sábado, 30 de abril de 2016

O casal que desmascarou o golpe e a Globo perante o mundo. Por Paulo Nogueira 


Postado em 26 Apr 2016
Greenwald, Miranda e os cães em sua casa na Gávea: os poderosos que se cuidem
Greenwald, Miranda e os cães em sua casa na Gávea: os poderosos que se cuidem
Se você é esperto, tem habilidades e possui os meios, você deve foder os poderosos.
A frase acima como que resume o jornalista americano Glenn Greenwald, 49 anos. Ele a pronunciou no curso de uma entrevista que concedeu à revista americana The Advocate, dedicada à comunidade gay.
Greenwald foi capa da revista, mas não foi apenas ele o objeto do texto. Também seu parceiro, o ativista brasileiro David Miranda, mereceu um amplo espaço da Advocate. 
O casal acaba de fazer história no jornalismo brasileiro. Ambos foram decisivos em mostrar ao mundo que, sim, é um golpe. Não bastasse isso, expuseram para audiências internacionais a “mídia plutocrática” – expressão deles mesmos – como jamais ocorrera antes.
Dois artigos de Miranda foram particularmente devastadores para a Globo. Um foi publicado no Guardian, jornal de centro esquerda britânico no qual Greenwald foi até pouco tempo colunista. O outro saiu no Intercept, o site de Greenwald montado com dinheiro do bilionário fundador do E-bay.
O artigo do Guardian doeu tanto na Globo que João Roberto Marinho se sentiu na obrigação de responder numa réplica que não convenceu ninguém.
A virtude involuntária da reação de JRM foi provocar uma tréplica sensacional de Miranda. Fora de sites independentes como o DCM, nunca um retrato tão veraz e tão acachapante da Globo foi publicado – tanto em inglês quanto em português.
Tudo somado, Greenwald e Miranda prestaram um formidável serviço à democracia e às causas progressistas no Brasil.
Eles moram numa casa espaçosa na Gávea. Têm dez cachorros, a maior parte dos quais vira-latas recolhidos nas ruas do Rio.
Conheceram-se no Rio em 2005. Segundo Greenwald, foi amor à primeira vista.
Greenwald contou à Advocate que lia na praia no primeiro de dois meses de férias no Rio. Miranda jogava vôlei ali perto. Uma bola perdida foi dar em Greenwald e Miranda foi buscá-la. “Oi, meu nome é Glenn”, disse ele.
Nunca mais se largaram. O amor deve ter gritado alto porque nem Greenwald falava português e nem Miranda inglês.
Greenwald, advogado de formação, começava a se encaminhar para o jornalismo. Miranda tivera uma vida bem mais dura. Filho de mãe prostituta, ficou órfão cedo, e passou por mais de uma tia bêbada.
Pode-se imaginar o que Greenwald representou para Miranda, que tinha 20 anos quando eles se encontraram. O garoto da favela se tornou um cidadão do mundo.
Greenwald faz questão de dizer também o que Miranda significou para ele. Foi, afirma, vital para sua travessia rumo ao jornalismo.
O casal optou pelo Brasil por causa dos direitos concedidos no país às uniões entre homossexuais.
Mas aparentemente não é mais o que os retém aqui, dados os avanços na legislação americana na questão de uniões entre gays.
“O Rio é o melhor lugar do mundo”, disse Greenwald à Advocate. O casal pensa agora num filho.
Não é exagero dizer que a decisão deles de ficar no Rio acabou sendo extremamente favorável ao Brasil.
Greenwald acabou mergulhando nas coisas do país. Pôde ver o quanto a mídia nacional é parcial. Numa entrevista que ele fez com Lula, num certo momento ele confessa estar “chocado” com a imprensa brasileira, sobretudo a Globo.
Diz nunca ter visto nada parecido nem nos Estados Unidos e nem no Reino Unido, lugares em que militou no jornalismo.
A Globo não poderia ter um inimigo pior. Respeitado mundialmente entre os jornalistas, detentor do prêmio Pulitzer, o mais importante da mídia, Greenwald é um exército de um homem só. Greenwald é referência internacional em jornalismo, e a Globo não é nada fora do Brasil. Golias, neste caso, não pode nada contra Davi.
A vida no Brasil deu a Greenwald elementos para desmascarar o golpe perante o mundo com petardos como uma entrevista que concedeu à CNN. Miranda daria também sua contribuição milionária à causa com seus textos no Guardian e no Intercept.
Mas, acima de tudo, o Brasil deu muito material para Greenwald seguir seu motto: usar sua inteligência, suas habilidades e seus meios para “foder os poderosos”, a começar pelos Marinhos e a Globo.

terça-feira, 26 de abril de 2016


8 Dicas ESSENCIAIS para melhorar seus vídeos para VLOGS, CURTAS - Versolutions E1

Versolutions

https://www.youtube.com/watch?v=UX4ttGe9h30

Publicado em | outubro 9, 2013 7:20 pm | No Comments
Nesta etapa do Programa Mineiro de Empreendedorismo na Pós-graduação, os mestrandos e doutorandos devem criar um vídeo de 5 minutos sobre os Planos de Inovação concorrentes, além de uma apresentação em formatoPower Point (.ppt), de até 10 páginas. Os trabalhos serão avaliados por votação popular pela internet e por um júri de especialistas. Esta fase será decisiva, pois cinco dos 20 planos concorrentes serão selecionados para a Grande Final.
Crédito: videoproductiontips.com
Crédito: videoproductiontips.com
Elaboramos algumas dicas para ajudá-lo(a) a preparar um bom vídeo. Confira:
1-    Pense antes na forma e no conteúdo – O momento de criação do vídeo é um dos mais importantes. Saiba o que quer fazer e como será feito. Pense em criar um vídeo que você desejaria assistir. O que será preciso para isso?
2-    Faça um roteiro – “Um bom vídeo necessariamente começa com um bom roteiro.” Antes de filmar, crie-o. Esta será a fórmula do seu vídeo, a “receita do bolo”. Procure chamar a atenção do espectador nos primeiros 30 segundos. A mensagem deve ser transmitida de maneira clara e objetiva.
3-    Atenção com a luz – A luz deve estar sempre de frente para quem estiver sendo filmado. Cuide para que a cena esteja bem iluminada. Problemas de iluminação podem distrair o público.
4-    “O som é tão importante quanto a imagem.” – As câmeras e filmadoras costumam ter o microfone na parte frontal. Se for utilizar esta opção, fale alto e de frente para o microfone. Microfones externos têm qualidade melhor, pois não captam ruídos do som ambiente, como acontece com os microfones embutidos.
5-    Escolha um bom programa – A escolha do programa de vídeo é pessoal. Existem programas simples e gratuitos para usuários de PC e Mac, ideais para iniciantes. O Windows Movie Maker já vai instalado em computadores com Windows 7 (aprenda a utilizá-lo). Para o sistema Mac, existe o iMovie, que é fácil de usar (veja aqui).  Um sistema interessante é o PowToon, que é gratuito e online. Para um resultado mais elaborado, podem ser utilizados programas como o Sony Vegas (PC) e o Adobe Premiere (Mac), ambos pagos. Mas há muitos outros.
6-    Capriche na edição – Quase todos os vídeos do Youtube possuem algum tipo de edição, para eliminarem partes longas sem falas, a respiração do apresentador, erros de gravação e dar mais dinamismo.
7-    Não exagere nos efeitos especiais – Pense bem se irá valer a pena utilizar muitos efeitos e dedicar tempo a ales. Só use-os se o roteiro realmente pedir. O que mais importa é o conteúdo, que deve ser transmitido de maneira clara e objetiva.
8-    Use somente trilha sonora autorizada – Cuidado para não utilizar músicas protegidas por direitos autorais, o que poderá fazer com que o seu vídeo seja retirado do Youtube por contrariar as regras de utilização. Procure materiais licenciados como domínio público ou com licença Creative Commons. Alguns sites podem ajudar:www.incompetech.comwww.freesound.org e www.archive.org
9-    Crie títulos e chamadas atrativas – Faça títulos e descrições atrativas para o seu vídeo, que definam bem a proposta do projeto. Qual é a mensagem principal?
10-    Conheça o seu público – Quem é o seu público? Procure identificá-lo para poder mostrar o seu talento e as qualidades do projeto da melhor maneira possível. Quais pessoas você deseja atingir?
Confira também estes artigos e referências:
8 Dicas de Como fazer Otimização de Vídeos no Youtube http://www.seomaster.com.br/blog/como-fazer-otimizacao-de-videos-no-youtube
Editar vídeos no iMovie Mac – para iniciantes http://videolog.tv/511723
Em inglês: Video Planning and Production and more http://storyviz.com/content/category/video/
Apresentação:

http://empreender.simi.org.br/site/?p=1736
O agora e o depois: a crise para além da superfície
O intenso debate sobre o impeachment não abre espaço para uma questão fundamental: há mesmo dois projetos antagônicos de organização da sociedade brasileira em disputa? A prática dos governos de Lula e Dilma diferenciou-se decisivamente da era FHC?*
por Chico Alencar


Achar a porta que esqueceram de fechar.
O beco com saída.
A porta sem chave.
A vida.
Paulo Leminski

No debate apaixonado sobre o impeachment, o risco é nos afogarmos na superfície. Para analisar a crise brasileira com alguma profundidade, na perspectiva de um futuro transformado, é preciso ir além da simplificação maniqueísta, que divide o mundo entre linchadores e adoradores, “coxinhas” e “petralhas”.
Não é no grito que se constrói o convencimento.Slogans são necessários para animar a massa, sem dúvida, mas não explicam muito, por necessariamente sintéticos. O Brasil ouve duas narrativas predominantes para explicar a crise e afirmar supostas saídas imediatas: uma com a continuidade de Dilma, outra com a assunção de Michel Temer. Ambas insuficientes, parciais.

Luta pelo poder
O intenso debate sobre o impeachment, no qual a paixão tem superado a racionalidade, com seguidas cenas de intolerância explícita, não abre espaço para uma questão fundamental: há mesmo dois projetos antagônicos de organização da sociedade brasileira em disputa? A prática dos governos de Lula e Dilma diferenciou-se decisivamente da era FHC? Sem dúvida, os programas sociais e as iniciativas para ampliar o consumo interno nos anos do lulopetismo foram mais significativos, mas há uma complementaridade entre as gestões. FHC consolidou o controle da inflação e avançou nas privatizações; já Lula (e Dilma, em menor escala) cuidou do “andar de baixo”, costurando políticas para setores marginalizados sem afetar o “andar de cima”. Assim, a era Lula foi reconhecida e assimilada pelo grande capital, ainda que este, por óbvio, se identificasse mais com o tucanato. De todo modo, em ambas as épocas o setor rentista (sobretudo os grandes bancos) teve lucros extraordinários. Sequer uma reforma tributária que gravasse operações financeiras, patrimônio e herança dos mais ricos foi realizada.
No plano da política, não se fez nenhuma reforma profunda desde a promulgação da Constituição Cidadã. A chamada “Nova República”, apesar dos princípios de democracia participativa da Carta Magna, derivados do ascenso dos movimentos populares nos anos 1980, consolidou um padrão clientelista, patrimonialista e corrompido de fazer política. Tanto o PSDB, que nasceu de um questionamento ao fisiologismo genético do PMDB, quanto o PT, que nasceu e cresceu buscando renovar os costumes políticos do Brasil, não mudaram o sistema: adaptaram-se a ele, inclusive à sua corrupção estrutural, endêmica.
No oceano do estado oligárquico de direito as marés de lama são sucessivas. A destituição de Dilma, liderada por um bloco social e político que até há pouco a apoiava, é mera disputa de poder, para controlar a máquina do Estado e o orçamento público sem fazer qualquer mudança estrutural. Michel Temer e seus apoiadores têm pauta regressiva, de evidente retrocesso.

É a economia, estúpido!
A iniciativa política do impeachment não prosperaria se não tivéssemos inflação (10,5%), desemprego (9,5%), com 1,3 milhão de trabalhadores com carteira assinada sendo despedidos nos últimos doze meses (8,5% na indústria) e redução de programas sociais. Um em cada cinco jovens brasileiros entre 18 e 24 anos está desempregado. Dados da Pnad/IBGE revelam que a renda do trabalho caiu (-3,2% em 2015) e a histórica desigualdade social brasileira, que vinha sendo reduzida paulatinamente desde 2000, voltou a crescer (- 3,7% na taxa de Bem Estar, segundo a FGV Social). A perda média de arrecadação dos entes estatais foi de 13% no ano passado. Vale lembrar que nossa economia liberal-periférica é vulnerável às oscilações do mercado internacional, e a queda dos preços das commodities tem forte impacto na nossa realidade econômica nacional.
Também no enfrentamento dessa crise as propostas econômicas de Dilma e Temer se assemelham (não por acaso têm o mesmo principal conselheiro: Delfim Netto): redução do gasto público, manutenção de altas taxas de juros (as maiores do mundo!), inclusive para o consumidor (o que multiplica no crediário por 2,4 vezes o preço à vista), redução de direitos trabalhistas, com prioridade do negociado sobre o legislado, fim das vinculações constitucionais orçamentárias para Educação e Saúde e privatização de tudo o que ainda for possível.
Com Michel Temer/PMDB, é verdade, a ortodoxia liberal seria ainda maior: violento “ajuste”, autonomia total do Banco Central e desvinculação dos benefícios previdenciários do salário mínimo e deste em relação à variação do PIB. Bem do jeito que o alto patronato quer. Como diz Roberto Leher, reitor da UFRJ, “um ajuste fiscal de proporções gregas” (a despeito da admirável resistência do Sryza; Tsípras de novo denuncia a troika).

Estelionatos eleitorais
Reconheçamos: as duas forças que disputaram o segundo turno do pleito presidencial de 2014, o PT e o PSDB, praticaram estelionato eleitoral. Dilma por ter apresentado propostas, no primeiro ano de seu segundo governo, que negara na campanha, e muito aproximadas do ideário de seu adversário, o tucano Aécio Neves. Lembre-se que Joaquim Levy, seu poderoso ministro da Fazenda, tinha sido consultor econômico do programa do PSDB, e vinha da banca privada. Por outro lado, os projetos que chegaram ao Congresso, rigorosamente dentro do arcabouço da contenção de gastos públicos e incidindo, de imediato, sobre os trabalhadores, enfrentaram forte resistência, entre outros, do... PSDB, que na campanha defendera exatamente essas medidas.
Outra semelhança, e que dá base a campanhas eleitorais enganosas (de “estelionato ideológico”), é o seu financiamento empresarial milionário, de que os “polos” em disputa sempre desfrutaram. Noticia-se que empreiteiros delatarão, na Lava-Jato, caixa 2 para a chapa Dilma/Temer em 2014. Isso, se provado, pode resultar em cassação da chapa (e dos mandatos em curso) pelo TSE. O que se deve apurar também é se esses grandes financiadores, que contribuíram para outras campanhas, como a de Aécio, operaram com caixa 2, como de ilícita praxe, nessas outras “parcerias”.

Jatos certeiros
A Operação Lava-Jato tem um enorme mérito: pela primeira vez o conluio histórico entre grandes empresas corruptoras e partidos e políticos corruptos está sendo desnudado. Pela primeira vez os “colarinhos brancos”, tidos como intocáveis, foram para a cadeia. A famosa lista da Odebrecht, que o juiz Sérgio Moro se apressou em colocar sob sigilo, atingiu praticamente todas as legendas partidárias. Entre doações legais e ocultas de campanha, está a exigir que nada menos que 316 figuras públicas se expliquem. Escancara-se um modus operandi de três décadas! Dos idos dos anos 1980, como revelou a ex-secretária Conceição Andrade, aos tempos atuais, como descreve a atual secretária Maria Lúcia Tavares, apontadoras das planilhas da empreiteira – antes anotadas à mão, agora digitadas.
Também é forçoso reconhecer que, de todos os figurões da política indiciados na Lava-Jato, ou citados nas delações, Dilma é das menos referidas. Delcídio, inclusive, chegou a considerar que o fato dela desmontar o esquema de Cunha em Furnas está na origem do ódio deste a ela. Ainda segundo a delação de Delcídio, Dilma resistiu à nomeação de João Augusto Henriques, lobista do PMDB “apadrinhado” por Michel Temer, para a diretoria internacional da Petrobras.
Dois perigos, porém, rondam a Lava-Jato: a articulação dos poderosos atingidos para conter suas ações, na medida em que o principal alvo, o PT, já foi atingido fortemente, e o “estrelismo salvacionista” e autoritário de alguns promotores e do juiz Moro, incensados pela mídia espetaculosa. Como destacou o ministro Teori Zavascki, do STF, “é filme já visto isso de ações ilegais, mesmo bem-intencionadas, provocarem anulação de investigações importantes”. Ele citou as Operações Castelo de Areia e Satiagraha como exemplos. Alertam os renomados advogados Tales Castelo Branco e Fernando Castelo Branco, em artigo na Folha de S.Paulo (23 mar. 2014): “a correta persecução penal, seguindo o devido processo legal, não pode, de tropeço em tropeço, estar calcada em medidas ilegais de força, capazes de agradar a uma parcela da opinião popular (não confundir com opinião pública), mas que apenas desservem aos preceitos constitucionais e à democracia”.

Corrupção histórica
Na nossa sociedade de classes, a corrupção não é um acidente. Muito menos, como quer o propalado “moralismo udenista”, derivada da “má índole” do gestor público. Esse moralismo de fachada atribuía às virtudes individuais do sujeito incorruptível o condão de acabar com toda a roubalheira sistêmica. Uma sociedade marcada, desde 1500, por conquista violenta, dizimação de nativos, escravidão negra, extrema concentração da propriedade (latifúndio) e patriarcalismo constitui-se, a si mesma, como corrompida em seus valores fundantes. Não por acaso, um mote popular no Império já versejava “quem rouba pouco é ladrão/ quem rouba muito é barão”. O capitalismo, que tem como êmulos o lucro do negócio e a competição, também abriga corrupção. O socialismo real, com seus politburos1 e dachas2 dos dirigentes do partido único, igualmente se degradou.
É de se destacar que muitos políticos – do mundo inteiro – têm contas em offshores, e operam nesses esquemas internacionais ocultos e milionários. A Panamá Papers aí está a revelar esses esquemas, que vão de Vladimir Putin a Eduardo Cunha, sempre ele.
Algo resta claro, desde já: o partido dos grandes grupos econômicos e dos consórcios das empreiteiras é o... do governo. Nacional, estaduais, das grandes cidades. É ali que os propinodutos são instalados, com a leniência dos partidos que chegam ao poder.E que precisam de dinheiro grande para ali se perpetuar. Os desvios eleitorais oportunizam os patrimoniais. Afinal, “a carne é fraca”...

Impeachment e distopia
Impeachment tem previsão constitucional. É o ato mais grave do nosso ordenamento político, por isso deve ser utilizado com muito critério. Este, de Dilma, tem vários defeitos congênitos: foi acatado por um presidente da Câmara ilegítimo, réu no Supremo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro (por enquanto). Cunha deu continuidade ao pedido de advogados ligados aos derrotados de 2014 por mero espírito de vingança, por retaliação ao PT, que não o defendeu no Conselho de Ética da Casa, que analisa representação do PSOL e da Rede contra ele. Também não há fato objetivo doloso que incrimine a presidenta, que, até aqui, sequer é investigada na Justiça por qualquer acusação. Mesmo nesse canhestro pedido de impeachment não há menção a corrupção, com a qual parte significativa do Congresso que a julgará tem intimidade.
O conteúdo da denúncia para destituir a presidenta – decretos de suplementação orçamentária e “pedaladas” fiscais – não caracterizam objetivamente crime de responsabilidade. Há insuficiência jurídica, portanto. Janaína Pascoal, uma das autoras do pedido de impeachment, disse que “as manobras fiscais criaram um ambiente ilusório que favoreceu a presidente na sua reeleição”. Ora, em sendo assim o correto seria pedir igualmente a destituição do vice Michel Temer, beneficiário na chapa dessa “maquiagem enganosa”. Como já aconteceu, aliás, e Cunha engavetou. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, determinou que a Câmara, por isonomia, examine este pedido.
Nas ruas, as manifestações pelo impeachment, com seu aparato garantido por federações empresariais, com a incontestável simpatia de grandes grupos da mídia privada, criam uma simbologia de ampliação, tomando para si as cores da bandeira brasileira, como se ali falasse a Nação. O discurso do Estado corrupto e ineficiente – como a precariedade das políticas públicas confirma – leva água ao moinho do Estado mínimo. Mas a raiva destilada e a defesa não tão oculta do status quo, repelindo os do “pão com mortadela”, revelam ausência de algo fundamental para a relevância histórica dos grandes movimentos de massa: a esperança, a dimensão da utopia.
Por outro lado, as manifestações lideradas pelo PT e pela CUT, também expressivas, embora menores, têm o mérito de reagrupar uma esquerda dispersa (muito pela perda da fronteira ética e programática dos governos petistas), mas se desenvolvem em âmbito defensivo, de preservação de um governo que é ruim e nem muito “nosso”. Um mar vermelho que há muito não se via, mas cheio de contradições: ao clamor pela “guinada à esquerda” na praça, Lula e Dilma respondem articulando sua sobrevivência no varejo fisiológico com a direita parlamentar no Palácio...

É preciso arrancar alegrias ao futuro
Derrubar a presidente através de um Congresso tão questionado para que seu vice assuma não significará nenhuma alteração substantiva. Em alguns aspectos, aliás, representará retrocesso. Portanto, o impeachment é instrumento legal que poderá ser utilizado de maneira ilegítima, pelos interesses que seus efeitos abrigam. Trata-se de uma repactuação das elites econômicas e políticas, para quem Dilma deixou de ser funcional.
Não basta dizer “não” a essa armação e seus condutores. É preciso denunciar o sistema que a produz e operar por mudanças de fato. Certamente elas não virão tão já, pelo que indica a atual correlação de forças. Mas precisam ser anunciadas, sob pena de se consolidar o embuste. Os que, com compreensível indignação, clamam contra a corrupção, não podem ser enganados mais uma vez.
Não podemos interditar nenhum debate sobre alternativas futuras. Nosso “não” ao impeachment precisa estar grávido de “sins”, de perspectivas mudancistas. Com Dilma ou Temer os grandes impasses permanecerão.
Renúncia imediata de Dilma e Temer resultaria em nova eleição presidencial daqui a noventa dias, que seriam organizadas sem a assunção de Cunha, a ser afastado pelo STF, como já pedido pelo PGR. É o que propõe a Folha de S.Paulo, em editorial de capa de sua edição de 3 de abril de 2016. Mas pressupõe gesto pessoal de desprendimento de um e outro (haja “espírito cívico”!), e agilidade do Supremo. A Islândia não é aqui...
Tudo o que se tem aventado, inclusive eleições gerais, demanda alterações constitucionais que o atual Congresso não fará, já que não estamos em situação insurrecional. Depende também dos eleitos em 2014, inclusive os congressistas, abrirem mãos de seus mandatos, o que convenhamos, não é nada provável. Mas, como proposta política, clamor por “eleições gerais” tem o mérito de instigar, provocar, cutucar os “estabelecidos”. Não podemos abrir mão de ousar. Sem esquecer que paciência às vezes é virtude revolucionária: “não se afobe não, que nada é pra já...” (Chico Buarque).
É preciso reiterar a importância decisiva, numa perspectiva de futuro mais igualitário, justo e democrático para o país, de uma reforma tributária progressiva, de uma reforma política democratizante de fato e da construção de um novo modelo econômico que nos livre da situação liberal-periférica em que nos encontramos. Tudo isso precisa ser construído em fóruns abertos à presença popular, sem “espírito condominial” e “trincheiras de dogmas” (velho vício das esquerdas), reunindo as forças progressistas e as organizações cidadãs com novas pautas, dispostas a virar essa página final de um processo exaurido.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de ressignificar o próprio ideário socialista, que hoje precisa incorporar, com centralidade, o cuidado ambiental e a democratização radical de todas as relações na sociedade, para o que os espaços virtuais tanto contribuem. Urge a construção de um novo modo de se relacionar com a natureza, vale dizer, de produzir, consumir e reaproveitar.
As forças que reagem ao impeachment de Dilma, em defesa não de seu péssimo governo, mas da democracia, precisam se manter articuladas, como ensaiam a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular. Mudar de governo, por si só, não muda a realidade. A luta é longa: comecemos já!
Chico Alencar
Professor de História e deputado federal (Psol-RJ).

* Artigo escrito com a preciosa colaboração da equipe do mandato.
1 Politburos eram os comitês executivos dos Partidos Comunistas do Leste Europeu.
2 Dachas eram “casas de campo” utilizados pelos dirigentes do partido único.

Foto: Agência Brasil

http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=3206
publicada em 12 de abril de 2014
O que quer Gerdau, digo, "O que querem os Irmãos Koch*?"
12/4/2014, Bernie Sanders, Senador [Independente] pelo estado de Vermont, EUA
http://www.sanders.senate.gov/koch-brothers 



Entreouvido na Vila Vudu
:

Gerdau convoca rebelião. “Tem de se rebelar, gente!”

22º. ‘Fórum da Liberdade’, de empresários, em Porto Alegre, 3ª-feira, 7/7.
No Estado de S.Paulo, em http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,jorge-gerdau-sugere-que-populacao-se-rebele,181491,0.htm.

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Como resultado da desastrosa decisão “Cidadãos Unidos” da Suprema Corte, bilionários e grandes empresa podem agora gastar quantidades ilimitadas de dinheiro para influenciar o processo político.

Talvez os maiores vencedores no caso “Cidadão Unidos” sejam Charles e David Koch, proprietários da segunda maior empresa privada dos EUA, as Indústrias Koch.

Dentre outras coisas, os irmãos Koch são proprietários de refinarias de petróleo no Texas, Alaska e Minnesota e controlam 4 mil milhas de oleodutos.

Segundo a revista Forbes, os irmãos Koch valem hoje 80 bilhões de dólares; só no último ano, a fortuna deles cresceu 12 bilhões.

Para os irmãos, a fortuna de 80 bilhões de dólares, ao que parece, ainda é pouco. Serem donos da segunda maior empresa privada dos EUA ainda é pouco. Ao que se está vendo, só se darão por satisfeitos quando controlarem completamente todo o processo político.

É fato bem conhecido que os irmãos Koch são a principal fonte de dinheiro para o Tea Party e estão contra o “Affordable Care Act”.

O que mais querem os irmãos Koch?

Em 1980, David Koch concorreu à vice-presidência, candidato pelo Partido Libertarista-EUA [orig. Libertarian Party].[1]

Examinemos a plataforma do Partido Libertarista-EUA, em 1980.

Aqui, apenas alguns itens da plataforma do Partido Libertarista-EUA, que David Koch defendia em 1980:


– “Somos contra o financiamento público de campanhas eleitorais e pela imediata extinção da despótica Comissão Eleitoral Federal.”

– “Somos a favor da abolição de toda a assistência pública à saúde [orig. programs Medicare and Medicaid].”

– “Somos contra qualquer seguro de saúde apoiado por impostos para dar assistência gratuita à saúde, inclusive os que mantêm serviços públicos de aborto.”

– “Somos a favor da total desregulação de toda a indústria privada de serviços de saúde.”

– “Somos contra o sistema Público de Assistência à Saúde, que é fraudulento, está virtualmente falido e é cada dia mais autoritário e opressor. A adesão à Assistência Social tem de ser voluntária.”

– “Propomos a extinção do Serviço Público de Correios. O atual sistema, além de ineficiente, facilita a vigilância, pelo Estado, da correspondência privada. Exigimos o fim do sistema de monopólio, e que todo o sistema postal seja aberto à iniciativa privada.”

– “Somos contra todos os impostos, pessoais e empresarias, inclusive todos os impostos sobre ganhos de capital.”

– “Apoiamos a rejeição a todos os impostos, de todos os tipos.”

– “Como medida a ser tomada imediatamente, todas as sanções civis e criminais contra a sonegação de impostos devem ser abolidas.”

– “Apoiamos a rejeição de todas as leis que impedem as pessoas de conseguirem emprego, como as leis o salário mínimo.”

– “Defendemos a completa separação entre educação e Estado. Escolas coordenadas e comandadas pelo Estado são agentes de doutrinação das crianças e interferem com o direito ao livre arbítrio dos indivíduos. Devem ser imediatamente extintas toda e qualquer propriedade estatal, a operação, a regulação e todos os subsídios a escolas e universidades.”

– “Todas as leis sobre educação compulsória devem ser imediatamente abolidas.”

– “Apoiamos a luta contra todos os impostos aplicados a escolas e universidades privadas, sejam orientadas ao lucro, ou não.”

– “A Agência de Proteção Ambiental deve ser abolida.”

– “O Ministério da Energia deve ser extinto.”

– “Devem ser extintas todas as agências governamentais ligadas ao transporte, inclusive o Ministério dos Transportes.”

– “Exigimos que o sistema ferroviário dos EUA seja devolvido à propriedade privada. Todas as estradas, ferroviárias e rodoviárias, devem ser privatizadas.”

– “Rejeitamos e nos opomos a todas as leis que tornam obrigatório o uso do chamado “equipamento de autoproteção”, como cintos de segurança, air bags, ou capacetes.”

– “Defendemos a abolição da Agência de Aviação Civil.”

– “Defendemos a abolição da Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos.”

– “Apoiamos o fim de todos os subsídios à criação de filhos que há em nossas leis atuais, inclusive os serviços de bem-estar e outros orientados para crianças e mantidos com impostos.”

– “Nos opomos a todos os serviços oficiais de bem-estar, projetos de apoio e a todos os programas de ‘ajuda aos mais pobres’. Todos esses programas são paternalistas, atentam contra a privacidade das pessoas e não funcionam. A fonte correta de ajuda aos necessitados são os esforços voluntáros de grupos privados e de indivíduos que se dediquem à caridade.”

– “Exigimos a privatização de todos os mananciais de água e rios, e de todos os sistemas de distribuição que levam água a indústrias, à agricultura e aos lares.”

– “Exigimos a rejeição da proposta de lei “Segurança do Trabalho e Assistência à Saúde do Trabalhador” [orig. Occupational Safety and Health Act].”

– “Exigimos a abolição da Comissão de Proteção ao Consumidor”.

– “Exigimos o fim de todas as leis de usura que privilegiam o Estado.”


Quer dizer: a agenda dos irmãos Kock não visa apenas a extinguir o Obamacare, por lhe retirar todas as fontes de financiamento. A agenda dos irmãos Koch visa a pôr fim a todas as leis votadas e aprovadas ao longo de 80 anos nos EUA, para proteger a classe média, os idosos, as crianças, os doentes e os cidadãos mais vulneráveis dos EUA.

É claro que os irmãos Koch e outros bilionários de direita estão no controle do Partido Republicano.

E por causa da desastrosa decisão da Suprema Corte, que autoriza as grandes empresas a dar quantidades ilimitadas de dinheiro para campanhas eleitorais, eles agora podem gastar o quanto queiram para comprar a Câmara de Deputados, o Senado e o próximo presidente dos EUA.

Se forem deixados à solta para sequestrar o processo político nos EUA e cortar todas as vias de dinheiro que mantêm o Obamacare, em seguida voltarão, querendo mais.

Amanhã será a Seguridade Social, o fim da assistência pública à saúde como a conhecemos, o fim do salário mínimo. Minha impressão é que os irmãos Koch não pararão, até conseguir tudo o que acham que merecem.

Nossa grande nação não pode ser sequestrada por bilionários de direita como os irmãos Koch.

Em nome de nossos filhos e netos, em nome de nossa economia, temos de fazer prevalecer a democracia. *****



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* Ver também:

– 3/9/2010, “Os irmãos bilionários que comandam a guerra contra Obama”, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2010/09/os-irmaos-bilionarios-que-comandam.html

– 9/12/2011, John Nichols, The Nation, “Irmãos Koch e ALEC: assalto selvagem contra a democracia”, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2011/12/irmaos-koch-e-alec-assalto-selvagem.html ;

– 15/3/2013, Esther Zuckerman, Atlantic Wire, “Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a Grande Grana da ‘left-EUA’ o controle do mercado de mídia”, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/04/acontece-nos-eua-os-irmaos-koch.html [NTs]


[1] Atenção: Traduzimos a expressão libertarian, por “libertarista-EUA”, para tentar fugir da confusão com “libertário”, expressão que, em português, sempre esteve associada ao anarquismo comunista. Os libertaristas-EUA são a extrema direita. No Brasil, os ‘black-bloc’ fascistas são libertaristas, mas não são libertários.

Nos EUA, se o cara não for um diabão da falange do Pastor (Malafaia) Maldito e/ou da falange da Blogueira Cubana Nefanda, ele já é apresentado como progressista. E se, dentre os progressistas, ele não for um Obama acuado pelo Complexo Industrial-Militar e rendido ao dinheiro dos sionistas, pronto: já é apresentado como se fosse “Left” [“esquerda”] (podendo, num ou noutro caso ser apresentado – e logo apagado do mundo que a grande imprensa-empresa conservadora inventa – como um “radical”).

É quase impossível traduzir essas designações genéricas, porque quando, nos EUA, se diz liberal, fala-se exclusivamente de liberais progressistas (e o conceito muitas vezes aproxima-se de uma quase-esquerda burguesa, democrática, metida a “ética”; às vezes, até, aproxima-se de alguma esquerda revolucionária). Se o sujeito estiver um centímetro à esquerda do Khaganato dos Nulands, pá! Já é dito “liberal”, nos EUA.

Quando se diz libertarian nos EUA, fala-se dos malucos do Tea Party, ditos “libertários” porque querem total liberdade pra fazer o que lhes dê nas telhas individualistas, sempre resistindo contra o Estado. Tá cheio de libertarians, nos EUA, que batalham a favor de cada cidadão ter seu canhão privado, em casa, pra poder atirar no coletor de impostos que chegue à sua porta, e em qualquer preto que lhe pareça ameaçador (para os libertarian à americana, todos os pretos são ameaçadores). (Nota redigida para 15/3/2013, Esther Zuckerman, Atlantic Wire, “Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a Grande Grana da ‘left-EUA’ o controle do mercado de mídia”, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/04/acontece-nos-eua-os-irmaos-koch.html, aqui reaproveitada [NTs])
12/4/2014, Bernie Sanders, Senador [Independente] pelo estado de Vermont, EUA
http://www.sanders.senate.gov/koch-brothers


Entreouvido na Vila Vudu:

Gerdau convoca rebelião. “Tem de se rebelar, gente!”

22º. ‘Fórum da Liberdade’, de empresários, em Porto Alegre, 3ª-feira, 7/7.
No Estado de S.Paulo, em http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,jorge-gerdau-sugere-que-populacao-se-rebele,181491,0.htm.

____________________________________________

Como resultado da desastrosa decisão “Cidadãos Unidos” da Suprema Corte, bilionários e grandes empresa podem agora gastar quantidades ilimitadas de dinheiro para influenciar o processo político.

Talvez os maiores vencedores no caso “Cidadão Unidos” sejam Charles e David Koch, proprietários da segunda maior empresa privada dos EUA, as Indústrias Koch.

Dentre outras coisas, os irmãos Koch são proprietários de refinarias de petróleo no Texas, Alaska e Minnesota e controlam 4 mil milhas de oleodutos.

Segundo a revista Forbes, os irmãos Koch valem hoje 80 bilhões de dólares; só no último ano, a fortuna deles cresceu 12 bilhões.

Para os irmãos, a fortuna de 80 bilhões de dólares, ao que parece, ainda é pouco. Serem donos da segunda maior empresa privada dos EUA ainda é pouco. Ao que se está vendo, só se darão por satisfeitos quando controlarem completamente todo o processo político.

É fato bem conhecido que os irmãos Koch são a principal fonte de dinheiro para o Tea Party e estão contra o “Affordable Care Act”.

O que mais querem os irmãos Koch?

Em 1980, David Koch concorreu à vice-presidência, candidato pelo Partido Libertarista-EUA [orig. Libertarian Party].[1]

Examinemos a plataforma do Partido Libertarista-EUA, em 1980.

Aqui, apenas alguns itens da plataforma do Partido Libertarista-EUA, que David Koch defendia em 1980:

– “Somos contra o financiamento público de campanhas eleitorais e pela imediata extinção da despótica Comissão Eleitoral Federal.”

– “Somos a favor da abolição de toda a assistência pública à saúde [orig. programs Medicare and Medicaid].”

– “Somos contra qualquer seguro de saúde apoiado por impostos para dar assistência gratuita à saúde, inclusive os que mantêm serviços públicos de aborto.”

– “Somos a favor da total desregulação de toda a indústria privada de serviços de saúde.”

– “Somos contra o sistema Público de Assistência à Saúde, que é fraudulento, está virtualmente falido e é cada dia mais autoritário e opressor. A adesão à Assistência Social tem de ser voluntária.”

– “Propomos a extinção do Serviço Público de Correios. O atual sistema, além de ineficiente, facilita a vigilância, pelo Estado, da correspondência privada. Exigimos o fim do sistema de monopólio, e que todo o sistema postal seja aberto à iniciativa privada.”

– “Somos contra todos os impostos, pessoais e empresarias, inclusive todos os impostos sobre ganhos de capital.”

– “Apoiamos a rejeição a todos os impostos, de todos os tipos.”

– “Como medida a ser tomada imediatamente, todas as sanções civis e criminais contra a sonegação de impostos devem ser abolidas.”

– “Apoiamos a rejeição de todas as leis que impedem as pessoas de conseguirem emprego, como as leis o salário mínimo.”

– “Defendemos a completa separação entre educação e Estado. Escolas coordenadas e comandadas pelo Estado são agentes de doutrinação das crianças e interferem com o direito ao livre arbítrio dos indivíduos. Devem ser imediatamente extintas toda e qualquer propriedade estatal, a operação, a regulação e todos os subsídios a escolas e universidades.”

– “Todas as leis sobre educação compulsória devem ser imediatamente abolidas.”

– “Apoiamos a luta contra todos os impostos aplicados a escolas e universidades privadas, sejam orientadas ao lucro, ou não.”

– “A Agência de Proteção Ambiental deve ser abolida.”

– “O Ministério da Energia deve ser extinto.”

– “Devem ser extintas todas as agências governamentais ligadas ao transporte, inclusive o Ministério dos Transportes.”

– “Exigimos que o sistema ferroviário dos EUA seja devolvido à propriedade privada. Todas as estradas, ferroviárias e rodoviárias, devem ser privatizadas.”

– “Rejeitamos e nos opomos a todas as leis que tornam obrigatório o uso do chamado “equipamento de autoproteção”, como cintos de segurança, air bags, ou capacetes.”

– “Defendemos a abolição da Agência de Aviação Civil.”

– “Defendemos a abolição da Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos.”

– “Apoiamos o fim de todos os subsídios à criação de filhos que há em nossas leis atuais, inclusive os serviços de bem-estar e outros orientados para crianças e mantidos com impostos.”

– “Nos opomos a todos os serviços oficiais de bem-estar, projetos de apoio e a todos os programas de ‘ajuda aos mais pobres’. Todos esses programas são paternalistas, atentam contra a privacidade das pessoas e não funcionam. A fonte correta de ajuda aos necessitados são os esforços voluntáros de grupos privados e de indivíduos que se dediquem à caridade.”

– “Exigimos a privatização de todos os mananciais de água e rios, e de todos os sistemas de distribuição que levam água a indústrias, à agricultura e aos lares.”

– “Exigimos a rejeição da proposta de lei “Segurança do Trabalho e Assistência à Saúde do Trabalhador” [orig. Occupational Safety and Health Act].”

– “Exigimos a abolição da Comissão de Proteção ao Consumidor”.

– “Exigimos o fim de todas as leis de usura que privilegiam o Estado.”

Quer dizer: a agenda dos irmãos Kock não visa apenas a extinguir o Obamacare, por lhe retirar todas as fontes de financiamento. A agenda dos irmãos Koch visa a pôr fim a todas as leis votadas e aprovadas ao longo de 80 anos nos EUA, para proteger a classe média, os idosos, as crianças, os doentes e os cidadãos mais vulneráveis dos EUA.

É claro que os irmãos Koch e outros bilionários de direita estão no controle do Partido Republicano.

E por causa da desastrosa decisão da Suprema Corte, que autoriza as grandes empresas a dar quantidades ilimitadas de dinheiro para campanhas eleitorais, eles agora podem gastar o quanto queiram para comprar a Câmara de Deputados, o Senado e o próximo presidente dos EUA.

Se forem deixados à solta para sequestrar o processo político nos EUA e cortar todas as vias de dinheiro que mantêm o Obamacare, em seguida voltarão, querendo mais.

Amanhã será a Seguridade Social, o fim da assistência pública à saúde como a conhecemos, o fim do salário mínimo. Minha impressão é que os irmãos Koch não pararão, até conseguir tudo o que acham que merecem.

Nossa grande nação não pode ser sequestrada por bilionários de direita como os irmãos Koch.

Em nome de nossos filhos e netos, em nome de nossa economia, temos de fazer prevalecer a democracia. *****


* Ver também:

– 3/9/2010, “Os irmãos bilionários que comandam a guerra contra Obama”, emhttp://redecastorphoto.blogspot.com.br/2010/09/os-irmaos-bilionarios-que-comandam.html

– 9/12/2011, John Nichols, The Nation,“Irmãos Koch e ALEC: assalto selvagem contra a democracia”, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2011/12/irmaos-koch-e-alec-assalto-selvagem.html;

– 15/3/2013, Esther Zuckerman, Atlantic Wire, “Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a Grande Grana da ‘left-EUA’o controle do mercado de mídia”, emhttp://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/04/acontece-nos-eua-os-irmaos-koch.html[NTs]
[1] Atenção: Traduzimos a expressão libertarian, por “libertarista-EUA”, para tentar fugir da confusão com “libertário”, expressão que, em português, sempre esteve associada ao anarquismo comunista. Os libertaristas-EUA são a extrema direita. No Brasil, os‘black-bloc’ fascistas são libertaristas, mas não são libertários.

Nos EUA, se o cara não for um diabão da falange do Pastor (Malafaia) Maldito e/ou da falange da Blogueira Cubana Nefanda, ele já é apresentado como progressista. E se, dentre os progressistas, ele não for um Obama acuado pelo Complexo Industrial-Militar e rendido ao dinheiro dos sionistas, pronto: já é apresentado como se fosse “Left” [“esquerda”] (podendo, num ou noutro caso ser apresentado – e logo apagado do mundo que a grande imprensa-empresa conservadora inventa – como um “radical”).

É quase impossível traduzir essas designações genéricas, porque quando, nos EUA, se dizliberal, fala-se exclusivamente de liberais progressistas (e o conceito muitas vezes aproxima-se de uma quase-esquerda burguesa, democrática, metida a “ética”; às vezes, até, aproxima-se de alguma esquerda revolucionária). Se o sujeito estiver um centímetro à esquerda do Khaganato dos Nulands, pá! Já é dito “liberal”, nos EUA.

Quando se diz libertarian nos EUA, fala-se dos malucos do Tea Party, ditos “libertários” porque querem total liberdade pra fazer o que lhes dê nas telhas individualistas, sempre resistindo contra o Estado. Tá cheio de libertarians, nos EUA, que batalham a favor de cada cidadão ter seu canhão privado, em casa, pra poder atirar no coletor de impostos que chegue à sua porta, e em qualquer preto que lhe pareça ameaçador (para os libertarian à americana, todos os pretos são ameaçadores). (Nota redigida para 15/3/2013, Esther Zuckerman,Atlantic Wire, “Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a Grande Grana da ‘left-EUA’ o controle do mercado de mídia”, emhttp://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/04/acontece-nos-eua-os-irmaos-koch.html, aqui reaproveitada [NTs])

http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=10841

Dilma, Janaína e “gaslighting”

 Márcia Tiburi
A capa da Revista Istoé com uma distorção da imagem da presidenta Dilma Rousseff, num evidente momento de abuso moral e estético e de impressionante violência simbólica, infelizmente sempre tão facilmente naturalizada, valeu dessa vez a esse veículo de comunicação uma nova alcunha: IstoéMachismo.
Vai ser difícil limpar esse nome.
A imagem e o discurso da professora e advogada Janaína Paschoal na noite de ontem, 4 de abril de 2016, circula nas redes sociais como piada. A advogada faz parte do grupo que assina o pedido de impeachment, para muitos tido como um “golpe”.
As posições políticas de ambas podem ser avalizadas com mais profundidade em outro momento. O modo como as imagens dessas mulheres vem à tona em nossos dias, contudo, precisa ser analisado.
No primeiro caso se trata de uma imagem manipulada por meios digitais. No segundo caso, trata-se da gravação de um discurso com diversas testemunhas.
Não há nada de comum entre essas imagens, inclusive são diferentes em seus propósitos. A primeira foi produzida num processo de distorção da imagem da presidenta a partir de uma fotografia já conhecida quando da comemoração de um gol durante uma partida de futebol na última Copa do mundo. Distorções são práticas comuns para pessoas e instituições que entendem a política como um jogo sujo. Talvez o desespero do mercado comum à imprensa que hoje perde terreno para outras formas honestas e saudáveis de jornalismo nos faça entender o que a revista em questão pretendia, a saber, vender-se bem nas bancas no mercado do ódio midiático atual e contentar seus patrocinadores promotores de ódio.
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Max Ernst, 1934
É preciso saber que muitas mulheres iminentes na política já passaram por esse tipo de manipulação, diga-se, que beira o estelionato. Kristina Kirschner, Angela Merkel, Michelle Obama, várias dessas figuras são objeto de uma espécie de bullying machista ao qual se dá o nome de gaslightingBullying é, nesse caso, um nome estrangeiro simpático, virou uma marca de fantasia entre nós, para ocultar as mais perversas humilhações. Crianças e jovens sofrem isso na escola, mas falando em inglês, parece mais ameno e mais “científico” para todos nós. Pois bem, em psicologia gaslighting tem história. Mas é basicamente um tipo de violência por manipulação psicológica na qual mulheres, mas não apenas elas, são associadas à loucura. Há muitas histórias de suicídio a partir disso. Quem já estudou um mínimo de história da histeria e da história da bruxaria sabe desse nexo produzido culturalmente entre mulheres e loucura. Qualquer mulher em algum momento da sua vida já passou pelo discurso machista com teor de manipulação psicológica.
O perigo de zombar de Janaína Paschoal agora é incorrer nesse jogo que reúne, no mesmo campo simbólico, as mulheres e a loucura.
Então, para que isso não ocorra, é preciso esclarecer certos aspectos.
Janaína Paschoal em pleno discurso político diante de uma plateia da faculdade de direito onde ela mesma leciona, a USP, em determinado momento de sua fala, começou a portar-se com um histrionismo que causou estranhamento a muitos. Pelas redes, muitos diziam que ela tinha enlouquecido ou estava possuída. A performance envolveu alteração do tom de voz, gesticulação intensa, cabelos soltos e esvoaçantes, socos no ar. Para o humor popular, um prato cheio. Para quem se dispuser a estudar a fenomenologia do poder, uma verdadeira iconografia do irracional que causava espanto. O conjunto dos gestos, e sobretudo aquele gesto de girar a bandeira do Brasil no ar e depois soltá-la com força à sua frente era, nada mais era do que uma tentativa de sinalizar poder. Daquelas demonstrações histriônicas que se vê em palanques, ou estádios de futebol, quando homens gritam, suam, contorcem-se, pulam. Mas como tem cabelos curtos, esses homens não parecem fazer nada demais.
Agora, na internet, enquanto muitas pessoas se divertem com a performance que para muitos soa bizarra, outras se preocupam com o nexo entre mulheres e loucura que continua atuando à revelia dos esclarecimentos feministas sobre esse procedimento machista da humilhação chamada gaslighting. O procedimento da manipulação misógina da Revista IstoéMachismo  é o mesmo do senso comum que ri nesse momento de Janaína por ela “parecer” louca. O campo geral da loucura ligado às mulheres, apresenta-as como figuras do irracional, do mais mínimo destempero até o descontrole total. As mulheres são tratadas como loucas, de modo a serem diminuídas na sua capacidade intelectual e na suas potências ativas, éticas e políticas. Homens que fazem coisas muito piores não pagam de “loucos”.
Ora, é evidente que o problema na apresentação de Janaína Paschoal não é ser mulher, muito menos seria o de estar louca. Vulgarmente, nos autorizamos a fazer essa reunião de aspectos, por amor à piada, e também pelo machismo estrutural que sustenta essas piadas. Portanto, a questão é outra no que concerne à Janaina Paschoal.
O problema de seu discurso é que ele foi fascista. O conteúdo era de ódio. Era um discurso bastante pobre, carente de ideias. Na ausência do que dizer em termos políticos, as palavras de ódio vieram à tona, mas eram também fracas, pouco expressivas. O apelo à expressão, na falta de argumentos, gera esse tipo de caricatura política. Era preciso gritar, como quando alguém que não conhece uma língua na qual deveria se comunicar, começa a falar alto.
Em nível estético, que conta em contextos de oratória, estamos diante de um caso bem interessante do que podemos chamar de “ridículo político”. Mas uma ressalva deve ser feita. Como as mulheres são muito mais controladas esteticamente, compreendemos o porquê da atenção atual a essa pessoa e a esse evento e não a outros reis do histrionismo, Bolsonaros, Felicianos, Malafaias e outros que fazem de tudo para aparecer.
O não ter nada a dizer que é efeito do empobrecimento da linguagem e do pensamento, algo que surge pela incapacidade de ver o outro, de pensar no outro, gera lacunas afetivas que são também cognitivas. São essas lacunas que retornam como uma espécie de recalcado na fora de expressão caricata.
Mas não pensemos que isso é ingenuidade. No espaço político esse histrionismo tem um propósito claro de mistificação das massas. A ideia de que o outro se curvará a uma demonstração de força, sendo o grito uma delas, está em sua base. Sendo que a força, tendemos a pensar, é sempre masculina e bruta, Janaína Paschoal usou-a pra tentar demonstrar um poder sem fundamento algum. Justamente porque lhe faltava fundamento.
No extremo, pastores neopentecostais e políticos fazem o mesmo que a personagem em questão fez. Gritam, urram, sapateiam, xingam, produzem peças publicitárias, manchetes de jornais, capas de revistas, notícias falsas, operações policiais, julgamentos falsos, tudo ao mesmo tempo num jogo destrutivo da política em que eles pensam que vão se salvar sozinhos.
Nesse momento, é preciso deixar as mulheres e os loucos fora disso.
Hitler não era um louco, vários dos nossos parlamentares, juízes e cidadãos também não o são, ainda que se esforcem por parecer e usem esse “parecer” de modo perverso. No fundo, eles aproveitam os lucros da imagem que se torna uma mercadoria na era do capital em que a inteligência está sempre em baixa.
O fascismo conta com a nossa falta de inteligência.
30/03/2016 - Copyleft

Ato da USP denuncia o que está por trás do golpe

Intelectuais analisaram episódios recentes, como a saída do PMDB do governo, a inconsistência do pedido de impeachment e o que está por trás do golpe


Tatiana Carlotti
Paulo Pinto / Fotos Públicas
Na noite desta terça-feira, 29 de março, estudantes da USP, professores universitários, artistas e representantes de movimentos sociais se reuniram no vão do prédio da História e da Geografia no ato “USP Contra o Golpe!”. 
 
Organizado por estudantes de vários departamentos, o ato contou com a participação de intelectuais, como Marilena Chauí, Paulo Sérgio Pinheiro, Leda Paulani, Luis Bresser Pereira, Paulo Arantes, Laura Carvalho, Pedro Paulo Zahluth Bastos, Sérgio Mamberti, entre outros. Também estiveram presentes representantes de vários entidades sociais como a Frente Brasil Popular, Marcha das Mulheres, MST, CUT, FUP, UNE e outros movimentos.
 
Unânimes quanto à importância das mobilizações na luta contra o golpe e em defesa da democracia, eles analisaram episódios recentes, como a saída do PMDB do governo, a inconsistência do pedido de impeachment e, também, o que está por trás do golpe e o que é possível fazer para estancá-lo neste momento. 
 
O mito da estabilidade com o impeachment
 
Professores de Economia presentes no ato foram unânimes quanto às reais intenções dos golpistas na seara econômica. Laura Carvalho (FEA-USP) destacou o severo ajuste fiscal que está por trás do falso discurso da estabilidade econômica caso aconteça um impeachment. Destacando que a FIESP “jamais pagou o pato”, ela apontou que o governo brasileiro cedeu, justamente, às exigências da FIESP, em uma tentativa que “se mostrou frustrada no sentido de se criar uma base política e solucionar a crise”. 
 
“O que esperar de um governo já capitaneado por essa mesma FIESP e pelo PMDB que anunciou uma estratégia ainda mais agressiva e que ameaça os direitos constitucionais e dos trabalhadores?”, questionou. 
 
Segundo Paulo Pedro Zahluth Bastos (Economia – Unicamp), o golpe tem como objetivos principais estancar as investigações em curso no país. “Não tem nada a ver com uma disputa contra a corrupção”, afirmou, destacando que além de Michel Temer e Eduardo Cunha, 65% dos deputados da Comissão do Impeachment são suspeitos de atos de corrupção ou estão implicados na Lava Jato”. Ele também destacou o objetivo político de prender o ex-presidente Lula e de cassar os partidos de esquerda do país.
 
Já na seara econômica, Paulo Pedro explicou que os defensores do golpe querem que o projeto de desenvolvimento do país seja liderado pela iniciativa privada. A intenção, detalhou, é acirrar ainda mais a política de austeridade no país, transformando a Constituição de 88, para acabar com os vínculos constitucionais que garantem, por exemplo, a educação e saúde gratuitas. E, sobretudo, acabar com a CLT. “Eles querem transformar o legislado nas relações trabalhistas, pelo negociado”, apontou.
 
O economista Luiz Carlos Bresser Pereira também afirmou que não se trata apenas de mudar um presidente, mas de uma “mudança de regime”. “Eles querem instalar um novo ciclo de subserviência. Nossas elites se associam às elites dos EUA e Europa. A ideia de Nação desaparece”. 
 
Citando o grande ciclo democrático desde a década de 80, Bresser Pereira apontou os avanços democráticos e, sobretudo, as conquistas sociais nos últimos anos. “É isso que está em jogo agora. Se não vencermos, teremos uma luta muito grande pela frente. Há muita coisa em jogo”, alertou.
 
Pré-sal na mira dos golpistas
 
Uma das coisas em jogo é o pré-sal, como destacou Cibele Vieira, da Federação Única dos Petroleiros (FUB). Vestida com o jaleco da Petrobras, ela destacou o orgulho de ser petroleira, lembrando que a categoria encontra-se “no olho do furacão”. “Há dois anos, todos os dias, o noticiário manipula a opinião pública contra Petrobras. O pré-sal é sim uma das principais disputas do golpe”.
 
“Todos acreditam que tem interesse dos EUA no Oriente Médio por causa de petróleo. Por que não acreditam quando é o caso do Brasil?”, questionou Cibele, ao lembrar que o pré-sal já é realidade e origem de 30% da produção nacional de gasolina e diesel. “Depois que descobrimos o pré-sal, que desenvolvemos a tecnologia, que o preço de extração está 9 dólares, eles vêm tirar o pré-sal do Brasil. E ainda falam que é combate à corrupção...”, complementou. 
 
A professora Marilena Chauí (Filosofia – USP) também destacou o papel fundamental do pré-sal no golpe. Ao explicar por que o juiz Sérgio Moro tem o poder que ele tem, ela afirmou que o juiz de Curitiba tem duas tarefas designadas pelas grandes empresas e bancos dos Estados Unidos: “entregar o pré-sal a seis companhias americanas de petróleo; e permitir o retorno da ALCA, contra todo o trabalho realizado contra a ALCA e pelo fortalecimento do MERCOSUL neste país”. 
 
Destacando que o Congresso brasileiro é movido “pelo boi, pela bala e pela Bíblia”, na proposição de pautas que não são conservadoras, mas “reacionárias e fascistas”, Chauí também analisou a permanência de Eduardo Cunha na Câmara. “Cunha se mantém porque está vinculado a fundos financiadores das igrejas evangélicas”, internacionais inclusive, “e às empresas de petróleo”. 
 
Ações nos Três Poderes
 
Segundo Chauí, é necessário realizar ações que intervenham nas instituições e nos Três Poderes. Uma delas ações é convencer os congressistas que não irá acontecer uma ‘operação abafa’ caso eles votem pelo impeachment. “Os 200 nomes na lista da Odebrecht não vão desaparecer. Bastará o golpe para rolar a cabeça de todos, uma a uma. É preciso que eles compreendam o engano da aposta que estão fazendo”.
 
A segunda frente de ação é “fazer com que o STF não se sinta mais acuado e atropelado com o bando de enlouquecidos e violadores da Constituição do Estado de Direito”. Em sua avaliação, é preciso realizar ações dirigidas ao Congresso e ao STF e, também, ao Executivo. “Ele [Executivo] só terá força e capacidade de impedir o golpe, se nos tiver como seus aliados e seus defensores. Se ele não for para a esquerda, com todas as políticas exigidas por nós, estará completamente desamparado”. 
 
Joaquim Palhares, secretário político do Fórum 21, destacou a necessidade de usar todos os meios jurídicos possíveis para impedir o impeachment. “É uma afronta à Presidente da República, eleita por 54 milhões de votos, ser retirada do governo por deputados que ou são réus na Suprema Corte ou serão julgados daqui dois ou três anos”, apontou. O processo de impeachment, explicou, será conduzido por Eduardo Cunha, considerado réu pela Suprema Corte e por 31 parlamentares investigados e citados na lista da Odebrecht. 
 
Ele também frisou a necessidade de usar o expediente Jurídico e legal na Suprema Corte, estabelecendo um diálogo com o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF, e os demais ministros da Corte. “Eles terão a mácula de terem concordado com a retirada do Governo de uma mulher digna, em detrimento de 32 bandidos que serão futuramente condenados”, concluiu. 
 
Democracia sob ameaça
 
Sob o lema de que “não existem limites para o arbítrio”, a professora Leda Paulani (FEA-USP) afirmou que “se não tivermos liberdade, vamos ingressar novamente em um período nefasto do ponto de vista da democracia”. Crítica ao ajuste fiscal do governo, ela afirmou: “Não estou defendendo Dilma ou a política da Dilma, mas o direito de 54 milhões de brasileiros que votaram nela e aquilo que a Constituição prevê como direitos civis e democráticos. Para que eles não sejam desrespeitados”.
 
O diplomata e professor Paulo Sérgio Pinheiro, por sua vez, foi categórico: “o impeachment é golpe. Quem leva adiante esse processo é um réu do STF e o faz em defesa própria, por motivos espúrios”. Na sua avaliação, nesta terça-feira, “o golpe palaciano começou a ser dado pelo vice-presidente da República. Ele não chegaria ao poder pelas eleições, mas pretende chegar pelo golpe”.
 
Destacando que o pano de fundo do golpe é desmantelar a Constituição, Pinheiro trouxe a lista dos empresários que apoiam o impeachment, divulgada nos principais jornais do país nesta terça-feira. “Não há mais nenhum pudor. Está claríssimo quem está a favor do golpe. Eles estão facilitando o trabalho dos futuros historiadores”, ironizou. 
 
Já o professor Paulo Arantes (Filosofia – USP) começou sua intervenção lembrando as mobilizações antes do golpe militar de 1964. “Há 52 anos, nós imaginávamos que seria um simples pronunciamento militar. Imaginávamos que aquilo seria derrotado porque enfrentaria um movimento social bem organizado, que dispunha de um dispositivo militar que virou uma miragem. Nós não tínhamos ideia do que seriam os vintes anos de ditadura. Hoje, nós não temos ideia do que vem pela frente”.
 
Arantes destacou a própria Constituição permite às Forças Armadas a decisão de decidirem quando a “lei a ordem estão sendo tumultuadas”, para interferirem. “O que vem pela frente não é brincadeira. Vamos ter ocupações, vamos invadir terras, vamos parar o metro, estrangular rodovias? Com um Congresso crapulizado, um Judiciário duvidoso, se a nossa resistência tiver impulso, isso vai barbarizar o outro lado”, afirmou. 
 
Ele também destacou que ao contrário de 1964, hoje, a esquerda está desmoralizada no país. “Vamos viver alguns meses sob a ´garantia da lei e da ordem´. Com o que vai sair disso, não será possível apelar para a Constituição, confiar no Judiciário, em delegado, em coronel da PM”, concluiu. 
 
Mais otimista, o jornalista e professor universitário Gilberto Maringoni destacou a intensa mobilização e politização da sociedade brasileira. Ele também apontou que “o problema não é termos 171 deputados para barrar o impeachment, mas eles contarem com 342 votos para aprová-lo.” 
 
“Eles têm a Globo, a mídia promovendo o caos, mas não é fácil reunir esse número. A pressão tem que continuar. O ato no dia 31 de Março tem que ser gigantesco”, afirmou. Já sobre a saída do PMDB do Governo Dilma, Maringoni lembrou que “o PMDB saiu do governo para entrar em outro. O PMDB não fica fora do governo”. E avaliou: “Depois dos tucanos, chegaram os patos. Eles chegam como farsa escancarada. Todos eles”. 
 
Recado à presidenta
 
O ator Sérgio Mamberti, por sua vez, lembrou o papel fundamental de Leonel Brizola em defesa da Rede da Legalidade. Ele recordou o clima de forte mobilização no país, nas vésperas do golpe, citando seu número no exército da resistência, em Porto Alegre: 33 mil. 
 
“Como hoje, naquele momento, os artistas, estudantes e intelectuais estavam unidos. Nós já temos essa experiência, construímos uma longa caminhada. Temos que ter noção clara que o dia 31 de março será muito importante para mostrarmos que o Brasil não quer retrocesso. O Estado Democrático de Direito não pode retroceder. Não podemos renunciar a conquistas que significaram a morte de tantos companheiros”. 
 
Mamberti faz parte da comitiva que irá se reunir, nesta quinta-feira, com a presidenta Dilma Rousseff. Aos presentes no ato, ele garantiu: “Vamos transmitir o espírito que está aqui presente. Ela tem que ouvir a voz das ruas. Sua permanência depende, justamente, dessas decisões que ela precisa tomar”. 
 
A importância da mobilização nesta quinta-feira, dia 31 de Março, foi destacada por vários representantes dos movimentos sociais presentes no evento. Entre eles, Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres que destacou a força do movimento Fora Cunha, na Marcha das Margaridas, em 2015. 
 
Frisando que “sem democracia não há como a gente conquistar os nossos direitos”, Nalu destacou a luta de classes presente no golpe. “Ninguém mais pode dizer que não têm enfrentamento de classe. A classe trabalhadora está do lado do projeto de mudança”. 
 
E complementou: “A luta contra o impeachment não está separada da luta para que Dilma retome o programa pela qual foi eleita em 2016”.  
 
Papel crucial das mobilizações populares 
 
Em sua intervenção, Carina Vitral, presidente da UNE, destacou que no momento em que se realizava o ato na USP, outras dez universidades brasileiras promoviam manifestações semelhantes e simultâneas em defesa da democracia. 
 
“A universidade tem sido mais uma vez o palco da resistência democrática. Uma democracia que não está na estrutura da USP, mas em seus professores, trabalhadores e estudantes”, apontou. 
 
Ela também soou o alerta: “O Plano do Temer, em conluio com o PSDB e partidos da oposição, quer a cobrança de mensalidade nas universidades públicas”. E convocou todos os estudantes a irem às ruas na luta contra o golpe. 
 
Também presente no ato da USP, o senador Eduardo Suplicy fez uma breve intervenção, chamando todos, nesta quinta-feira, 31 de Março, a se concentrarem na Praça da Sé, na capital paulista: “Vamos nos encontrar nesta quinta-feira para dizer o quanto é importante que a democracia esteja em vigor neste país”. 

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