Pais contam como encararam a notícia de que os filhos são gays
Julliane Silveira
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
"A gente aceita o filho do vizinho, mas quando acontece em casa...", diz a dona de casa Vera Bussolaro, 53, que há três anos recebeu a notícia de que o filho é homossexual.
A frase ilustra bem a realidade dos pais que se chocam ao descobrir a homossexualidade de um filho. Mesmo com a avalanche de informações divulgadas sobre o assunto, aceitar a questão continua sendo difícil para muitas famílias.
Vera, mãe de Vitor Bussolaro, 21, conta que o processo foi bastante doloroso. "Mãe nenhuma está preparada para ter um filho gay", diz ela. "Não o rejeitei quando soube, e, sim, o abracei, cuidei dele... Mas senti vergonha, sofri muito. Eu não tinha com quem conversar, porque não é um assunto fácil de abordar com as pessoas".
Assim como Vera, outros pais sofrem muito quando ficam sabendo que o filho ou filha é homossexual. A aceitação leva tempo, principalmente porque o preconceito ainda persiste.
"As escolhas sexuais dos filhos não são um problema. As pessoas devem viver sua orientação sexual com liberdade. Em casa, não discutimos o assunto, e, sim, acatamos e respeitamos. Não tratamos a orientação sexual da minha filha como uma diferença, mas como uma característica. É obrigação dos pais serem um porto seguro para o filho, acolher, dar suporte. Quando damos suporte aos filhos, eles se tornam mais fortes. Se os pais se sentem discriminados, também é porque se importam demais com opiniões alheias". Cezar Augusto Brandt, 60, pai de Maria Augusta Brandt, 25
"Pouco mudou nesses 25 anos em que eu trabalho com o tema", afirma Edith Modesto,
professora do curso de extensão Diversidade de Orientações Sexuais e
Identidades de Gênero da USP (Universidade de São Paulo) e fundadora do
GPH (Grupo de Pais de Homossexuais). "O preconceito é internalizado e
ainda é muito difícil para os pais aceitarem que o filho é diferente do
que eles sonharam".
Segundo os especialistas ouvidos por UOL Comportamento, a maioria dos pais se nega a enxergar que o filho é homossexual, o que dificulta ainda mais as relações familiares. Compreender que a sexualidade de uma pessoa não é uma escolha (seja ela heterossexual ou homossexual) é um passo importante.
Segundo os especialistas ouvidos por UOL Comportamento, a maioria dos pais se nega a enxergar que o filho é homossexual, o que dificulta ainda mais as relações familiares. Compreender que a sexualidade de uma pessoa não é uma escolha (seja ela heterossexual ou homossexual) é um passo importante.
"Eu
percebi como era ignorante a respeito desse assunto e foi um alívio
saber que não era uma opção dele ser dessa forma. Meu filho nasceu assim
e o coração fica muito mais leve quando se aceita isso", conta Vera.
"Eu queria ser feliz e queria que meus filhos também fossem. Então, coloquei isso como objetivo da minha vida. Vi que ele precisava ser amado e respeitado em sua própria casa. Hoje, eu não tenho um 'filho gay'. Eu tenho um filho".
"Eu queria ser feliz e queria que meus filhos também fossem. Então, coloquei isso como objetivo da minha vida. Vi que ele precisava ser amado e respeitado em sua própria casa. Hoje, eu não tenho um 'filho gay'. Eu tenho um filho".
Contar ao pai
foi outro momento delicado, segundo Vera. "Esperei seis meses para
fazer isso. Para minha surpresa, a reação dele foi bem melhor do que a
minha. Ele sofreu, claro, mas foi muito mais sereno".
"Eu desconfiava que meu filho fosse gay. Então, não foi preciso que ele me contasse nada. No começo, é comum ficar chocado, mas, com o tempo, é preciso entender que a vida é deles. Não adianta se opor, porque a situação fica ruim para todos. Como rejeitar um filho? Como expulsá-lo de casa? Não é bem por aí. O amor continuou o mesmo depois que eu soube. Filho é filho. Eu me dou muito bem com ele, recebo os amigos em casa, são todos excelentes pessoas". Fátima Fiebig, 51, mãe de Willian Fiebig, 30
Filhos e pais sofrem
"Se é difícil o jovem se aceitar, por causa do preconceito, imagina
para os pais?", pergunta Edith Modesto. "O processo de aceitação dos
pais e da autoaceitação dos jovens é o mesmo. Mas os jovens têm tempo
para isso, enquanto os pais são cobrados para aceitar a situação
imediatamente", compara.
Mas alguns pais vão na contramão desse padrão de comportamento. Um exemplo é o de Fátima Fiebig, 51, que é testemunha de Jeová. Para ela, religião e preconceito ficaram de lado na hora de aceitar o filho gay.
"Minha mãe sempre soube, mas nunca conversamos diretamente sobre o assunto. Um dia, ela me disse que poderia contar sempre com ela, que nada ia mudar", lembra o técnico em nutrição William Fiebig, 30.
Mas alguns pais vão na contramão desse padrão de comportamento. Um exemplo é o de Fátima Fiebig, 51, que é testemunha de Jeová. Para ela, religião e preconceito ficaram de lado na hora de aceitar o filho gay.
"Minha mãe sempre soube, mas nunca conversamos diretamente sobre o assunto. Um dia, ela me disse que poderia contar sempre com ela, que nada ia mudar", lembra o técnico em nutrição William Fiebig, 30.
Entusiasmado, William conta
que sua avó, de 78 anos, também não vê problemas em relação à sua
orientação sexual e até vai aos eventos gays que ele organiza em
Varginha, no interior de Minas Gerais. "Ela sobe no trio elétrico, leva
sorvete para mim... Acho que vivo uma realidade bem diferente, porque
minha família é muito aberta", conta.
O apoio dos pais é
fundamental para que o filho tenha uma vida plena. O "colo" da família o
ajudará a enfrentar desde o bullying sofrido na escola até as
dificuldades no trabalho.
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"Sou
cinquentona e a idade me tornou capaz de viver as dificuldades com mais
integridade. Sou uma lésbica assumida publicamente, mas não faz muito
tempo. Antes disso, ficava evidente que eu era lésbica porque me
relacionava afetivamente só com mulheres e, nas poucas vezes que me
perguntaram, nunca neguei. Afirmo com todas as letras, sem qualquer
arrependimento, que obtive muitos benefícios abraçando publicamente
minha identidade lésbica. Fiquei mais bem humorada, tranquila e minha
autoestima melhorou. Realmente, mofar dentro do armário não é legal. Mas
cada uma tem que respeitar o seu ritmo e, aos poucos, criar condições
de se assumir. Não me sentia feliz quando não podia, ou melhor, achava
que não podia exercer livremente minha sexualidade e afirmar que a minha
orientação sexual era diferente da maioria das mulheres. Eu tinha como
controlar meu comportamento, disfarçar, ter namoricos com garotos, mas o
meu desejo não. Depois de vários conflitos, angústia e sofrimento,
resolvi, respeitando o meu ritmo, não apenas sair do armário,
literalmente o arrombei mesmo. Ninguém pode se realizar como ser humano
se não exercer livremente sua sexualidade com quem desejar. O amor nos
proporciona uma experiência de transformação, é fundamental para o nosso
amadurecimento. Quando uma lésbica vive seu amor de forma plena e
livre, ajuda na luta contra o ódio e preconceito homofóbico. Além de uma
luta individual é social", Hanna Maryam Korich, 55 anos, advogada e
autora do livro "Frente e Verso - Visões da Lesbianidade" escrito em
parceria com Lúcia Facco e Laura Bacellar Arquivo pessoal
"Não é só no âmbito sexual que o apoio da família é importante", explica a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, coordenadora do Projeto Ambsex (Ambulatório da Sexualidade), de São Paulo. A rejeição dos pais afeta negativamente o desenvolvimento emocional, mexe com a autoestima e gera problemas até na vida profissional, trazendo insegurança, segundo Carla.
"Quando soube, eu pirei. Eu era professora universitária e ninguém falava sobre esse assunto –isso aconteceu há 25 anos. Existia um preconceito internalizado, fiquei apavorada! Não conseguia conversar sobre isso com ninguém. Então, entrei na internet e descobri um fórum de discussão do UOL sobre homossexuais. Fiquei dois meses acompanhando. Então, me apresentei e eles me pegaram no colo. Essa troca de experiências e informações foi fundamental para mim. Você se identifica com o outro e a ajuda é mútua. Foi o pessoal do grupo que me incentivou a criar o Grupo de Pais de Homossexuais". Edith Modesto, 73, mãe de Marcello Modesto, 44
"Eu vejo o apoio da minha família como uma blindagem. É importante que
meus pais se proponham a participar da minha vida do jeito que eu sou e
que eu tenha a segurança de ter sempre para onde voltar. Eu não preciso
lutar todos os dias para sobreviver numa família hostil", diz a
jornalista Maria Augusta Brandt, 25.
Quanto antes o tema for abordado na família, mais fácil será a aceitação de todos os membros. "Irmãos de homossexuais, por exemplo, devem saber o quanto antes. Quanto mais novos forem, menos preconceito terão", diz Edith Modesto.
Quando abordar o assunto?
Para a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, não é preciso (nem é
indicado) ter uma abordagem direta sobre o assunto, sob o risco de
afastar o filho ou deixá-lo em uma situação embaraçosa.
"Em vez de perguntar 'você é gay?', o ideal é dizer ao filho que ele pode contar com você para qualquer coisa e que você está aberto para conversar", indica. Dessa forma, ele saberá que poderá se abrir com a família quando se sentir preparado. Dar ao jovem um livro sobre o assunto pode ajudar.
"Em vez de perguntar 'você é gay?', o ideal é dizer ao filho que ele pode contar com você para qualquer coisa e que você está aberto para conversar", indica. Dessa forma, ele saberá que poderá se abrir com a família quando se sentir preparado. Dar ao jovem um livro sobre o assunto pode ajudar.
Quanto antes o tema for abordado na família, mais fácil será a aceitação de todos os membros. "Irmãos de homossexuais, por exemplo, devem saber o quanto antes. Quanto mais novos forem, menos preconceito terão", diz Edith Modesto.
Acima de tudo, é importante se munir de muita informação. "Se o
homossexual pudesse escolher, escolheria ser heterossexual, porque sabe
como é custoso se assumir diante de tanto preconceito", afirma Carla
Cecarello. "Por isso, é importante saber que ser gay não é doença, muito
menos 'sem-vergonhice'. É preciso ler, conversar com outras pessoas e
ter a cabeça preparada" diz ela.
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"Tentei
levar uma vida de heterossexual, mas não deu certo. Casei para provar a
mim mesmo algo que eu não era, mas quando os gêmeos completaram dois
anos decidi me separar, sair de casa e assumir minha opção", conta
Jackson Leia mais Bob Donask/UOL
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