sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ativistas criam tumblr para denunciar agressões e ameaças nas redes sociais
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Guilherme Balza
Do UOL, em São Paulo


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    Reprodução de um dos comentários expostos no tumblr com confissões de crimes, ameaças, ofensas racistas, entre outras formas de agressão Reprodução de um dos comentários expostos no tumblr com confissões de crimes, ameaças, ofensas racistas, entre outras formas de agressão
Ativistas participantes do movimento #EuNãoMereçoSerEstuprada criaram um tumblr (http://eunaomerecoserestupradadenuncia.tumblr.com/) para denunciar agressões e ameaças feitas nas redes sociais após o lançamento da campanha virtual. As manifestações ofensivas foram recolhidas na página da campanha.
Quase a totalidade dos agressores são homens que fazem apologia e incitação da violência contra as mulheres. Os comentários vão desde críticas agressivas contra mulheres em função das roupas que elas usam até ameaças, defesas e confissões de estupro, além de xingamentos racistas e homofóbicos.
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Campanha ''Não mereço ser estuprada'' bomba na internet47 fotos

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A funkeira Valesca Popozuda também participou da campanha Não Mereço Ser Estuprada, que propõe que internautas tirem a roupa e se fotografem segurando um cartaz contra a violência sexual. Valesca publicou uma foto no Instagram na noite de domingo (30), na qual aparece nua segurando um bastão de beisebol. Abaixo da imagem, lê-se a frase "De saia longa ou pelada #não mereço ser estuprada". O protesto online é uma reação a uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que revelou que a maioria dos brasileiros acha que mulheres com roupas expondo o corpo merecem ser atacadas Leia mais Reprodução/Twitter
A página foi criada pela jornalista Matita Iazzetta, 22, no último dia 28, horas antes do início da campanha criada pela também jornalista Nana Queiroz, 28. A ideia inicial era apenas reunir as fotos enviadas pelas participantes da campanha, mas o tumblr mudou o foco e passou a agrupar os comentários agressivos após as ativistas passarem a receber muitas ameaças.
Todas as pessoas que foram ameaçadas de estupro pela internet durante ou depois do protesto virtual foram encorajadas a dar print screen (cópia das agressões) e fazer boletim de ocorrência.

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Usuário do Facebook ameaça estuprar e matar participantes do movimento #EuNãoMereçoSerEstuprada

Segundo Iazetta, que também administra o tumblr, ela já recebeu milhares de imagens enviadas no email eunaomerecoserestuprada@gmail.com. "Estou dando uma filtrada porque não consigo dar conta de tudo sozinha. Já recebemos mais de 200 mil visitas em uma semana de tumblr, e quero que esse número cresça mais e mais, para nossa palavra ser espalhada pelo mundo."

Apologia e incitação ao crime

Segundo advogado Rony Vainzof, professor de direito digital na Universidade Mackenzie e na Escola Paulista de Direito, as manifestações ofensivas podem ser enquadradas como apologia ou incitação ao crime, cuja pena vai de 3 a 6 meses de prisão.
No caso daqueles que dizem ter praticado estupro, as mensagens servem como provas de um futuro processo judicial. "Com base nos comentários, a polícia pode pedir quebra de sigilo e obter o protocolo de internet deste agressor, além de mandados de busca e apreensão", afirmou Vaizof.
De acordo com o advogado, os departamentos de Polícia Civil das principais capitais e a Polícia Federal têm delegacias especializadas para investigar crimes ocorridos na internet, mas "o número de investigadores é menor do que o necessário para investigar a quantidade de crimes" praticados.
Vainzof explica ainda que este tipo de agressão denunciado pelo tumblr é recente. "Até hoje o que mais aparecia eram casos relacionados a crimes de racismo, tráfico de drogas ou quando há uma vítima pré-determinada, por exemplo, uma ex-namorada que tenha a intimidade divulgada pelo ex. Esse tipo de situação que vimos nos últimos dias está aflorando agora. É possível que os autores sejam investigados e punidos", disse.

PF analisa material

A PF irá analisar as centenas de ameaças de estupro e outras formas de violência contra a mulheres nas redes sociais. Na sexta-feira (4), a ministra Eleonora Menecucci, da Secretaria de Política para as Mulheres, se reuniu com representantes da campanha e, durante o encontro, telefonou para o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, que orientou as representantes do movimento e encaminhar todo o material com as ameaças à corporação.
A PF informou à reportagem que as ameaças serão analisadas e, "conforme o caso", inquéritos podem ser instaurados. De acordo com a PF, um grupo especial de combate a crimes na internet "já monitora diversas situações" de ameaças.
A campanha foi criada após divulgação de pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) em que 65% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Na sexta-feira, o instituto publicou uma errata informando que o resultado divulgado na pesquisa estava errado. Segundo o órgão, uma troca nos gráficos da pesquisa provocou o erro. Os percentuais corretos são: 26% concordam, total ou parcialmente, com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"; e 70% discordam, total ou parcialmente. Outros 3,4% se dizem neutros.
Ao criar a campanha, a jornalista propôs que os internautas compartilhassem no Facebook fotos com a mensagem "Eu não mereço ser estuprada" escrita em cartazes cobrindo partes do corpo do participante.
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Vítimas de estupro revelam frases dos agressores23 fotos

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Vítima de estupro da cidade de Delaware, em Ohio (EUA), exibe papel com a seguinte mensagem: "Sorria. Mostre-me que você está feliz. Estou fazendo isso por você". Ela participa do projeto Unbreakable (inquebrável, em português), tumblr da fotógrafa norte-americana Grace Brown que reúne fotos de pessoas abusadas sexualmente segurando cartazes com frases ditas por seus agressores Leia mais Grace Brown/projectunbreakable.tumblr.com

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/04/07/ativistas-criam-tumblr-para-denunciar-agressoes-e-ameacas-nas-redes-sociais.htm

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