.
O que está em jogo é uma disputa entre modelos de universidade. E o reitor optou por este, que eu critico, que é transformar a universidade em prestadora de serviços. A retirada de dois hospitais de ensino da universidade já é um desmonte."
*
Eugênio Bucci
Professor doutor da Escola de Comunicações e Artes da USP
"O rombo nas contas é um sintoma de uma instituição em que a figura do reitor foi acumulando um nível de poder inaceitável numa universidade moderna.
Uma distinção necessária: uma universidade não é uma empresa, por certo. Não obstante, não há universidade saudável sem uma gestão profissional competente. A USP parece não ter se dado conta desse detalhe mortal.
Os sindicatos vão pior ainda. Por agora, é indispensável e inadiável a mudança do estatuto. O que ainda permanece de opacidade na burocracia não é culpa da gestão atual, que vem trabalhando abertamente contra isso.
Além disso, o Plano de Demissão Voluntária é uma proposta acertada. Quem quiser se demitir terá um tratamento vantajoso. Nesse contexto, o anúncio de reajuste dos salários, ainda que tardio, é um sinal positivo. Antes, a reitoria cometeu um erro sério ao comunicar unilateralmente que, naqueles meses, não haveria aumento. O correto seria negociar antes com professores e funcionários."
*
Chico de Oliveira
Professor titular de sociologia da USP
"A minha posição é de que o ensino superior da universidade é uma conquista popular. Portanto, cabe ao governo do Estado e à Assembleia Legislativa dotar a USP de maiores verbas, e não com essa mania de economizar.
Quem economiza em ensino superior fica pra trás na roda da história. É nossa obrigação preservar essa universidade e fazê-la maior, acolher as classes populares que ainda não têm vez. Sou favorável a maiores verbas, com melhoramento dos critérios com os quais dotam essa universidade de recursos. Em detrimento de nenhum setor.
A universidade não é um substituto pra outros setores. Ela é própria, tem seu lugar, que é insubstituível. Essa história de deslocar verba de um canto pra outro é conversa de economista liberal."
Fabio Braga/Folhapress
Chico de Oliveira diz que cabe ao governo e à Assembleia dotar a USP de maiores verbas
Chico de Oliveira diz que cabe ao governo e à Assembleia dotar a USP de maiores verbas
*
João Whitaker
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
"A USP não está em crise. É a primeira em todos os rankings. O que acontece é uma crise de gestão, um problema causado por uma sequência interminável de gestões marcadas pela falta de transparência e, portanto, por um planejamento que ninguém conhece. O custo da universidade aumentou desproporcionalmente, o custo por aluno subiu. A USP só não quebrou hoje em dia porque houve o aumento do ICMS [imposto de onde vem o dinheiro para a USP]. Mas isso ainda não é suficiente.
Então vamos ser bem claros em período eleitoral: não se está querendo abrir o problema porque isso vai colocar em xeque a gestão do Estado sobre as universidades. Onde está o planejamento? Um plano que vem com soluções imediatistas, mas que não abre as contas da USP para um planejamento a longo prazo, não tem o menor sentido."
*
Maria Helena Souza Patto
Professora do Instituto de Psicologia da USP
"Em primeiro lugar, eu não chamaria de crise. Porque crise é o momento em que as coisas se desarranjam e você age de maneira a voltar ao normal. O que há é a explicitação de concepções inconciliáveis: há a universidade como um espaço que tem que formar técnicos de alto nível para um desenvolvimento econômico, que sabemos que não vai contemplar os interesses da população e que cede aos interesses do empresariado. E há a concepção da universidade como uma instituição de formação intelectual, de profissionais que tenham uma visão crítica da realidade em que vão atuar.
Eu acho que [o reitor] poderia ter trilhado outros caminhos. Poderiam aumentar um pouco a verba da universidade, porque ela cresceu nos últimos anos. Também é preciso também levar em conta que o reitor anterior gastou muito em obras questionáveis." 

domingo, 21 de setembro de 2014

Conheça alguns truques para eliminar os agrotóxicos de frutas e verduras

Por Elioenai Paes


Retirar a casca, lavar com bicarbonato ou limar a folhagem externa podem ajudam a diminuir as toxinas dos vegetais

Se para plantas, verduras e legumes o agrotóxico serve de proteção, para os humanos, é veneno. Muitas doenças, como câncer de fígado, de cérebro, leucemias e alguns tipos de tumores podem estar relacionados com o consumo dessas substâncias. Isso porque o organismo não dá conta de metabolizar o excesso do efeito tóxico causado por elementos como os metais tóxicos, que caem na corrente circulatória. 
“O fígado humano tem o poder de identificar as toxinas e transformá-las em não tóxicas. O problema é a quantidade. Consome-se tanto agrotóxico que o fígado fica sobrecarregado e não dá conta de metabolizar e anular o efeito tóxico. Com isso, as toxinas adentram as células e aumenta-se a incidência de câncer”, explica o nutrólogo Roberto Navarro.
Ranking: Veja os alimentos com maior teor de agrotóxico
Mas o que fazer para, no dia a dia, se proteger dos agrotóxicos? A melhor forma, todos sabem, é consumir produtos orgânicos. O problema está no preço, que pode ser o triplo do que se paga pelo alimento cultivado com agrotóxico. Por isso, alguns truques simples ajudam a cortar boa parte dos agrotóxicos contidos nas frutas, verduras e legumes. Veja abaixo como fazer:
Alface, couve e repolho: descartar as folhas externas e lavar as outras por 3 minutos em água corrente, e deixar na solução de bicarbonato de sódio. Foto: Getty Images
Pimentão e morango – são os campeões de agrotóxicos. “A quantidade de agrotóxicos que eles vão carregar depende de quanto tempo levam para amadurecer. Quanto mais tempo, mais pulverizações”, explica Navarro. Embora uma parte das toxinas penetre a polpa dos alimentos, é possível diminuir bem a incidência ao lavá-los e deixá-los de molho por meia hora em uma solução de 1 litro de água para 1 colher de bicarbonato de sódio. Depois disso, lavar bem novamente e consumir. O bicarbonato de sódio é eficiente para retirar o agrotóxico contido na casca.
Pepino, maçã, manga e mamão – como boa parte dos agrotóxicos está na casca, se a pessoa descasca, já se livra bem deles. O problema, no entanto, é que as fibras da maçã – que são saudáveis – estão na casca. “Lavar bem em água corrente, com uma esponja ou escovinha, ajuda bastante. Se quiser usar detergente, que seja neutro”, diz Navarro. Esses alimentos também podem ser deixados na solução de bicarbonato de sódio.
Navarro explica que aquelas frutas ou verduras que têm a casca bonita, com aspecto brilhante, sofreram ação de uma cera bactericida e fungicida, que também é um agrotóxico. “Tem que lavar bem com uma escovinha ou esponja, e depois deixar também no bicarbonato de sódio e lavar bem novamente em seguida”.
Alface, couve, repolho e cebola – As folhas externas são as que contêm mais agrotóxicos. “É bom tirar ao menos uma ou duas camadas, tanto das folhas como da cebola. Em seguida é preciso lavar bem em água corrente por dois ou três minutos e deixar por meia hora na solução de bicarbonato de sódio. Depois disso, é bom lavar novamente – o bicarbonato não deve ser ingerido”, explica Navarro. O nutrólogo explica que, com esse truque, é possível eliminar praticamente todo o agrotóxico dessas folhas.
Mas não se assuste com a nova cor que as folhas ganharão: provavelmente elas ficarão um pouco amareladas, fato que, segundo Navarro, não interfere no sabor.
Abacaxi e laranja – Navarro explica que o agrotóxico dessas frutas normalmente fica na casca. “A pessoa vai descascar e pronto. Não tem problema”.
Batata – Boa parte dos agrotóxicos entra na polpa, então não há nada que se possa fazer em relação a isso. Para aquele agrotóxico que se concentrou na casca, descascar a batata já elimina. “Passar uma escovinha também”, explica Navarro.
Tomate – O nutrólogo explica que o melhor é optar por tomates bem maduros. “Aquele que não está muito maduro ainda, que o agricultor colhe para poder vender e não estragar, contém maior quantidade de agrotóxicos. O maduro não, o agrotóxico vai saindo um pouco”, explica. Embora a maior parte das toxinas se concentre na polpa, Navarro recomenda também colocar o tomate no bicarbonato de sódio ou retirar a casca, pois essa atitude ajuda a eliminar as toxinas contidas ali.
Cenoura e beterraba – lavar bem em água corrente com uma esponja. A maior parte dos agrotóxicos fica na casca e a esponja já retira, segundo Navarro. “Pode colocar no bicarbonato de sódio também”, acrescenta.
Arroz e feijão – A recomendação é lavar bem em água corrente e não usar o bicarbonato de sódio, já que ele vai interferir no cozimento. “A quantidade de agrotóxicos no arroz e feijão não é tão grande e parte deles serão perdidos na água”, explica o médico.
Bicarbonato de sódio não deve ser consumido
Navarro acrescenta que o bicarbonato de sódio foi considerado uma das melhores substâncias para remover agrotóxicos de alimentos, segundo um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Mas é preciso ter atenção para não ingerir esse composto, daí a importância em lavar novamente os alimentos depois de deixá-los de molho na substância de 1 litro de água com 1 colher de sopa de bicarbonato. “O bicarbonato em excesso é alcalino, pode causar náuseas e vômitos."

http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-03-17/conheca-alguns-truques-para-eliminar-os-agrotoxicos-de-frutas-e-verduras.html

Candidata do PSB tornou-se refém do fundamentalismo

Sexta-feira 5, setembro 2014

Hatoum: “A mudança do texto original [do programa de governo] por pressão de líderes religiosos foi lamentável”
Confira a seguir a conversa com o escritor Milton Hatoum:
 Valor: Você iria votar em Marina e desistiu. O que houve?
 Milton Hatoum: Votei nela no primeiro turno em 2010. Este ano estava propenso a votar no candidato Eduardo Campos, isso sim. Acho que ele era um político de centro-esquerda com ideias para o Brasil, com liderança, não estava contaminado nem um pouco por um discurso messiânico, religioso.
 Valor: A questão religiosa gerou seu desencanto com Marina?
Hatoum: Achei até consistente o programa de governo da Marina, embora muito vago em alguns aspectos, mas quando eu li as alterações todas, feitas às pressas, vi que ela tinha se tornado refém dos partidos religiosos fundamentalistas.
Valor: Foi aí que “desmarinou”?
Hatoum: Em três dias vimos que a política pode mudar como as nuvens. A mudança do texto original por pressão de líderes religiosos foi lamentável. Mas também teve a adesão de velhas raposas da política brasileira à onda Marina nos últimos dias: José Agripino Maia, fisiológicos do PMDB. Quando ela diz que vai governar com os melhores isso não significa nada.
Valor: Você fala das possíveis alianças de Marina, mas era Eduardo Campos o responsável por elas.
Hatoum: Marina deu espaço demais [a esses líderes evangélicos]. Ela se inspira em versículos bíblicos aleatórios para tomar decisões. Isso é assustador, um retrocesso geral. Ele [Campos] fazia costuras, mas não aceitava o PMDB, que já está se aproximando da Marina, assim como outros políticos de caráter mais duvidoso. Acho que ele teria mais força de fazer um filtro.
Valor: O PSDB se enfraqueceu.
Hatoum: Perdeu toda a força que tinha no começo, o candidato Aécio Neves está perplexo, abatido com essa virada. Me parece que a disputa está definida [Dilma e Marina], não as eleições.
Valor: O PSDB fala que até 15 de setembro retomará o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Hatoum: Acho difícil. O PT tem um eleitorado muito cativo, quem vota no PT não vota em mais ninguém. Muita gente que vai votar na Marina não quer mais polarização [PT-PSDB] e tem muita gente que não pensa a política de forma reflexiva. Depois do acidente surgiu um elemento de quase devoção pela Marina. O PSDB não vira.
Valor: Essa devoção combina com a ideia de nova política?
Hatoum: Isso é chocante. Corremos o risco de essa devoção, esse personalismo ser substituído por um espécie de messianismo. Política não pode ser um ato consumado do plano divino, não pode ser inspirada pela Bíblia ou qualquer outro texto sagrado, porque o Estado laico se atrofia.
Valor: De novo a religião…
Hatoum: Repare na linguagem desse pastor [Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo]: disse que Aécio e Dilma não são malucos de defender temas como o casamento gay, se eles fizerem isso o sarrafo vai comer. É a linguagem do preconceito, da violência. É como chutar a imagem de uma santa católica, incendiar um templo de candomblé no Rio de Janeiro. Ele falou que o governo representará a maioria cristã da sociedade brasileira. Um absurdo! E os judeus, budistas, católicos, os mais de 20 milhões de agnósticos e ateus não estarão representados?
Valor: Não votar em Marina por ela ser evangélica é preconceito?
Hatoum: A questão é que a política não pode ser um ato consumado pelo poder divino.
“Velhas raposas aderiram à onda Marina; quando ela diz que vai governar com os melhores isso não significa nada”
Valor: Mas Marina é mais marcada pela religião do que seus adversários, não acha?
Hatoum: Ela é a mais marcada porque tudo tem uma conexão com o plano divino. Deus não sai de seu discurso. Eu acho isso estranho. Que os pastores digam isso, tudo bem, mas para um candidato de um Estado laico eu acho que ela está contaminada demais. Mais um dado importante: alguns membros da cúpula da direção do PSB já saíram, o secretário-geral, gente da executiva, o coordenador da área LGBT. Se ele se surpreendeu com a correção do programa de governo, o que dizer de um eleitor que acreditou por 24 horas naquilo. Não fiquei nem com o pé atrás. Pra mim foi a gota d”água.
Valor: Já considera o Aécio fora da disputa, e a presidente Dilma?
Hatoum: Ela está tentando reagir, o que atrapalha é o discurso pronto, ensaiado. Ela tinha que ser mais ela. Quando o mesmo José Agripino a interpelou sobre a ditadura há alguns anos, ela foi contundente e ele virou um boneco, porque não se brinca com a tortura. Se ela recuperar aquilo que ela é profundamente, e não aquilo que o marqueteiro quer que ela seja, pode ser positivo. Ela já reagiu com a criminalização da homofobia.
Valor: Mas as pesquisas agora apontam vitória da Marina.
Hatoum: O PT errou muito, não fez autocrítica, por isso é difícil votar hoje no PT e muita gente corre para uma nova opção, como se fosse algo diferente. Mas não é e não será: Marina será chantageada pelo PMDB, pelos religiosos, pelo PR, assim como foi com Dilma, FHC. Mas vai ter muita disputa ainda. Não podemos esquecer que o único partido com militância real ainda é o PT, isso pode fazer diferença. Nenhum partido brasileiro tem a militância do PT. Não é o Rede que é sustentável, é a militância.
Valor: Se não vai votar em Marina, qual será sua opção?

Hatoum: Estou sem candidato. Tem o Eduardo Jorge [PV], o PSOL, não me importo em votar em partidos pequenos. Vários amigos estavam com Marina e muitos desistiram depois do episódio do plano de governo. Entrevista publicada no jornal Valor Economico

Entrevista com o Triatleta, Ultramaratonista e Vegan Daniel Meyer


Recentemente encaminhei um e-mail ao Daniel logo que comecei a “postar” neste blog. Sempre acompanhei seu blog onde encontrei muitas coisas ali que uso e já usei. Quando vi sua resposta, fiquei feliz e admirado pela pessoa simpática que ele é.
Aos que não conhecem, Daniel Meyer é Triatleta e Ultramaratonista. Vegan desde de 2005, possuí o Blog Daniel Meyer Força Vegana, tem o apoio do Vista-se e, em sua página no Vista-se pode-se ler ( de suas próprias palavras):
“….Existem pessoas que nasceram para pintar, cantar, tocar, outras para exercer a medicina, engenharia e por aí vai. Eu, nasci para fazer triathlon e, hoje só me empenharei em algo que fizer meus olhos brilharem e meu coração bater mais forte.”
Assim, eu pensei em realizar uma entrevista com ele, mesmo que as perguntas sejam mais minhas dúvidas mesmo, Daniel me respondeu com muita atenção e apoio para minha “vida amadora de atleta” e para minha iniciativa em criar este blog.
Gostaria de agradecer ao Daniel Meyer por ter participado da entrevista e também pelos conselhos e experiências que compartilham conosco em seu blog.
Segue a entrevista, espero que gostem =D
Crédito da Foto( Cesar Carvalho e Murilo Rafael de Souza)
Crédito: Cesar Carvalho e Murilo Rafael de Souza
1 – Daniel, recentemente você colocou um post em seu blog sobre o New
Balance Minimus e, em seu mesmo blog, você já havia comentado sobre o usado Five Fingers.
O que eu gostaria de saber é, você já vem usando o New Balance Minumus? Se sim, quais suas impressões sobre ele? Em relação ao Five Fingers,
você já colocou uma avaliação em seu blog em agosto de 2011. Assim, 
gostaria de saber, se você faz treinamentos de corridas descalços e porquê? 

Não, ainda não tive a oportunidade de correr com o NB Minimus. Minha      intenção era adquirir o modelo voltado para corridas off road da linha  Minimus, visto que, em boa parte destas provas torna-se muito difícil correr    descalço ou com o VFF (Vibram Five Fingers) e obter o melhor desempenho possível. Ano passado arrisquei correr a K42 Adventure Marathon em Bombinhas com o VFF Sprint e tive muita dificuldade para suportar a dor na sola dos pés nos 12km finais da prova. Desde então, tenho procurado o calçado ideal para este tipo de competição, procuro algo que proporcione proteção ao pé, mas que ao mesmo tempo seja muito leve, flexível e com solado bem baixo, tudo que o Minimus me parece ser. Só não comprei o Minimus ainda por causa do preço, muito acima do que me disponho a pagar por um tênis. Até hoje jamais comprei um tênis por mais de R$250,00 e, mesmo sendo triatleta e ultramaratonista, compro somente 1 ou 2 pares de tênis por ano!
Aproximadamente, realizo 80% dos meus treinos de corrida descalço, 15% com o VFF e somente 5% com tênis convencionais de perfil baixo. Não tenho dúvidas em afirmar que correr descalço é mais eficiente, porém, não é possível correr descalço em qualquer lugar, por isso minha segunda opção é o VFF, que realmente proporciona quase todos os benefícios de se correr descalço com a vantagem de proteger o pé. Só tenho utilizado tênis mesmo, em terrenos muito ruins, distâncias muito longas ou em provas de triathlon curtas, onde uma transição veloz, ou seja, onde calçar o tênis rápido é de suma importância.
É interessante ressaltar que, desde que passei a correr quase exclusivamente descalço, me curei progressivamente de três lesões (tendinites) crônicas, nos tendões do calcâneo, nas laterais do joelho e no púbis! Coincidência ou não, fato é que, correr descalço, só me trouxe alegrias, sobretudo na questão econômica! rsrsrsrs
2 – Daniel, ainda em relação aos tênis de corrida, qual sua opinião sobre o mercado de tênis para corrida e, o que um iniciante ( vegan )
deve prestar atenção ao ambicionar corridas mais longas?
Felizmente hoje em dia, existem muitas opções de tênis que podem ser considerados veganos, no entanto, ainda não conheço uma marca de calçados esportivos com uma proposta totalmente vegana, me parece que todas elas possuem alguns modelos com componentes de origem animal. Ao procurar um tênis para corrida, primeiramente escolha o que mais te agrada, só então, olhe as informações sobre os materiais que compõem o tênis e na falta de informações precisas e detalhadas, entre em contato diretamente com o fabricante para saber se o calçado possui ou não componentes de origem animal. Lembrando que na maioria das vezes é preciso ser persistente para conseguir informações corretas dos fabricantes. A maioria das marcas de tênis deixa muito a desejar neste aspecto, geralmente fornecendo informações imprecisas e demorando muito para responder. Mas sempre vale à pena demandar um pouco mais de tempo e ter a certeza de estar comprando um produto isento de crueldade. Os calçados que utilizo para correr no momento são, VFF Sprint, VFF Bikila e Olympikus Rio. Para qualquer tipo de corrida e para a maioria das pessoas, eu sempre recomendo os tênis de solado bem baixo, mas se você está acostumado com tênis pesados com solado mais alto, principalmente no calcanhar, vá com calma, provavelmente será preciso um bom tempo de adaptação.
3 – Daniel, o que mais me admira em seus posts é o “compartilhamento” de sua alimentação e, principalmente, sua alimentação durante as provas. Apesar de eu haver lido,
 recentemente, sobre o uso de suplementos que você estaria utilizando e
, sendo patrocinado até, gostaria de saber se, para nós atletas amadores
 (vegans), você considera que seja importante o uso de suplementos ou se, tendo
 conhecimento sobre uma dieta equilibrada e, até mesmo, acompanhamento nutricional, uma alimentação 
natural, sem a necessidade de uma suplementação por meio de produtos industrializados, já seja o suficiente em atividades que exijam resistência?
Créditos: Cesar Carvalho e Murilo Rafael de Souza
Vou expressar minha opinião sobre esse assunto, de forma bem clara e direta. Suplementos esportivos podem ser úteis dependendo do caso, mas não são de forma alguma uma necessidade! É possível sim, para atletas de endurance veganos, amadores ou profissionais, atingirem excelentes níveis de desempenho esportivo com uma dieta vegana simples, barata e variada. Com exceção à vitamina B12, nenhum outro nutriente precisa ser suplementado, nem a tão badalada e comentada proteína, pois uma alimentação vegana supre com excelência nossas demandas por aminoácidos, sem qualquer necessidade de combinações mirabolantes de alimentos. Em mais de 7 anos como triatleta e ultramaratonista vegano, utilizei suplementos proteicos por pouquíssimos meses. Meu estilo de vida simples e tranquilo, definitivamente não demanda a utilização de qualquer tipo de suplemento salvo a vitamina B12 que não pode ser encontrada em alimentos de origem vegetal não fortificados.
Em termos gerais o foco dos atletas de endurance veganos ou não deve ser em manter uma ingestão elevada em carboidratos, moderada/baixa em proteínas e baixíssima em gorduras. O interessante é que uma dieta vegana natural possui exatamente essa configuração de macronutrientes.
Minha dica para atletas de endurance é a seguinte, abandone o máximo possível os alimentos industrializados e sempre que possível, compre a matéria-prima e cozinhe em casa, será sempre mais barato e saudável. Abuse dos cereais integrais, frutas, legumes e verduras, manere nas nozes, sementes e castanhas e reduza ao mínimo o consumo dos óleos. Esse é o caminho para a aquisição de um corpo magro, forte e resistente, que é a base para o sucesso em provas de endurance.
É importante entender que uma alimentação equilibrada e saudável não significa necessariamente, que você tenha que se abster de tudo que é industrializado, processado ou refinado. Existe espaço para todos estes alimentos dentro de uma dieta balanceada. Se você conseguir se abster de tudo isso, muito bom! Mas sabendo incluir os alimentos industrializados, em minha opinião, não haverá prejuízo para sua saúde e desempenho esportivo. Eu por exemplo, consumo alimentos refinados como macarrão, farinha de trigo e açúcar, mas de forma planejada, em geral utilizo açúcar refinado somente nas preparações de final de semana, onde dou uma relaxada na alimentação.
Se você está procurando a melhor relação entre custo e benefício, foque toda sua atenção e dinheiro, na alimentação e não na suplementação.
Por outro lado, esportistas veganos de modalidades em que uma massa muscular avantajada e um percentual de gordura baixíssimo são necessários, como no caso dos fisiculturistas, eu diria que a suplementação proteica é quase indispensável, caso queiram é claro, atingir o melhor desempenho esportivo possível. Não estou dizendo que não seja possível adquirir massa muscular com uma dieta vegana simples sem suplementos. Muito pelo contrário, eu, por exemplo, sempre tive um biótipo muito mais musculoso do que magro e, com minha esposa não é diferente, ela também é vegana há mais de 7 anos, nunca utilizou nenhum suplemento (exceto vit. B12) e mesmo sendo atleta de endurance é difícil encontrar mulheres com pernas tão fortes como as dela!
Mas no caso dos fisiculturistas veganos, a suplementação se faz necessária porque a dieta vegana é naturalmente moderada em proteínas, o que não atenderá as exigências competitivas da modalidade que, demanda um aumento de massa muscular extraordinário! Ao contrário do que muita gente pensa, a dieta vegana por si só não emagrece, o que emagrece é ingerir menos calorias do que se gasta. Minha maior dificuldade como atleta de endurance é, justamente emagrecer (eu como muito!).
Lembrem-se, um bom profissional da área da saúde, de preferência especializado em nutrição vegetariana, pode nos ajudar muito!
Mas precisamos romper essa dependência absurda e doentia em que vivemos hoje, em relação a esses profissionais. Cadê a autonomia das pessoas!? Parece que ninguém mais é capaz de chamar a responsabilidade sobre sua saúde para si, é sempre mais fácil pagar alguém para resolver as coisas, mas no final das contas, os profissionais poderão nos apontar um caminho, mas percorrê-lo, sempre caberá a nós mesmos. Com um pouco de boa vontade, estudo e percepção corporal, na maioria das vezes podemos decidir sozinhos o que é melhor para cada um de nós, estabelecendo nosso próprio ritmo e estilo de vida.
4 – Daniel, recentemente, diante de alguns maratonistas, fui alvo de piadas e descrença quando afirmei que minha base alimentar era o grão-de-bico (que, particularmente,gosto muito =D). Gostaria de saber, se o fato de você expor e divulgar o veganismo e ser contra a crueldade em animais, acaba causando o mesmo ou semelhante desconforto vindo dos demais atletas?
Na verdade, como atleta vegano, surpreendentemente eu sempre fui muito respeitado. Em mais de 7 anos divulgando e promovendo o veganismo através do esporte, nunca fui alvo de piada, comentários maldosos ou qualquer outro tipo de insulto. Acredito fortemente que a forma como abordo e divulgo o movimento vegano, aliado a minha postura nas provas e alguns bons resultados que venho colhendo ao longo dos anos contribuem muito para isso. Em todas as competições que participo alguém vem falar comigo querendo saber mais sobre dieta vegetariana e veganismo. De um modo geral as pessoas estão muito mais receptivas e abertas, mas é claro que ainda existe muita gente que acredita que alimentos de origem animal, principalmente a carne seja indispensável à saúde e, ficam muito irritados se alguém os contraria. Mas os que agem dessa forma são sempre pessoas totalmente desinformadas (alienadas pela mídia) e viciadas nesses alimentos. Pessoas assim, simplesmente não conseguem imaginar viver sem comer carne, leite ou ovos, por isso ficam tão nervosas. Nestes casos é preciso ter paciência e debater o assunto de forma pacífica.
A melhor resposta que podemos dar aos irônicos e descrentes “onívoros de plantão” é a informação, é presentea-los com uma avalanche de informações contundentes à cerca da dieta vegetariana. Até hoje não teve um onívoro se quer, que após ter conversado comigo não tenha se convencido de que os alimentos de origem animal são completamente desnecessários. Sabe por quê? Por que isto é um fato, já está provado cientificamente e milhões de veganos, atletas ou não, vem afirmando isto dia após dia, exibindo mentes sãs e corpos saudáveis! Em minha família nem todos são veganos, mas hoje todos reconhecem a forma cruel de industrialização dos produtos de origem animal e sabem muito bem que os alimentos de origem animal não são uma necessidade, ou seja, convencidos eles estão, mas foram tão fortemente doutrinados a consumir estes produtos que simplesmente não conseguem (ou não querem) mudar. Mas pode ter certeza que se ao menos aos domingos ao invés do “Domingão do Faustão”, passasse na TV bons documentários sobre exploração animal como “Terráqueos”, todo mundo já teria virado vegano!
5 – Em um dos posts em seu blog, uma frase me chama a atenção, é:


“Houve um tempo, em que eu corria simplesmente para mim, até descobrir 
que, através do simples ato de correr poderia ser possível tocar a alma das pessoas, 
alcançar sua mais pura essência, instigando-as a experimentar os mais 
suaves e também mais intensos prazeres destinados àqueles que se entreguem 
a 
mais simples das atividades humanas, CORRER!” 


Dos três esportes que você compete, a corrida é a que mais lhe dá prazer?
    Eu sou simplesmente apaixonado pelo triathlon de longa distância, a complexidade, a dificuldade e o empenho necessário para se desenvolver em 3 modalidades, simplesmente me fascina! É no ciclismo que possuo o melhor nível técnico, mas sem dúvida alguma a corrida, pela sua simplicidade, é o que mais me dá prazer. Sou um amante das coisas simples, um apaixonado pela prática de esportes ao ar livre e filho da Mãe natureza. Para mim, correr não é opção, é necessidade!
6 – Daniel, o ciclismo é um esporte para mim muito prazeroso e ao mesmo
 tempo o mais caro em termos financeiros, devido ao alto custo das
 bicicletas e equipamentos.
 As bicicletas para provas específicas dos triatletas não fogem a esta
 regra. Assim, se possível, para nossa curiosidade, qual é sua bicicleta,
 relação e, o que você considera essencial em uma bicicleta para uma boa e longa pedalada?

Realmente os custos de uma bicicleta competitiva são bem elevados, no entanto, tento mesmo assim economizar o máximo possível, procurando escolher sempre aquilo me proporcionará o melhor custo/benefício. Passei 5 anos competindo provas de triathlon, incluindo 4 provas de Ironman, com uma TREK 1000 com os componentes mais simples possíveis e sem rodas e capacete aero. Consegui uma bicicleta competitiva somente em meados de março de 2011 graças ao eterno e incondicional apoio dos meus pais. Para poder treinar e competir em alto nível eu precisaria de 3 bikes, uma MTB para cross triathlon, uma road bike para treinos e provas curtas e uma bike TT (Time Trial), especial para triathlon de longa distância, mas hoje possuo apenas uma, a TT. Minha bike é uma Cannondale Slice modelo 2011, a mesma utilizada por Crissie Wellington (4xcampeã mundial de ironman) só que com componentes bem inferiores, tamanho 58 com grupo shimano 105 de 10v, relação 52-38 na frente e 25-12 atrás.
Continuo competindo sem rodas e capacete aero, algo que prejudica consideravelmente meu desempenho. Sem dúvida nenhuma a Cannondale Slice era na época o melhor custo/benefício oferecido pelo mercado e provavelmente ainda continua sendo.
Com minha antiga road bike Trek 1000, meu melhor tempo nos 180km do ironman foi 5h15’, algo em torno de 34,4km/h, no meu primeiro ironman com a bike TT Cannondale Slice, cravei 4h52’, 37km/h! Por isso não tenho dúvidas em afirmar que uma boa bicicleta faz muita diferença, mas ainda assim acredito que o essencial mesmo em uma bicicleta é o ciclista! Rsrsrs
Brincadeiras à parte, para uma boa e longa pedalada, você não precisa de uma SUPER BIKE, mas que ela seja uma bike para o seu tamanho e que esteja principalmente com a altura do selim e do avanço (mesa) corretos. Acredito que um bom bike fit seja muuuuito útil, apesar de eu mesmo nunca ter feito. Aprendi tudo sozinho através de bastante estudo e prática. Para treinar não precisamos de equipamentos caros, os simples atendem muito bem a necessidade, mas para competir, quase sempre equipamentos mais caros irão se traduzir em melhores desempenhos.
7 – Daniel, você comenta em seu blog sobre o Scott Jurek, ultramaratonista
 que também é citado no livro “Nascidos para correr”, o mesmo é vegan, 
assim como
 David Zabriskie, ciclista da elite da Garmin/Barracuda. Éder Jofre, 
vegetariano, atribuía sua performance na alimentação. 
Como você vê o veganismo e a causa da libertação animal no mundo dos
 esportes e, o que ainda pode ser feito para a divulgação do veganismo por 
meio do esporte? 
Eu vejo o esporte como uma grande vitrine, através da qual podemos promover e difundir o veganismo de uma forma contagiante! Os feitos de atletas veganos são fonte de inspiração e motivação para que muitos onívoros abandonem os alimentos de origem animal. A mídia parece não querer que as pessoas saibam que os produtos de origem animal são desnecessários, por isso as pessoas permanecem desconfiadas e até com certo medo de tornarem-se veganas. A mídia e os maus profissionais da área da saúde são os maiores responsáveis por amedrontar e alienar as pessoas à respeito da dieta vegetariana. Por outro lado, quando as pessoas veem atletas veganos saudáveis, fortes e resistentes competindo em alto nível, realizando façanhas incríveis e alcançando muitas vezes os lugares mais altos do pódio, o medo e toda a alienação dão lugar a vontade e o desejo de se tornar vegano e parar de compactuar com a exploração animal. Para tornarem-se veganas, a maioria das pessoas precisa apenas de informação e inspiração.
Infelizmente acredito que muito pouco esteja sendo feito dentro do esporte para a promoção do veganismo, principalmente por falta de apoio/patrocínio destinado a carreira dos promotores veganos no esporte, a comunidade vegana, precisa ainda, reconhecer o nosso verdadeiro valor para a erradicação da exploração animal no mundo! As empresas veganas, precisam reconhecer também, que ser atleta vegano é profissão! E sendo profissão, é preciso ter um salário. Somos atletas diferenciados, não estamos interessados em ganhar rios de dinheiro, ficar famosos ou conquistar o campeonato mundial a qualquer custo. Somos promotores de uma causa e de um estilo de vida pautado na compaixão, na sustentabilidade e na ética. Precisamos apenas do mínimo de reconhecimento e apoio financeiro para realizar nosso trabalho de forma eficaz.
8 – Daniel, quais são suas aspirações, inspirações e expectativas para o
 ironman, já que, em suas próprias palavras, me comentou ser o
” único triatleta vegano profissional competindo as provas mais importantes 
do país e disputando o circuito mundial de IRONMAN”?
Na verdade eu ainda não disputo circuito mundial de ironman como profissional. Até agora participei das competições como amador, no entanto, após alguns meses de reflexão no começo deste ano, decidi investir tudo na minha carreira como triatleta vegano profissional.
Vivendo e treinando como profissional eu já estou, mas ainda estou passando por uma fase de transição. E para disputar o circuito mundial de ironman entre os profissionais não basta querer, é preciso ter o currículo aprovado e para isto, preciso ainda mostrar bons resultados como amador nas provas do circuito mundial de ironman e apresentar também resultados expressivos competindo na ELITE em provas nacionais. Ou seja, preciso provar que mereço estar entre os melhores. Acredito fortemente que com apoio financeiro, conseguirei alcançar todos meus objetivos. A maior motivação na decisão de me tornar triatleta vegano profissional é dar ainda mais visibilidade ao veganismo. Mais do que vencer os atletas onívoros, meu principal objetivo é convencê-los e ajudá-los a se tornarem veganos.
São nas provas de ironman (3,8km de natação/180km de ciclismo/42,2km de corrida) que se concentram minhas mais ambiciosas expectativas. Vou trabalhar duro para cravar um tempo sub 9h no Iron Brasil de 2013. Este ano ainda pretendo participar do Ironman Punta Del Este no Uruguai em dezembro, onde almejo finalizar entre os 5 primeiros colocados. Mas para mim, o “suprassumo” seria mesmo conseguir representar o veganismo em nível internacional, disputando o circuito mundial de ironman entre os profissionais e quem sabe conseguir conquistar os tão suados pontos necessários para poder disputar a final do campeonato mundial no Havaí.
9 – Nós, aspirantes, amadores, iniciantes ou demais atletas que são ou 
aspiram o veganismo, vemos em você uma grande referência. Para você, quem 
é, ou quem são,
 suas referências para a realização de suas conquistas?
Meus principais inspiradores fora do esporte são Henry David Thorreau e Gandhi por seus ensinamentos sobre desobediência civil e pela “luta” através da não-violência. Já no âmbito esportivo, meus heróis são todos aqueles atletas que ousaram pensar, ser e fazer diferente da grande massa. Em geral são os atletas “anônimos” que me servem de inspiração, pessoas próximas a mim, gente simples e guerreira, autênticos campeões, porém, esquecidos pelo próprio país. Eu não poderia deixar de destacar também minha gigantesca admiração por Amyr Klink, não somente, pelo grande espírito aventureiro que possui, mas principalmente por ser um homem simples, ético e totalmente comprometido em promover a sustentabilidade.
Em minha opinião, não são os melhores atletas que merecem o maior reconhecimento, mas sim, as melhores pessoas. Somente assim o esporte servirá como exemplo para toda uma nação. Mais do que títulos no esporte, um país precisa de atletas conscientes, pensantes e responsáveis, colecionadores de boas ações e não de medalhas, defensores de grandes causas e não do interesse próprio.
10 – Para finalizar, este blog está iniciando assim como eu, que estou 
iniciando na corrida e já me iniciei há algum tempo no ciclismo, e para
 aqueles, que por ventura,
 possam ler este blog, o que nos deixa como inspiração e reflexão?
Existem muitos crimes ocultos em nossa sociedade, por mais distantes dos supermercados e das lojas que esses crimes possam estar acontecendo, ainda assim existe cumplicidade. Não nos façamos de cegos e surdos, abramos os olhos, agucemos os ouvidos e gritemos o mais alto possível contra toda a crueldade e injustiça desse mundo.
No mais, só façam aquilo que vier da alma! Sejam autênticos, busquem sua verdadeira essência por mais diferente que ela seja. A única maneira de viver integralmente feliz é fazendo o que se ama. No final das contas, a única pessoa com quem você prestará contas no fim da vida, será você mesmo. Portanto, Carpe diem (aproveitem o dia)!
E lembrem-se, em termos universais não existe certo ou errado, o que existe é aquilo que nós consideramos certo ou errado.

http://atletaorganico.wordpress.com/2012/05/20/entrevista-com-o-triatleta-ultramaratonista-e-vegan-daniel-meyer/

"A homofobia está em apuros", diz professor da Universidade de Stanford

Por Ana Ribeiro | - Atualizada às
Reprodução
Paul Robinson, historiador e professor da Universidade de Stanford
Paul Robinson é historiador e professor de Stanford, uma das universidades mais conceituadas do mundo. Especialista em história intelectual européia, alcançou reputação internacional por seus escritos sobre Freud e a história da música. Desde o início de sua carreira, na década de 1960, no entanto, tem se dedicado a estudar o que pensamos sobre o sexo. "É parte da nossa história intelectual tanto quanto a história do pensamento político, econômico ou social", disse ele em entrevista a Marguerite Rigoglioso, do jornal virtual Stanford News
Faz cinco décadas que ele se dedica ao estudo da evolução do mundo da sexualidade gay. As mudanças culturais que ocorreram no período provocaram o que ele define como "a erosão do armário" e a contínua indefinição de limites sexuais. Segundo ele, com o casamento igualitário legalizado em 19 dos 50 estados americanos e leis que previnem que homossexuais sejam impedidos de servir nas forças armadas, gays e lésbicas nunca tiveram tanta liberdade e direitos assegurados.
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O professor Robinson é homossexual e acompanha de camarote a evolução contínua da cultura gay. "Nos últimos 15 anos, a homossexualidade tornou-se o assunto em tempo integral da minha escrita", afirma o criador do seminário Autobiografia Gay, que oferece aos alunos da universidade desde 2000. "Manter em segredo sua homossexualidade é uma maneira particularmente americana de lidar com o fato, mas há um sentimento crescente de que você não pode viver uma mentira", observou Robinson. 
O professor sabe muito bem do que está falando. Sua própria trajetória até se entender com sua sexualidade foi repleta de sofrimento, passando por tentativas de "conversão" a partir do casamento e da religião. Em 1967 se assumiu para amigos e família, mas demorou mais 15 anos para sair do armário para seus colegas da Universidade de Stanford em 1982.
Você vê homossexuais se casarem, estabelecerem uma família. Muitos estudantes gays assumem que serão pais. É uma situação radicalmente diferente de 20 ou 30 anos atrás, quando os homens homossexuais tinham animais de estimação, mas não filhos
Robinson diz que desde os anos 70 tem assistido a uma série de mudanças nas atitudes, crenças e práticas dentro e sobre a cultura gay. "As pessoas têm cada vez mais vindo a público, mesmo no mundo do beisebol ou futebol, por exemplo", citou ele, que também observou uma tendência ao que chama de "assimilação gay." "Você vê homossexuais se casarem, estabelecerem uma família. Muitos estudantes gays assumem que serão pais. É uma situação radicalmente diferente de 20 ou 30 anos atrás, quando os homens homossexuais tinham animais de estimação, mas não filhos."
Ele confessa que ficou "agradavelmente surpreso" com a velocidade dos fatos. "Tudo aconteceu muito de repente. Pensei que ia demorar mais tempo", disse ele. "Tomo isso como evidência de que a homofobia está em apuros, talvez fatalmente. "
A procura por seu seminário está cada vez maior. Muitos estudantes de Stanford estão se inscrevendo, sem pudor de dizer aos colegas que frequentam o curso. O grupo é bem misturado e Autobiografia Gay agora atrai pessoas transexuais. "O tema do transgênero surge frequentemente nas discussões em classe, é uma questão que está sendo levantada por pessoas cada vez mais jovens", disse Robinson.
Sexualidade moderna
Homens hetero podem ter uma experiência gay e não significa que sejam gays. Os gays estão abertos à possibilidade de se apaixonar por um hetero e o relacionamento dar certo. As pessoas não já não têm de definir se são heteros ou gays
Robinson afimrou que muitos estudantes se identificam como "não-binários", recusando-se a obedecer a classificação masculino ou feminino. Alguns estudantes se consideram "assexuados"; estão interessados ​​em relações românticas e não querem ter relações sexuais. "As velhas categorias masculino-feminino, hetero-gay não são tão estabelecidas como costumavam ser", disse ele. "Há uma sensação de que praticamente todo mundo está em jogo", observou Robinson. "Homens hetero podem ter uma experiência gay, mas não significa que sejam gays. Os gays estão abertos à possibilidade de se apaixonar por um hetero e o relacionamento dar certo. As pessoas não já não têm de definir se são hetero ou gay. "

http://igay.ig.com.br/2014-09-19/a-homofobia-esta-em-apuros-diz-professor-da-universidade-de-stanford.html

A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?



“Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias”.(Jacques-Alain Miller)
jacques alain miller

Entrevista com Jacques-Alain Miller, publicada na Psychologies Magazine de outubro 2008 (n° 278).

Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?
Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.


Psychologies: Então, o que é amar verdadeiramente?
Jacques-Alain Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.


Psychologies: Por que alguns sabem amar e outros não?
Jacques-Alain Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.


Psychologies: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…
Jacques-Alain Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.


Psychologies: Amar seria mais difícil para os homens?
Jacques-Alain Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.


Psychologies: E nas mulheres?
Jacques-Alain Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…


Psychologies: Por que “cada vez mais”?
Jacques-Alain Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman. Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.


Psychologies: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?
Jacques-Alain Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.


Psychologies: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?
Jacques-Alain Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher!


Psychologies: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!
Jacques-Alain Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.


Psychologies: O senhor atribui algum papel às fantasias?
Jacques-Alain Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.


Psychologies: E a fantasia masculina?
Jacques-Alain Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe, a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.


Psychologies: Tem-se a impressão de que somos marionetes!
Jacques-Alain Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.


Psychologies: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?
Jacques-Alain Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante”. Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.


Psychologies: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas…
Jacques-Alain Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.


Entrevista realizada por Hanna Waar
Tradução de Maria do Carmo Dias Batista

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