segunda-feira, 21 de julho de 2014

Ver todos os arquivos guardados no Feice

ALEXANDRE ARAGÃO
DE SÃO PAULO
14/07/2014   02h00

Aonde você estava na manhã do dia 14 de julho de 2012, há dois anos? A
lembrança pode demorar a vir na sua memória, mas há boas chances de que o
Facebook tenha a resposta na ponta da língua –e até compartilhe, com você e
com anunciantes.
Desde outubro de 2010 há uma ferramenta que permite a usuários baixar as
informações armazenadas sobre seus perfis. O arquivo inclui mensagens,
postagens de mural, fotos, vídeos e até cutucadas.
Entretanto, o mais surpreendente são as informações que vêm de
"metadados" –de onde, a que horas e de que endereço IP a rede foi acessada,
por exemplo– que o Facebook extrai. Há dados como as palavras-chave
usadas para colocar anúncios, além de uma lista de todos os banners já
clicados.
Uma parte desses arquivos é usada pela empresa para construir perfis
publicitários mais apurados. Se um cliente quiser anunciar para jovens de
uma região determinada de qualquer cidade, que tenham gostos bastante
específicos, o Facebook é capaz de acertar o alvo dada a grande massa de
informação.
Sem ter "curtido" uma página ou pesquisado um tema, é possível ser ligado a
ele. A rede faz juízos de valor não só a partir das "curtidas" e do que é
publicado, como o tamanho da roupa usado pelo usuário, mas também de
gostos que não estão diretamente ligados ao que usuários publicaram
expressamente.
Até a última sexta-feira (11), o Facebook não respondeu aos questionamentos
feitos pela reportagem.
O QUE COMPARTILHAM
Boa parte da política de privacidade do Facebook mudou desde sua criação,
bem como a interface do site. Essas mudanças têm influência na quantidade e
no modo como usuários compartilham, argumenta Alessandro Acquisti,
professor da Universidade Carnegie Mellon (EUA).
Os motivos para as alterações não são claros. "Como pesquisadores, não
sabemos as motivações por trás de uma ou outra mudança", diz Acquisti.
"Entretanto, podemos mostrar como certas escolhas de design podem afetar
sutilmente o comportamento dos usuários, sejam intencionalmente ou não."
Mesmo assim, Acquisti descobriu algo esclarecedor. Ele analisou as
informações públicas de 5.076 perfis entre 2005 e 2011. Apesar de a amostra
não ser representativa, o pesquisador aponta que quanto mais usam a rede, as
pessoas tendem a compartilhar menos informações publicamente.
Tem uma pegadinha: aumenta a quantidade de informações para grupos mais
restritos. E mesmo que somente os amigos mais próximos possam ver o local
em que o usuário está, por exemplo, o Facebook também pode.

Enquanto isso, grupos de pressão tentam obrigar empresas de internet a
disponibilizarem ainda mais informações aos usuários.
Como a EFF (Electronic Frontier Foudantion), um dos principais. "Não
sabemos se o Facebook apaga informações que 'aprendeu' ou se usa certos
aspectos desindexados de um perfil mesmo após a saída do dono", diz Adi
Kamdar, porta-voz da fundação.

O QUE A EQUIPE DE "TEC" DESCOBRIU AO BAIXAR SEUS
DADOS...

O dia em que o Facebook me convenceu a comprar um sofá
Navegar no mar de dados que o Facebook me devolveu de forma compactada
me mostrou o que era um achismo: como eu rejeito pedidos de amizades!
Mas, uma vez a pessoa no meu rol, tenho pudores de excluí-la –foram apenas
duas em quatro anos.
Nessa mesma linha, porém, sou usuária pesada da geladeira. É bem longa a
listas cujas publicações eu escolhi não ver mais.
Longuíssima listagem é também a de locais de acesso, que comprova o vício
em acessar o tempo todo.
E no quesito garimpar interesses, não é que o Facebook identificou e registrou
meu atual interesse por reformas e acertou em cheio ao exibir um anúncio de
sofás? Cliquei no bendito e comprei.
CAMILA MARQUES, editora de "Tec"
Ele me acha depressivo, mas não temos um relacionamento sério
Eu e Facebook nunca tivemos um relacionamento sério. Larguei-o pela 13ª
vez há uma semana. É complicado.
Quando baixei tudo o que guardou sobre nós, o Face expôs minhas
preferências –os dias e horários favoritos de login eram segundas e quintas
entre as 11h e as 12h. Lembrou ainda que troquei 49.776 mensagens em sua
presença.
E os juízos de valor? Entre as categorias de anúncios atribuídas ao meu perfil
está "depressão nervosa" (em inglês, "major depressive disorder"), como se eu
estivesse triste com o nosso romance.
Ele também armazenou alguns endereços que frequentei, como o do hotel em
que fiquei em Curitiba, a trabalho, em dezembro. Não gosto de me relacionar
com alguém tão controlador.
ALEXANDRE ARAGÃO
Rede social nos rouba o direito de esquecer e de ser esquecido
Tenho mais de 200 ex-amigos no Facebook. Gente com quem me indispus ou
pessoas que não faziam parte da minha vida e nunca deveriam ter tido acesso
a minhas informações pessoais. Há também algumas 'baixas de guerra'
–inocentes feridos em batalhas que findaram relações amorosas. O número é
próximo ao da minha lista de amigos atuais, de 299 pessoas.
Ao dificultar a exclusão de amigos e fotos, e registrar indefinidamente nomes,
sobrenomes e datas de início e fim da 'amizade virtual' e mais um amontoado
de dados, o Facebook me faz criar um laço perene que me rouba uma das
coisas mais importantes que o mundo real precisa para funcionar: o direito de
esquecer e ser esquecido.
ALEXANDRE ORRICO
Passado maníaco no Farmville, mas vida adulta Jedi estabelecida
Acessar o histórico do meu Facebook estampou na minha tela um tempo em
que ele tinha uma única utilidade para mim: jogar "Farmville". Entre 2009 e
2010, minha linha do tempo foi um amontoado de pedidos por tábuas,
pregos, porcos e patos.
Antes disso, em 2008, eu praticamente não existia na rede. Hoje, apareço
bem mais no Face, mas com pelo menos 400 laços cortados depois de parar e
ver exatamente quem fazia parte da minha lista de 'amigos'.
Já o super algoritmo da rede mostrou conclusões reais sobre mim: fui
enquadrada em vida adulta estabelecida (tenho quase 30), e recebi 19
menções a "Star Wars" para definir anúncios que são exibidos, revelando meu
fanatismo.
STEFANIE OLIVEIRA


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