O construtor de Pontes
Markus Zusak, autor de 'A Menina que Roubava Livros', lança romance após 13 anos
Markus Zusak, autor de 'A Menina que Roubava Livros', lança romance após 13 anos
Carolina
Daffara
23.nov.2018
às 20h00
· · Clara Balbi
São Paulo
Foram 13
anos, quase dez tentativas diferentes de narração (em uma delas, a função cabia
a uma musa, como nos épicos gregos) e mais de 500 páginas até que Markus Zusak
concluísse seu sexto romance, “O Construtor de Pontes”.
Lançado
internacionalmente em outubro, deve chegar ao Brasil no início de 2019.
A pressão
sobre o australiano de 43 anos não era pouca. Seu trabalho anterior, “A Menina
que Roubava Livros”, era narrado por ninguém menos que a Morte e vendeu 16
milhões de cópias desde a sua publicação, em 2005. Oito anos mais tarde,
ganhou uma versão cinematográfica com Geoffrey Rush e Emily
Watson no elenco e indicada ao Oscar de melhor trilha sonora.
[ x ]
Mas o
maior problema, diz Zusak em entrevista à Folha, eram suas próprias
expectativas. A premissa da obra o acompanhava desde os 20 anos. “Queria
escrever um livro melhor do que eu mesmo; acima de mim mesmo”, diz. “Acho que
por isso demorei tanto.”
A busca
pela perfeição é compartilhada com o protagonista de “O Construtor de Pontes”,
o quieto e obsessivo Clay. Órfão de mãe e abandonado pelo pai, ele e
os outros quatro irmãos Dunbar —Matthew, Rory, Henry e Tommy—, vivem
sob as próprias regras na casa da família em um subúrbio
australiano.
“Muitos
nos consideravam desajustados. Bárbaros. No geral, tinham razão”, descreve
Matthew, primogênito do clã e narrador enfim eleito por Zusak.
Um dia,
para surpresa dos filhos, o pai retorna à casa e pede ajuda para construir uma
ponte. Clay é o único a aceitar a empreitada.
A
aproximação entre os dois é o ponto de partida para a reconciliação da família,
destroçada desde a morte da matriarca Penélope.
Para
Clay, explica Zusak, a ponte simboliza uma espécie de redenção, “uma coisa
perfeita que vai salvar a todos”.
Ao
construí-la, porém, o protagonista descobre que o processo é muitas vezes mais
valioso que o resultado.
O arco do
personagem imitou o de seu autor. “Foi só quando percebi que o livro jamais
seria perfeito, e que o mais importante era trabalhar duro, que consegui
terminá-lo.”
No
Brasil, “O Construtor de Pontes” será lançado em dezembro pelo clube de
assinatura da Intrínseca. Como os assinantes recebem os títulos 45 dias antes
de sua estreia oficial nas livrarias, a obra só será comercializada no país no
primeiro trimestre de 2019.
Seus
direitos haviam sido comprados pelo dono da editora, Jorge Oakim, ainda em
2007, quando “A Menina” estourou no Brasil. “Foi uma boa espera, mas sempre
soubemos que seria um grande livro.”
Além de
difícil de escrever, Zusak afirma que o livro também deve se mostrar mais
desafiador para os leitores. Extensa (são 528 páginas na edição brasileira), a
narrativa mistura relatos de diferentes gerações da família Dunbar, da infância
dos pais dos meninos, Penélope e Michael, à vida adulta dos cinco.
O autor
compara a estrutura da trama ao vaivém das marés. “Um de seus temas mais fortes
é a ideia de que nossas histórias começam muito antes de nascermos”, diz.
“Embora Clay tente seguir adiante, para longe dos irmãos, a memória sempre o
alcança. O que aconteceu com Penélope e Michael no passado ainda impacta a
família no presente.”
A forma
também é uma das muitas alusões à “Odisseia” espalhadas na narrativa, a começar
pelo nome da mãe, Penélope, batizada em homenagem à esposa de Ulisses.
Tal qual
os heróis gregos, a matriarca ganha diversos epítetos ao longo da obra: é a
Rainha dos Erros, a Garota do Aniversário, a Noiva do Nariz Quebrado.
Além
dela, há Heitor, o gato; Telêmaco, o pombo; Agamemnon, o peixe; e Aquiles, a
mula. Praticamente um membro da família, o último foi determinante na escolha
do cenário da obra, uma cidadezinha famosa pelo turfe.
“Precisava
que as pessoas acreditassem que uma mula poderia viver na casa dos Dunbar”,
afirma Zusak.
A casa,
aliás, sintetiza a atmosfera de masculinidade juvenil que permeia o livro, com
suas pilhas de louça suja, palavrões e reprises de filmes de ação (o brasileiro
“Cidade de Deus” é um aos que os irmãos assistem).
Nesse
sentido, “O Construtor de Pontes” remete menos a “A Menina que Roubava Livros”
e mais aos primeiros livros do escritor, “O Azarão”, “Bom de Briga”, e “A
Garota que Eu Quero”.
Lá também
estão presentes a fascinação por lutas de todo tipo e relações fraternais que
alternam amor e ódio, além do contexto da classe operária australiana em que o
escritor cresceu.
Apesar
disso, Zusak não encara o novo trabalho como um retorno às origens. “Ele não é
mais autobiográfico, digamos, do que ‘A Menina que Roubava Livros’, que se
baseia nas histórias dos meus pais sobre suas infâncias na Alemanha e Áustria nazistas”,
diz.
Depois de
mais de dez anos imerso na escrita do livro recém-lançado, o autor diz estar
trabalhando em um novo manuscrito, usando trechos de um dos narradores
descartados em “O Construtor de Pontes”.
Nada de
figuras mitológicas, porém. A personagem, no caso, é a irmã mais nova de Carey,
interesse amoroso de Clay. Batizada de Maggie, ela foi suprimida da trama
atual. “Acho que talvez haja uma nova história para ela contar”, diz
Zusak.
Principais temas do novo livro
Mula
Chamado de Aquiles, o animal tem um importante papel na narrativa. Teimoso como Clay, ele simboliza a ideia de que a ambição é um tanto tola.
Chamado de Aquiles, o animal tem um importante papel na narrativa. Teimoso como Clay, ele simboliza a ideia de que a ambição é um tanto tola.
Zoológico
A história se passa em um distrito conhecido pelo hipismo, e o par romântico de Clay é uma joqueta. Por isso, junto ao zoológico da casa dos Dunbar, há ainda um sem-fim de cavalos, com nomes como El Matador e Kingston Town.
A história se passa em um distrito conhecido pelo hipismo, e o par romântico de Clay é uma joqueta. Por isso, junto ao zoológico da casa dos Dunbar, há ainda um sem-fim de cavalos, com nomes como El Matador e Kingston Town.
Michelangelo
O artista é ídolo de Clay e do pai. A obra favorita dos dois não é Davi, mas uma estátua conhecida como ‘Os Escravos’, que parece para sempre inacabada.
O artista é ídolo de Clay e do pai. A obra favorita dos dois não é Davi, mas uma estátua conhecida como ‘Os Escravos’, que parece para sempre inacabada.
Figurinha repetida
Brigas
Os personagens de Zusak adoram uma briga. Em ‘O Azarão’, o passatempo dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe é o jogo Um Soco, enfrentando-se no quintal cada um com uma luva de boxe. O judeu Max, escondido na casa de Liesel em ‘A Menina que Roubava Livros’, é O Lutador. Em ‘O Construtor de Pontes’, os irmãos vivem batendo —e apanhando.
Os personagens de Zusak adoram uma briga. Em ‘O Azarão’, o passatempo dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe é o jogo Um Soco, enfrentando-se no quintal cada um com uma luva de boxe. O judeu Max, escondido na casa de Liesel em ‘A Menina que Roubava Livros’, é O Lutador. Em ‘O Construtor de Pontes’, os irmãos vivem batendo —e apanhando.
Corridas
Clay começa a correr obsessivamente depois da morte da mãe, e seus irmãos decidem treiná-lo usando métodos pouco convencionais. Em ‘A Menina que Roubava Livros’, Rudy Steiner também é fã do esporte, e tem como ídolo o atleta negro norte-americano Jesse Owens. ‘Tenho que praticar muito até ficar bom em qualquer coisa. Acho que por isso gosto de corredores e brigões’, diz Zusak.
Clay começa a correr obsessivamente depois da morte da mãe, e seus irmãos decidem treiná-lo usando métodos pouco convencionais. Em ‘A Menina que Roubava Livros’, Rudy Steiner também é fã do esporte, e tem como ídolo o atleta negro norte-americano Jesse Owens. ‘Tenho que praticar muito até ficar bom em qualquer coisa. Acho que por isso gosto de corredores e brigões’, diz Zusak.
Metáforas
A imagens poéticas e o estilo ritmado deram fama a Zusak (cada frase ocupa um parágrafo, aumentando o número de páginas dos livros) e retornam no novo romance. Pense em metáforas como ‘um garoto com braços em chamas’, ou ‘ela sentiu faíscas saindo dos olhos’.
A imagens poéticas e o estilo ritmado deram fama a Zusak (cada frase ocupa um parágrafo, aumentando o número de páginas dos livros) e retornam no novo romance. Pense em metáforas como ‘um garoto com braços em chamas’, ou ‘ela sentiu faíscas saindo dos olhos’.
Livros
A história de ‘A Menina que Roubava Livros’ começa quando Liesel Meminger encontra o ‘Manual do Coveiro’ e decide roubá-lo. Em ‘Eu Sou o Mensageiro’, Ed Kennedy recorre a Sylvia Plath para resolver a charada de uma das mensagens cifradas que recebe. Além das citações à ‘Odisseia’ e à ‘Ilíada’, uma biografia de Michelangelo intitulada ‘O Marmoeiro’ é uma das inspirações de Clay para construir a ponte no novo romance.
A história de ‘A Menina que Roubava Livros’ começa quando Liesel Meminger encontra o ‘Manual do Coveiro’ e decide roubá-lo. Em ‘Eu Sou o Mensageiro’, Ed Kennedy recorre a Sylvia Plath para resolver a charada de uma das mensagens cifradas que recebe. Além das citações à ‘Odisseia’ e à ‘Ilíada’, uma biografia de Michelangelo intitulada ‘O Marmoeiro’ é uma das inspirações de Clay para construir a ponte no novo romance.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/11/markus-zusak-autor-de-a-menina-que-roubava-livros-lanca-romance-apos-13-anos.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário