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Berlinale

Derek Jarman já era o cara

Caravaggio foi e continua sendo um filme precursor
por Orlando Margarido publicado 09/02/2014 11:15, última modificação 09/02/2014 15:54
Caravaggio
O Caravaggio percursor de Jarman
Berlim -- Na correria quis postar todos os textos de ontem de uma vez e acabei por perder tudo quando a internet do hotel caiu. Bem, agora vou aos poucos, como muitos me cobram aliás que faça. Não tanto pela ordem da agenda aqui, mas quero começar pelo diferencial da programação nesses dias. Na sexta à noite fomos eu e Luiz Carlos Merten a uma sala no centro da cidade para rever Caravaggio, de Jarman. Há um motivo para que o filme em cópia nova seja exibido nesta edição. Tilda Swinton, que já foi presidente do júri da Berlinale, voltou com a trupe de Wes Anderson. Ela tem um papel até pequeno em The Grand Budapest Hotel, como a velha (surge envelhecida) que morre em acidente e deixa uma cara pintura ao concierge de quem era amante. É um contraste e tanto com Caravaggio. Em 1986, Tilda tinha 26 anos mas já surgia com o visual andrógino e excêntrico que a marcaria, e inclusive também por isso cai com perfeição ao universo de Anderson. Comentamos, eu e Merten, que foi a saída para uma atriz que não se marca exatamente pela beleza, mas sim, faz uma figura muito interessante. Curioso que ambos os realizadores se preocupem especialmente com uma estética, um visual que os identifica, embora Jarman seja muito mais refinado e elegante. Tilda por certo integra essa estética. Mas e o filme? Concordamos também que Jarman já apresentava uma elaboração, um conceito, que não consegue imitação no mesmo nível. Ou seja, fez antes o que muitos tentaram, e ainda tentam, sem muito sucesso. O cineasta inglês barroco se lança sobre o grande pintor do barroco. Jarman era gay e isso faz toda a diferença em sua aproximação. Não lembrava que a horas tantas Caravaggio beija na boca um de seus jovens modelos, um tipo rude por quem se interessa em uma paixão nada platônica. É o papel de Sean Bean, que trabalhou em O Senhor dos Anéis. Posa seminu para o pintor em troca de moedas de ouro. O próprio Caravaggio vende seu corpo para velhos endinheirados para sobreviver antes de conseguir um mecenas. Agora pode pagar pelos modelos que quer. A mulher de Bean é o papel de Tilda Swinton, num triângulo amoroso que cresce em cena. A história do artista começa quando este está moribundo e corre por sua trajetória através das pinturas que o celebrizaram. Jarman morreu em 1994 por complicações da aids. As pragas que aniquilaram artistas, hoje e no passado. Tilda desde então tornou-se uma representante de sua memória e costuma falar do diretor em suas entrevistas. Foi o que fez durante a coletiva de Anderson. Não pode apresentar Caravaggio porque no mesmo momento apresentava o filme do coreano Bong Jong-ho. Mas sua presença na tela já diz muito dela e de um realizador que se tornaram cults.