domingo, 25 de novembro de 2018

A atriz britânica feminista que passou a agir como 'terrorista'

  • 28 maio 2018

Image caption Autobiografia de Kitty Marion estava oculta em arquivos de museu até cair nas mãos de pesquisadora
Quando Fern Riddell foi ler a respeito do atentado que acabara de ocorrer em uma estação de metrô em Londres, em 15 de setembro de 2017, imediatamente reconheceu o tipo de bomba usado na explosão.
A cobertura midiática do atentado mostrava fotos de um balde plástico queimado, enrolado em uma sacola plástica de supermercado, e com uma bomba dentro.
"É uma bomba (típica das) suffragettes", percebeu Riddell, referindo-se ao movimento feminista britânico que, no início do século 20, foi às ruas para exigir o direito ao voto.
"Era uma bomba caseira, feita com materiais que você pode comprar em lojas de produtos químicos ou de construção. Era o tipo de bomba que as mulheres usaram para aterrorizar o país (Reino Unido) e fazê-lo prestar atenção nelas."
O interesse de Riddell nas sufragistas começara cinco anos antes, quando ela estudava para um PhD em História - ainda que tenha relutado inicialmente em abordar o assunto.
"Parecia uma armadilha: se você for uma jovem historiadora mulher, tem necessariamente de escrever sobre mulheres e sufragistas", diz.
Mas uma descoberta acidental nos arquivos do Museu de Londres, feita com a ajuda da arquivista Beverley Cook, a fez mergulhar de vez no assunto.
"Bev me disse: 'Tenho uma autobiografia não publicada de uma jovem artista, vista por muito poucas pessoas. Ela também era suffragette. Será que você está interessada nisso?'", conta Riddell.
Era a autobiografia de Kitty Marion, uma proemiente sufragista.
"Na época, eu tinha a mesma impressão de muita gente sobre as sufragistas: sabia que elas quebravam vitrines, se acorrentavam a trilhos, eram alimentadas à força (em greves de fome), protestavam. Eu achava que sabia tudo o que havia para saber sobre essas mulheres."
Image caption Fern Riddell descorbiu por acaso a história de Kitty Marion - e a transformou em livro

Radicalização

Ao ler meras cinco páginas da tal autobiografia, porém, Riddell se surpreendeu: no texto, Kitty falava abertamente sobre organizar incêndios criminosos. Há relatos também de que a autora do texto tenha sido responsável por atentados a bomba. Ou seja, diz Riddell, Kitty poderia ser chamada de "terrorista".
"Kitty fala de modo tão poderoso (no livro)", diz a pesquisadora. "E ela me contava uma história que eu nunca havia escutado. Mais tarde, perguntei a amigos, parentes e a outros acadêmicos, e eles tampouco haviam escutado isso. É uma parte da história que a maioria dos historiadores parece ter se esquivado de explorar - e eu estava ali, com acesso a uma fonte primária, a uma mulher que não era como ninguém outro dos livros de história."
Riddell ficou no arquivo do museu até a hora de fechar. Leu a história de Kitty Marion de uma vez só.

Origens

Katherina Maria Schafer chegou a Londres aos 15 anos, fugindo de um lar abusivo em seu país natal, a Alemanha. Sua mãe morrera quando ela era um bebê, e Katherina ficou sob os cuidados de um pai violento e nada amoroso - que matou um bichinho de estimação da filha quando notou que havia afeição entre ela e o animal.
Katherina foi morar com seus tios e primos no leste de Londres e rapidamente aprendeu a falar inglês. Entrou por acaso no mundo do teatro de variedades londrino e, pela primeira vez, sentiu que pertencia a um ambiente. Mudou seu nome para Kitty Marion e começou uma carreira como atriz e dançarina.
"Kitty ficou fascinada pelo mundo (do teatro de variedades)", conta Riddell. "Os cabarés eram um nicho empolgante e cosmopolita da Londres vitoriana. Mulheres profissionais e casamentos inter-raciais eram comuns ali. Kitty tinha um grupo diversificado de amigos - o filho de um diplomata chinês lhe deu seu primeiro cigarro. Ela fez amizade com mulheres fortes, liberadas sexualmente, diferente das que eu conheço pelos livros de história. As mulheres da Era Vitoriana britânica são descritas como vítimas sofredoras, não livres como as descritas na autobiografia de Kitty."
Direito de imagem Alamy
Image caption Kitty Marion era considerada pela polícia como uma das mais perigosas sufragistas
A princípio, Kitty não se interessava pela causa da igualdade de gênero ou do direito das mulheres ao voto. Até que foi assediada por um agente, a quem se refere como "Sr. Lixo". O episódio a fez questionar seriamente sua carreira, em uma indústria comandada por homens poderosos. Na autobiografia, Kitty diz que "todo o seu ser ficou revoltado" com o assédio.
"Poucas mulheres esquecem a primeira vez que foram assediadas - a primeira vez que alguém decidiu que tem o direito de te tocar, de te beijar e te pegar sem pedir permissão", diz Riddell.
E, ao perceber que ela não era a única a passar por aquilo, Kitty começou a elaborar a ideia de que "as mulheres merecem se sentir seguras em seu ambiente de trabalho e ter independência, sem ter de sacrificar seus corpos por isso. Foi o que fez Kitty se envolver com o movimento sufragista", conta a pesquisadora.
Kitty entrou para uma liga de atrizes, que frequentemente realizava peças sufragistas. Depois, se uniu a grupos feministas e aderiu a manifestações populares, até, aos poucos, passar a praticar atos radicais de desobediência civil.

Prisão

Sua primeira passagem pela prisão ocorreu após Kitty atirar um tijolo em uma janela de um escritório dos correios da cidade de Newcastle. Assim como muitas outras suffragettes, ela participou de greves de fome, e foi alimentada pelas autoridades de modo extremamente violento: por um tubo enfiado à força no nariz ou na boca.
Em protesto contra esse tratamento, Kitty quebrou a lâmpada de gás de sua cela prisional e, usando o colchão, ateou fogo ao local.
Ela acabou sendo presa diversas vezes, a maioria delas por incêndios criminosos.
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Image caption Suffragettes que faziam greve de fome eram submetidas a duras formas de alimentação forçada
Na noite de 13 de junho de 1913, ela e uma amiga sufragista atearam fogo à arquibancada de um jóquei clube em retaliação à morte da ativista Emily Wilding Davison, atingida pelo cavalo do rei britânico George 5º durante um protesto no Dérbi de Epsom. Kitty e a amiga foram detidas na manhã seguinte.
Na ocasião, ela foi alimentada à força 232 vezes em um único dia.

Onda de violência

Riddell ficou fascinada pela história de Kitty, uma mulher que, ainda que não fosse particularmente conhecida, estava na trincheira do movimento sufragista e era conhecida de suas líderes.
A historiadora passou horas, e depois dias, meses e anos analisando centenas de materiais de arquivo (como diários, cartas, registros policiais e judiciais, memórias e reportagens de jornais) para traçar um panorama da vida de Kitty dentro do movimento. Assim, começou a emergir uma pouco conhecida história das suffragettes.
Além de quebrar vitrines e iniciar incêndios, as mulheres colocavam frascos de fósforo nas caixas de correio - que rompiam quando manejadas e provocavam queimaduras graves nos carteiros. Elas também plantavam bombas.
Image caption Sufragistas adotaram táticas radicais em sua luta pela igualdade de gênero
"No princípio de 1913, as suffragettes já haviam se tornado um grupo terrorista altamente organizado", argumenta Riddell. "Em maio de 1913, houve 52 ataques, incluindo 29 bombas e 15 incêndios no país."
Bombas caseiras, muitas parecidas às que Riddell viu no atentado recente ao metrô de Londres, foram plantadas em igrejas, carros de trens lotados, estações, e a historiadora diz que a intenção por trás dos explosivos era causar ferimentos.
"As bombas não detonavam instantaneamente como fazem hoje em dia. Elas soltavam ruídos e fumaça e davam tempo para que as pessoas escapassem. Mas eram colocadas em locais públicos."
Em panfletos, a líder sufragista Emmeline Pankhurst chamou sua militância de "uma guerrilha continuada e destrutiva contra o governo". Tanto as suffragettes quanto a polícia diziam haver um "reino do terror". Jornais falavam de "terrorismo suffragette".
"Sem dúvida, tudo isso tinha as marcas do que hoje definimos como terrorismo", diz Riddell.
Image caption Kitty guardava registros jornalísticos dos atos violentos atribuídos às sufragistas

'Confissões'

Em sua autobiografia, Kitty é mais clara a respeito dos incêndios.
Ela guardou registros dos incêndios que provocou, mas também reportagens sobre explosões de autoria não identificada. Riddell acredita que foi uma forma de Kitty assumir responsabilidade por esses ataques.
Há, também, cartas com informações reveladoras.
O texto indica, segundo Riddell, que as sufragistas fizeram uma tentativa coordenada, em anos posteriores, de remover referências a seus atos mais violentos nas memórias que publicaram.
Quando a historiadora começou a falar publicamente sobre os atos mais violentos de Kitty, enfrentou críticas de historiadores do sufragismo.
"Um me escreveu dizendo que minha pesquisa era 'vergonhosa' e eu 'não deveria prosseguir', o que foi muito intimidatório para mim, uma jovem estudante em início de carreira", conta.
"Outros agiram na defensiva, dizendo que não havia maior forma de ocultar a memória sufragista. (Mas) gostaria de perguntar às pessoas que não estão na bolha da elite acadêmica: você ou seus amigos já ouviram falar de mulheres-bomba sufragistas? Já ouviu elas serem chamadas de terroristas?"
Riddell diz que apenas a eclosão da Primeira Guera Mundial, em 1914, conteve a escalada da militância suffragette.
Image caption Arquivos de Kitty Marion no Museu de Londres serão digitalizados e disponibilizados ao público
A última detenção de Kitty Marion ocorrera no ano anterior. Ela foi condenada a três anos de prisão e cumpriu alguns meses de pena até ser transferida a um hospital, após a aprovação de uma lei liberando prisioneiros demasiadamente enfraquecidos por greves de fome até que sua saúde melhorasse.
A Primeira Guerra deu ao governo britânico a oportunidade, diz Riddell, de acusar uma das mais perigosas mulheres do movimento suffragette de ser uma "espiã alemã".

Exílio

Mas Kitty tinha amigas leais, e muitas sufragistas a ajudaram a viajar aos EUA, em vez de voltar à prisão.
Ao chegar a Nova York, Kitty se dedicou a uma nova causa feminista: o movimento pelos direitos reprodutivos das mulheres.
"Eis uma mulher cuja vida fez um elo entre dois dos grandes movimentos do nosso tempo, e ainda assim ninguém a conhece", diz Riddell.
A pesquisa da historiadora acabou se transformando em um livro recém-publicado, Death in Ten Minutes (Morte em Dez Minutos, em tradução livre).
Riddell afirma, porém, que não está tentando manchar a reputação das suffragettes, que tiveram um importante papel na luta pela igualdade de gênero.
"Fiquei muito admirada com essas mulheres", diz. "Mas não podemos ocultar o fato de quem elas eram em sua plenitude. Há um velho ditado que diz, 'o terrorista de um homem é o combatente da liberdade de outro homem'. É a mesma situação aqui."
Hoje, Riddell mantém uma foto de Kitty em sua casa.
"Kitty queria desesperadamente que sua história fosse contada, e tenho orgulho em finalmente poder fazer isso por ela", diz. "Todos deveriam conhecer as escolhas difíceis e perturbadoras que essas mulheres fizeram para que nós pudéssemos ser livres."

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44268732
Se eu quiser falar com Deus

Lyrics
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
 
Gilberto Gil
Disco: Luar 
Released 1981

 O construtor de Pontes

Markus Zusak, autor de 'A Menina que Roubava Livros', lança romance após 13 anos
'O Construtor de Pontes' tentará repetir sucesso do livro anterior, que vendeu 16 milhões de cópias
Carolina Daffara
23.nov.2018 às 20h00
·  ·  Clara Balbi
São Paulo
Foram 13 anos, quase dez tentativas diferentes de narração (em uma delas, a função cabia a uma musa, como nos épicos gregos) e mais de 500 páginas até que Markus Zusak concluísse seu sexto romance, “O Construtor de Pontes”.
Lançado internacionalmente em outubro, deve chegar ao Brasil no início de 2019. 
A pressão sobre o australiano de 43 anos não era pouca. Seu trabalho anterior, “A Menina que Roubava Livros”, era narrado por ninguém menos que a Morte e vendeu 16 milhões de cópias desde a sua publicação, em 2005. Oito anos mais tarde, ganhou uma versão cinematográfica com Geoffrey Rush e Emily Watson no elenco e indicada ao Oscar de melhor trilha sonora.
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Mas o maior problema, diz Zusak em entrevista à Folha, eram suas próprias expectativas. A premissa da obra o acompanhava desde os 20 anos. “Queria escrever um livro melhor do que eu mesmo; acima de mim mesmo”, diz. “Acho que por isso demorei tanto.”
A busca pela perfeição é compartilhada com o protagonista de “O Construtor de Pontes”, o quieto e obsessivo Clay. Órfão de mãe e abandonado pelo pai, ele e os outros quatro irmãos Dunbar —Matthew, Rory, Henry e Tommy—, vivem sob as próprias regras na casa da família em um subúrbio australiano. 
“Muitos nos consideravam desajustados. Bárbaros. No geral, tinham razão”, descreve Matthew, primogênito do clã e narrador enfim eleito por Zusak.
Um dia, para surpresa dos filhos, o pai retorna à casa e pede ajuda para construir uma ponte. Clay é o único a aceitar a empreitada. 
A aproximação entre os dois é o ponto de partida para a reconciliação da família, destroçada desde a morte da matriarca Penélope.
Para Clay, explica Zusak, a ponte simboliza uma espécie de redenção, “uma coisa perfeita que vai salvar a todos”. 
Ao construí-la, porém, o protagonista descobre que o processo é muitas vezes mais valioso que o resultado.
O arco do personagem imitou o de seu autor. “Foi só quando percebi que o livro jamais seria perfeito, e que o mais importante era trabalhar duro, que consegui terminá-lo.” 
No Brasil, “O Construtor de Pontes” será lançado em dezembro pelo clube de assinatura da Intrínseca. Como os assinantes recebem os títulos 45 dias antes de sua estreia oficial nas livrarias, a obra só será comercializada no país no primeiro trimestre de 2019.
Seus direitos haviam sido comprados pelo dono da editora, Jorge Oakim, ainda em 2007, quando “A Menina” estourou no Brasil. “Foi uma boa espera, mas sempre soubemos que seria um grande livro.”
Além de difícil de escrever, Zusak afirma que o livro também deve se mostrar mais desafiador para os leitores. Extensa (são 528 páginas na edição brasileira), a narrativa mistura relatos de diferentes gerações da família Dunbar, da infância dos pais dos meninos, Penélope e Michael, à vida adulta dos cinco.
O autor compara a estrutura da trama ao vaivém das marés. “Um de seus temas mais fortes é a ideia de que nossas histórias começam muito antes de nascermos”, diz. “Embora Clay tente seguir adiante, para longe dos irmãos, a memória sempre o alcança. O que aconteceu com Penélope e Michael no passado ainda impacta a família no presente.”
A forma também é uma das muitas alusões à “Odisseia” espalhadas na narrativa, a começar pelo nome da mãe, Penélope, batizada em homenagem à esposa de Ulisses. 
Tal qual os heróis gregos, a matriarca ganha diversos epítetos ao longo da obra: é a Rainha dos Erros, a Garota do Aniversário, a Noiva do Nariz Quebrado.
Além dela, há Heitor, o gato; Telêmaco, o pombo; Agamemnon, o peixe; e Aquiles, a mula. Praticamente um membro da família, o último foi determinante na escolha do cenário da obra, uma cidadezinha famosa pelo turfe. 
“Precisava que as pessoas acreditassem que uma mula poderia viver na casa dos Dunbar”, afirma Zusak.
A casa, aliás, sintetiza a atmosfera de masculinidade juvenil que permeia o livro, com suas pilhas de louça suja, palavrões e reprises de filmes de ação (o brasileiro “Cidade de Deus” é um aos que os irmãos assistem).
Nesse sentido, “O Construtor de Pontes” remete menos a “A Menina que Roubava Livros” e mais aos primeiros livros do escritor, “O Azarão”, “Bom de Briga”, e “A Garota que Eu Quero”. 
Lá também estão presentes a fascinação por lutas de todo tipo e relações fraternais que alternam amor e ódio, além do contexto da classe operária australiana em que o escritor cresceu.
Apesar disso, Zusak não encara o novo trabalho como um retorno às origens. “Ele não é mais autobiográfico, digamos, do que ‘A Menina que Roubava Livros’, que se baseia nas histórias dos meus pais sobre suas infâncias na Alemanha e Áustria nazistas”, diz.
Depois de mais de dez anos imerso na escrita do livro recém-lançado, o autor diz estar trabalhando em um novo manuscrito, usando trechos de um dos narradores descartados em “O Construtor de Pontes”.
Nada de figuras mitológicas, porém. A personagem, no caso, é a irmã mais nova de Carey, interesse amoroso de Clay. Batizada de Maggie, ela foi suprimida da trama atual. “Acho que talvez haja uma nova história para ela contar”, diz Zusak. 

Principais temas do novo livro
Mula 
Chamado de Aquiles, o animal tem um importante papel na narrativa. Teimoso como Clay, ele simboliza a ideia de que a ambição é um tanto tola.
Zoológico
A história se passa em um distrito conhecido pelo hipismo, e o par romântico de Clay é uma joqueta. Por isso, junto ao zoológico da casa dos Dunbar, há ainda um sem-fim de cavalos, com nomes como El Matador e Kingston Town.
Michelangelo
O artista é ídolo de Clay e do pai. A obra favorita dos dois não é Davi, mas uma estátua conhecida como ‘Os Escravos’, que parece para sempre inacabada.
Figurinha repetida
Brigas
Os personagens de Zusak adoram uma briga. Em ‘O Azarão’, o passatempo dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe é o jogo Um Soco, enfrentando-se no quintal cada um com uma luva de boxe. O judeu Max, escondido na casa de Liesel em ‘A Menina que Roubava Livros’, é O Lutador. Em ‘O Construtor de Pontes’, os irmãos vivem batendo —e apanhando.
Corridas 
Clay começa a correr obsessivamente depois da morte da mãe, e seus irmãos decidem treiná-lo usando métodos pouco convencionais. Em ‘A Menina que Roubava Livros’, Rudy Steiner também é fã do esporte, e tem como ídolo o atleta negro norte-americano Jesse Owens. ‘Tenho que praticar muito até ficar bom em qualquer coisa. Acho que por isso gosto de corredores e brigões’, diz Zusak.
Metáforas
A imagens poéticas e o estilo ritmado deram fama a Zusak (cada frase ocupa um parágrafo, aumentando o número de páginas dos livros) e retornam no novo romance. Pense em metáforas como ‘um garoto com braços em chamas’, ou ‘ela sentiu faíscas saindo dos olhos’.
Livros 
A história de ‘A Menina que Roubava Livros’ começa quando Liesel Meminger encontra o ‘Manual do Coveiro’ e decide roubá-lo. Em ‘Eu Sou o Mensageiro’, Ed Kennedy recorre a Sylvia Plath para resolver a charada de uma das mensagens cifradas que recebe. Além das citações à ‘Odisseia’ e à ‘Ilíada’, uma biografia de Michelangelo intitulada ‘O Marmoeiro’ é uma das inspirações de Clay para construir a ponte no novo romance.







https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/11/markus-zusak-autor-de-a-menina-que-roubava-livros-lanca-romance-apos-13-anos.shtml

domingo, 4 de novembro de 2018

Guia do MBA Estadão

O que o mercado quer

(não deixa copiar)

http://publicacoes.estadao.com.br/guiadomba/#/post/10495

Inspirada no Vale do Silício, escola foge das aulas chatas de faculdade

A Conquer nasceu a partir da insatisfação de três sócios com suas formações. O negócio atendeu 5.000 alunos e empresas como Grupo Boticário, iFood e PwC

São Paulo – Você acha que sua faculdade ou pós-graduação o preparou para ser um empreendedor ou um profissional com capacidade de ir mais longe na carreira? Para muitos estudantes, a resposta é não.
É o caso dos empreendedores Josef Rubin, Hendel Favarin e Sidnei Junior. Insatisfeitos com uma educação academicista e teórica, os executivos decidiram criar a própria escola. A inspiração para o currículo? As melhores instituições educacionais do Vale do Silício, a “meca das startups.”
Desde agosto de 2016, a escola Conquer já atendeu 5.000 alunos. O empreendimento faturou 1,2 milhão de reais em 2017, sendo que 30 a 40% desses ganhos vieram de treinamentos corporativos. Para o futuro, o colégio aposta na expansão por novos territórios – o que pode inclui a estruturação de uma rede franqueadora.

Criação de negócio

Josef Rubin, que liderou a operação do Grupo Boticário na Colômbia; Hendel Favarin, que advogou na empresa de auditoria e contabilidade PwC; e Sidnei Junior, que trabalhava na fintech de pagamentos Vindi, tinham uma característica em comum: eles estavam insatisfeitos com suas formações na faculdade e na pós-graduação.
Em 2016, os futuros empreendedores discutiram sobre como as instituições de ensino focam muito em conteúdos acadêmicos e teóricos. “Elas não incentivam o profissional a aprender habilidades que de fato o fazem ir mais longe”, defende Favarin.
Josef Rubin, Hendel Favarin e Sidnei Junior: fundadores da Conquer estavam insatisfeitos com a própria formação Josef Rubin, Hendel Favarin e Sidnei Junior: fundadores da Conquer estavam insatisfeitos com a própria formação
Josef Rubin, Hendel Favarin e Sidnei Junior: fundadores da Conquer estavam insatisfeitos com a própria formação (Conquer/Divulgação)
Entre as técnicas desejadas pelos executivos estavam inteligência emocional e financeira, liderança, negociação, oratória, persuasão e produtividade. Da conversa veio uma ideia de negócio: por que não fundar uma escola que ensinasse conteúdos de forma atraente e objetiva, fazendo com que o aluno aplicasse o que aprendeu já no dia seguinte?
Em busca de inspirações, Rubin foi ao Vale do Silício e ficou três meses em visitas a escolas como Draper University e Singularity. “A gente teve acesso a todo o ecossistema empreendedor do Vale e desenvolvemos nossa metodologia com base em escolas que de fato impactam o mundo”, afirma Favarin.
Em agosto de 2016, a escola Conquer abriu as portas para “empreendedores e funcionários que querem fazer diferente” em Curitiba (Paraná). O negócio recebe desde graduandos e empreendedores de 18 anos de idade até CEOs que já passaram dos 50.

https://exame.abril.com.br/pme/inspirada-no-vale-do-silicio-escola-foge-das-aulas-chatas-de-faculdade/

Isenção do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física para Portadores de Moléstia Grave

por Subsecretaria de Arrecadação, Cadastros e Atendimento publicado 20/12/2017 08h00, última modificação 12/01/2018 14h46

Condições para usufruir da isenção

As pessoas portadoras de doenças graves são isentas do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (IRPF) desde que se enquadrem cumulativamente nas seguintes situações (Lei nº 7.713/88):
1) Os rendimentos sejam relativos a aposentadoria, pensão ou reforma; e
2) Possuam alguma das seguintes doenças:
a) AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)
b) Alienação Mental
c) Cardiopatia Grave
d) Cegueira (inclusive monocular)
e) Contaminação por Radiação
f) Doença de Paget em estados avançados (Osteíte Deformante)
g) Doença de Parkinson
h) Esclerose Múltipla
i) Espondiloartrose Anquilosante
j) Fibrose Cística (Mucoviscidose)
k) Hanseníase
l) Nefropatia Grave
m) Hepatopatia Grave
n) Neoplasia Maligna
o) Paralisia Irreversível e Incapacitante
p) Tuberculose Ativa
FiguraSeta Atenção!
A complementação de aposentadoria, reforma ou pensão, recebida de entidade de previdência complementar, Fundo de Aposentadoria Programada Individual (Fapi) ou Programa Gerador de Benefício Livre (PGBL) e os valores recebidos a título de pensão em cumprimento de acordo ou decisão judicial, ou ainda por escritura pública, inclusive a prestação de alimentos provisionais recebidos por portadores de moléstia grave são considerados rendimentos isentos.
Também são isentos os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional.

Situações que não geram isenção

I - Não gozam de isenção os rendimentos decorrentes de atividade empregatícia ou de atividade autônoma, isto é, se o contribuinte for portador de uma moléstia, mas ainda não se aposentou;
II - Não gozam de isenção os rendimentos decorrentes de atividade empregatícia ou de atividade autônoma, recebidos concomitantemente com os de aposentadoria, reforma ou pensão;
III - Os valores recebidos a título de resgate de entidade de previdência complementar, Fapi ou PGBL, que só poderá ocorrer enquanto não cumpridas as condições contratuais para o recebimento do benefício, por não configurar complemento de aposentadoria, estão sujeitos à incidência do IRPF, ainda que efetuado por portador de moléstia grave. 

Procedimentos para usufruir da isenção

Caso se enquadre na situação de isenção, o contribuinte deverá procurar o serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para que seja emitido laudo pericial comprovando a moléstia.
Se possível, o serviço médico deverá indicar a data em que a enfermidade foi contraída. Caso contrário, será considerada a data da emissão do laudo como a data em que a doença foi contraída.
O serviço médico deverá indicar se a doença é passível de controle e, em caso afirmativo, o prazo de validade do laudo.
O laudo deve ser emitido, preferencialmente, pelo serviço médico oficial da fonte pagadora, pois, assim, o imposto já deixará de ser retido em fonte. Se não for possível, o contribuinte deverá entregá-lo no órgão que realiza o pagamento do benefício e verificar o cumprimento das demais condições para o gozo da isenção.
Caso o laudo pericial indique data retroativa em que a moléstia foi contraída e, após essa data, tenha havido retenção de imposto de renda na fonte e/ou pagamento de imposto de renda apurado na declaração de ajuste anual, podem ocorrer duas situações:
I - O laudo pericial indica que a doença foi contraída em mês do exercício corrente (ex.: estamos em abril do ano corrente e a fonte reconhece o direito à partir de janeiro do mesmo ano): o contribuinte poderá solicitar a restituição na Declaração de Ajuste Anual do exercício seguinte, declarando os rendimentos como isentos à partir do mês de concessão do benefício.
II - O laudo pericial indica que a doença foi contraída em data de exercícios anteriores ao corrente, então, dependendo dos casos abaixo discriminados, adotar-se-á um tipo de procedimento:

Caso 1 - Foram apresentadas declarações em que resultaram saldo de imposto a restituir ou sem saldo de imposto

Procedimentos
a) Retificar a Declaração do IRPF dos exercícios abrangidos pelo período constante no laudo pericial.
b) Para as declarações até o exercício 2014 (ano-calendário 2013): Protocolizar, na Unidade de Atendimento de sua jurisdição, o Pedido de Restituição ou de Ressarcimento referente à parcela de décimo terceiro salário que foi sujeita a tributação exclusiva na fonte (na declaração retificadora, o valor recebido do décimo terceiro salário deverá ser colocado também como rendimento isento e não tributável).
Obs.: Para as declarações a partir do exercício 2015 (ano-calendário 2014), o pedido de restituição referente ao décimo terceiro salário  poderá ser feito na própria Declaração do IRPF.

Caso 2 - Foram apresentadas declarações em que resultaram saldo de imposto a pagar

Procedimentos
a) Retificar a Declaração do IRPF dos os exercícios abrangidos pelo período constante no laudo pericial
b) Para as declarações até o exercício 2014 (ano-calendário 2013): Protocolizar, na Unidade de Atendimento de sua jurisdição, Pedido de Restituição ou de Ressarcimento referente à parcela de décimo terceiro salário que foi sujeita a tributação exclusiva na fonte (na declaração retificadora, o valor recebido do décimo terceiro salário deverá ser colocado também como rendimento isento e não tributável).
Obs.: Para as declarações a partir do exercício 2015 (ano-calendário 2014), o pedido de restituição referente ao décimo terceiro salário  poderá ser feito na própria Declaração do IRPF.
c) Elaborar e transmitir o PER/DCOMP - Pedido de Restituição, Ressarcimento ou Reembolso e Declaração de Compensação para pleitear a restituição/compensação dos valores pagos a maior que o devido.
FiguraSeta Atenção!
A isenção do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física por motivo de moléstia grave não dispensa o contribuinte de apresentar a Declaração do IRPF caso ele se enquadre em uma das condições de obrigatoriedade de entrega da declaração.
 
http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/isencoes/isencao-do-irpf-para-portadores-de-molestia-grave
 

Gartner Top 6 Future Work Trends

 
Accelerating technology cycles are impacting the workplace with unprecedented speed.
Application leaders and business executives haven’t traditionally spent much time contemplating how work will change in years to come. That’s largely because the IT organization has focused on operational excellence and because over the past three decades, the pace of change in the workforce has been relatively slow and predictable.
Technologies such as blockchain, AI, Internet of Things (IoT) and 3D printing will have a transformative impact on how work gets done
Circumstances have changed. The IT charter is expanding to include a larger focus on individuals, teams and overall business performance, and accelerating technology cycles are rapidly increasing the pace of change in work patterns.
“Digital business models and platforms are fundamentally restructuring how business is conducted. Cloud services are increasing the speed of technology change at a rate unthinkable in the days of on-premises deployment,” says Matt Cain, vice president and distinguished analyst at Gartner. “At the same time, the nature of work is being transformed with new work patterns such as the gig economy and flatter organization models, while artificial intelligence (AI) is poised to transform how work is done.”
Accelerate Productivity and Agility.
Gartner Digital Workplace Summit 2018
Application leaders need to anticipate the future of work to understand what IT skills are needed to support the changes and ensure that technology aligns with future work patterns.
SaaS applications will accelerate technology change for almost every worker
Cain highlights three overarching future work trends expected in developed nations in the 2022 – 2026 time frame, along with some of their key impacts.

Worker digital dexterity will become critical

No one knows exactly how this change will impact business, but one thing is certain — the digital dexterity of the workforce is the most effective mechanism to ensure that it can keep pace with and exploit vast amounts of change. Digital change will manifest itself in a number of ways, including:
  • The pace of technology adoption accelerates. “The impact of technologies such as blockchain, AI, Internet of Things (IoT) and 3D printing will have a transformative impact on how work gets done. The API economy and a business platform model forces tech changes into the mainstream,” says Cain. “Along with those transformative technologies, software as a service (SaaS) applications will accelerate technology change for almost every worker through horizontal applications for cloud office and human capital management, and through targeted applications for IT service management (ITSM), finance, sales and marketing.”
  • Digital dexterity is monitored and measured. The growing recognition of the importance of digital dexterity creates a demand for measurement, which aligns with analytics becoming more pervasive in the enterprise. Social science-based surveys and observations are increasingly accepted to collect relevant digital dexterity data, which can be combined with machine-generated IT, HR and business data to measure workforce digital dexterity.

AI will prevail

The conversion of rich input patterns into data that can be readily processed by conventional software is at the heart of today’s AI hype. AI will have a profound impact on how work is assigned, completed and evaluated. Cain suggests that although AI will provide a number of workplace trends in the coming years, workers are experiencing the impact of robobosses and smart workplaces right now.
  • Robobosses on the rise. While employees will not report to an AI construct, the implementation of robobosses will lead to more automated management duties and more online worker activities. There is opportunity for greater tracking of worker activities and performance. This data can be run against a series of algorithms that can programmatically offer assistance in improving performance or meeting goals.
Leaders can tap into an internal talent pool, and individual employees can both seek and be sought for work opportunities
  • Physical workplaces become smart. Facilities and space management disciplines have undergone substantial change. Open seating helps drive collaborative behavior, while huddle rooms create small-team intimacy. We are also on the cusp of a move to “smart workspaces” that exploit networks of beacons, sensors and actuators in the workplace. An employee, for example, might use an app to guide her to the closest parking space, and be assigned a workspace and conference room as she enters the building. At the same time, her “smart badge” can track her location for safety purposes.
Read more: Human Beings, AI and Robots to Represent the New Workforce in 2028

The gig economy will thrive

Organizations will increasingly learn and borrow from freelance management and gig economy platforms, which dynamically match short-term work requirements directly with workers who have the relevant knowledge, experience, skills, competencies and availability. This will mean moving away from traditional structures to more fluid arrangements.
  • Employees get work through employment marketplaces. Freelancer marketplaces make it easier for employers to tap into a set of contractors for short-term work commitments. In parallel, professional social networking platforms and recruiting technology providers have been investing heavily in matching algorithms to pair up talent supply and demand. “Within the enterprise, these two trends are translating into an internal employment marketplace,” explains Cain. “Organizational leaders can tap into an internal talent pool, and individual employees can both seek and be sought for work opportunities. This is about breaking work down into individual products, services or deliverables and using technology to match the available talent to the work that needs to get accomplished.”
  • Jobs get deconstructed. Traditionally, organizations have invested in mapping out clear career paths for employees. While workers need a purpose-focused direction, a portfolio of experiences builds knowledge and skills and allows for the practice and improvement of competencies. Employees will increasingly find the accumulation of experiences to be more realistic than a carefully plotted-out career path.
Read more: 6 Ways the Workplace Will Change in the Next 10 Years

https://www.gartner.com/smarterwithgartner/anticipate-and-exploit-future-work-trends/

Kodak: como ela foi de uma das empresas mais inovadoras até falência

 

Seu mercado só cresceu, afinal, atualmente tiramos mais fotos em dois minutos do que em todo o século passado inteiro


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Você certamente lembra (ou já ouviu falar) da Kodak, a maior empresa de fotografia que o planeta já viu. Ela entrou com um pedido de falência em 2012 e praticamente morreu por falta de inovação. Embora ela esteja tentando renascer após a falência, a companhia não chega nem perto do que ela já foi.
No final da década de 70, a Kodak tinha 90% das vendas de filmes e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos, o principal mercado do mundo, e uma presença fortíssima no redor do mundo (inclusive o Brasil). Tinha 100.000 empregados e um lucro de bilhões.
Seu mercado só cresceu, afinal, atualmente tiramos mais fotos em dois minutos do que em todo o século passado inteiro. Compartilhamos as fotos de milhares de maneiras diferentes. Mas o nome Kodak nunca mais foi associado a esse segmento, hoje dominado por nomes como “Instagram” e “Facebook”.
O aparelho para tirar as fotos não é mais a câmera, é o celular. Uma mudança que a Kodak podia ter acompanhado: podia ter desenvolvido aplicativos de foto para celulares, produzido smartphones especializados em fotos... enfim, podia ter acompanhado o seu consumidor e a mudança de comportamento.
A companhia agora tem apenas 6.000 empregados e foi esvaziada na sua crise na última década: empresa vendeu ativos e patentes que construiu em décadas de sucesso e inovação. Na verdade, mais de 120 anos de história, já que a companhia foi fundada em 1889 e passou pela falência em 2012.
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O início

A companhia nasceu na cidade de Rochester, no Estado de Nova York, nos Estados Unidos. Sua história tem início em 1880, quando George Eastman – que na época trabalhava na Eastman Dry Plate Company - desenvolveu um papel que podia ser coberto de emulsão fotográfica.
Essa foi a primeira de uma série de invenções que permitiu a Kodak se tornar a Kodak. Em 1883, outro especialista em fotografias, William Walker, entrou para a companhia e, em 1885, inventou algo que poderia segurar uma série destes papeis. Naquele mesmo ano, Eastman comprou uma patente de David Houston para um rolo e continuou a desenvolvê-lo.
Dois anos mais tarde, um outro inventor chamado Hannibal Goodwin criou um filme de nitrocelulose e em 1888, Emile Reynaud colocou algumas perfurações neste filme de nitrocelulose. Eastman então juntou tudo e criou o primeiro rolo de filme comercial e a primeira câmera Kodak, que usava este filme. E assim, a invenção de Eastman criou a fotografia amadora praticamente sozinha.
Um adendo interessante: Thomas Edison, o inventor da lâmpada, chegou a melhorar a invenção de Eastman, reduzindo o filme de 40 milímetros para 35 e criando o Kinetoscópio, um aparelho capaz de gravar imagens em movimento. A invenção de Edison foi tão importante quanto a de Eastman e criou a indústria do cinema.

A marca Kodak

Eastman registrou a marca Kodak em 1888, um ano antes de fundar a empresa, inicialmente chamada de Eastman Company. Em 1892, vendo o sucesso de sua própria marca, Eastman mudou o nome da empresa para Eastman Kodak.
O nome Kodak não significa nada, apenas a letra favorita de Eastman seguida de uma combinação quase aleatória, mas com uma boa sonoridade e fácil de lembrar. Ele acreditava que uma marca precisava ser “curta, vigorosa e incapaz de ser escrita de forma errada a ponto de destruir sua identidade”. Além disso, para ele uma marca não deveria significar nada.
Ele não era publicitário, mas acertou em cheio na sua marca e no primeiro slogan para a Kodak – “You Press the Button, We Do The Rest”, ou seja, “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”, ainda em 1889.
A primeira câmera da Kodak foi um sucesso e em breve a companhia estava produzindo uma série de câmeras diferentes: em 1895 veio a Pocket Kodak, de US$ 5, e em 1900 a Brownie, de US$ 1 e feita de papelão. A Brownie era tão barata que praticamente popularizou a ideia de foto descartável.

A era de ouro da Kodak

As próximas três décadas foram de muitos lucros para a Kodak, que se transformou em uma grande corporação nessa década. Ganhou milhões de dólares e continuou investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento. Em 1935, a empresa faria uma de suas maiores invenções: o Kodachrome, o primeiro filme a cores da companhia produzido em massa.
Infelizmente, George Eastman não sobreviveu para ver isto. Ele se matou em 1932, tirando sua própria vida com uma arma. Sua jornada empreendedora havia chegado ao fim, mas a companhia que ele criou havia se transformado numa gigante, garantindo seu legado.
O Kodachrome foi produzido em todas as versões possíveis: 8, 16, 35, 120, 116 e 828 milímetros e foi vendido até 2009, quando a empresa abandonou a produção por conta da vitória da câmera digital.
A 2ª Guerra Mundial ajudou a Kodak a se tornar ainda mais inovadora: ela desenvolveu um filme capaz de detectar quanto de radiação os cientistas do Projeto Manhattan (que desenvolveu a Bomba Atômica) estavam recebendo. Efetivamente, isso ajudou o desenvolvimento de diversas tecnologias de análises clínicas, inclusive o Raio X.
Além disso, tecnologia de microfilme fez com que os exércitos reduzissem radicalmente a quantidade de sacos de informação eram transmitidos. Espiões se tornaram mais eficientes, passando informações com mais segurança e sendo pegos com menos frequência.
A Kodak era a 62ª companhia em termos de contratos com o governo americano durante a segunda guerra mundial e chegou a produzir granadas para ajudar no esforço de guerra. A relação foi levada para a década de 60, onde a Kodak forneceu os filmes e câmeras que produziram as primeiras imagens da terra em satélites americanos e de homens na lua.

Criou o digital ainda no ápice

Nesta época, a Kodak ganhava muito dinheiro também pela impressão de fotos em cores e tinha receitas de US$ 4 bilhões, algo próximo de US$ 50 bilhões em dólares de hoje. Foi nesta época, no começo da década de 70, que a Kodak atingiu seu ápice.
A companhia em 1975 criou o que iria destruí-la algumas décadas depois: Steve Sasson, um engenheiro da empresa. Uma câmera digital capaz de tirar fotos de até 0.1 megapixel. A companhia ainda continuou desenvolvendo tecnologias nesta linha: em 1986, uma câmera de 1 megapixel e em 1991 a primeira câmera digital em que o usuário veja exatamente o que será capturado na hora de tirar fotografia (algo comum para todas as câmeras atualmente).
Outras invenções famosas da Kodak nesta época foi a telas de OLED, que foram desenvolvidas em 1979 e produzidas pela primeira vez em 1999, permitindo aumentar e muito a qualidade das imagens. A companhia vendeu este segmento para LG em 2009, quando já estava em crise. Além disso, a empresa criou o padrão RGGB, usado em todas as câmeras digitais.
Contudo, a companhia não levou as câmeras digitais para o mercado na hora que foi inventado. Tinha medo que isso acabasse prejudicando as vendas de filmes e câmeras tradicionais. Embora fosse uma inovadora e tivesse uma longa lista de patentes, nunca quis que isso fosse para o mercado propriamente dito e foi ultrapassada principalmente por gigantes japonesas: Canon, Sony e Fuji.

O caminho até a falência

Ela podia ser uma inovadora, mas não se moveu rápido o suficiente para adentrar no mercado novo de câmeras digitais que estava se formando na década de 90. Um detalhe é que no começo da década a empresa pensou em fazer uma transição “lenta” para as câmeras digitais. Em 1994, produziu a QuickTake junto com a Apple e em 1996 lançou duas câmeras digitais, DC-20 e DC-25. Contudo, continuou a vender essas câmeras como “de nicho”, com baixa implementação da estratégia digital. Afinal, a liderança da companhia não imaginava (ainda) um mundo sem filmes tradicionais e tinha pouco incentivo para mudar.
Na virada do século, porém, a companhia (com um novo CEO) resolveu entrar de vez neste mercado e lançou a linha EasyShare – depois de estudar a fundo o comportamento dos seus clientes e perceber que era inevitável a mudança. A companhia chegou a inventar uma linha de produtos auxiliares, como uma pequena impressora que podia imprimir suas fotos digitais quase instantaneamente.
A companhia, porém, não botou muito esforço na sua cadeia de suprimentos, o que derrubou sua lucratividade. Em 2001 ela era a 2ª colocada no mercado norte-americano para câmeras digitais, com cerca de 25% do mercado, mas perdia US$ 60 para cada câmera que ela fazia. Outras empresas eram mais eficientes e lucravam.
Aquele ano foi especialmente importante: as vendas de filmes caíram muito no final do ano, conforme os usuários começavam a usar mais e mais câmeras digitais. Contudo, a empresa acreditou que a queda era um efeito passageiro por conta do 11 de Setembro e pensou que poderia “diminuir a agilidade da mudança” através de um marketing agressivo.
Não deu certo, a empresa viu sua fatia do mercado cair para 15% em 2003 e 9,6% em 2007 (colocando-a em 4º lugar). Novas concorrentes asiáticas estavam chegando para tomar o espaço da Kodak e ela não estava em uma posição de dominância. Na época, esse tipo de receita já era importante para a companhia: a Kodak faturava US$ 5,7 bilhões por ano com câmeras digitais.
Com o surgimento dos smartphones, a Kodak ainda foi uma das primeiras a morrer. Outras competidoras como a GoPro capturaram os mercados de nicho e a Sony ainda vendia algumas câmeras digitais. A crise tomou conta da Kodak, que perdeu relevância e saiu do S&P 500 em dezembro de 2010, sinalizando que já não era uma das principais empresas norte-americanas. A companhia nesta época gastava mais do que arrecadava e estava torrando seu caixa rapidamente. Em junho de 2011 as suas reservas eram de US$ 957 milhões, contra US$ 1,6 bilhão 1 ano antes.
Um pequeno desespero tomou conta da companhia, que tentou ganhar dinheiro com suas patentes, processando empresas como Apple e BlackBerry. Não deu muito certo e a empresa vendeu suas patentes para uma grande lista de empresas que incluem a própria Apple, Google, Facebook, Microsoft e Amazon, pouco antes de pedir a falência.
A companhia conseguiu um crédito com o Citi para sobreviver ao processo, totalizando US% 950 milhões. Poucos anos depois, conseguiu sair da falência – mas sendo uma fração da antiga companhia fundada por George Eastman. Morta pela inabilidade de transformar o produto que ela mesmo criou em um produto relevante para ela mesma.

https://startse.com/noticia/kodak-como-ela-foi-de-uma-das-empresas-mais-inovadoras-ate-falencia