Novo livro de Domenico De Masi, "O Futuro Chegou", traz sociedade brasileira como um modelo a ser seguido
Publicado: 24/05/2014 22:11 BRT | Atualizado: 28/05/2014 16:09 BRT
E se alguém te dissesse que o Brasil é, sim, um modelo a ser seguido
por todo o mundo? Pois esta é a leitura que o sociólogo italiano
Domenico De Masi faz do nosso país em seu novo livro, O Futuro Chegou.
Domenico, que é o sociólogo e professor da Universidade La Sapienza,
em Roma, esteve por aqui durante esta semana para a divulgação de sua
nova obra (que sai pela Editora Casa da Palavra/Quitanda Cultural e tem
768 páginas). Diferente do best-seller que o deixou mundialmente famoso –
O Ócio Criativo
– no novo livro ele faz um ensaio em que defende que, mesmo com o
progressivo aumento de países democráticos e a difusão de informação e
educação, o mundo se sente preso entre a desorientação e o medo. Para
esta análise, estuda 15 modelos diferentes de sociedade.
Entre esses “tipos” de sociedade, no entanto, a brasileira ganha
destaque na leitura de De Masi porque, para o autor, nosso modelo é o
futuro, algo que deveria ser divulgado e estudado por outros países,
inclusive os chamados “de Primeiro Mundo”. Não faltam motivos para o
autor defender a ideia.
"O Brasil democrático de hoje demonstra que o seu futuro
chegou, e não só pelo fato de ter um alto percentual de população jovem,
mas também porque é uma das poucas democracias do planeta cujo PIB
cresce há trinta anos, cujas distâncias sociais diminuem, a qualidade de
vida melhora e a alternância no poder é assegurada por eleições
democráticas regulares. É o único grande país que não trava guerras com
nenhum outro nem quer dominar nenhuma nação. É a única economia na qual,
por oito anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e
por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de
redistribuí-la"
Domenico, costurando leituras de alguns autores clássicos de nossa
produção literária – Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque e
Gilberto Freyre são nomes comuns no livro – entende que o modelo
brasileiro de sociedade que deve ser proposto para o resto do mundo é
baseado na nossa miscigenação cultural, sincretismo religioso e a
maneira pacífica – porém consistente – com que costumamos resolver os
nossos problemas.
"A minha tese é que as contínuas experiências de rebeliões
espontâneas, a histórica ausência de guerras civis ou de revoluções
internas propriamente dias ou de guerras externas tenham determinado no
povo brasileiro uma disposição para modificar a história, para desafogar
a tensão e a raiva, para contestar o poder não por meio da luta armada,
mas sim dos movimentos de massa"
Conversando com o Brasil Post o italiano fala que a
ideia do livro apareceu em 2012: “Tive a ideia durante um seminário aqui
no Brasil e me aprofundei nas leituras e no trabalho do livro até
dezembro do último ano.”
Para De Masi, a palavra “crise”, que aparece em alguns momentos do
livro, é algo que “diz respeito a um mal breve e curável”. Entretanto é
enfático a respeito do atual momento social em que vivemos: “não é uma
crise passageira, mas uma redistribuição mundial da riqueza que não
permite mais que os países ricos roubem os pobres.”
O italiano explica que o Brasil tem um lugar especial no livro porque
“oferece um modelo que não é perfeito – considerando a corrupção, a
distância entre ricos e pobres, o analfabetismo – mas que, todavia,
apresenta aspectos de grande vitalidade e humanidade”.
Em entrevista, De Masi deixa claro seu ponto de vista sobre o tal
“modelo brasileiro”: entre (os muitos) erros e (alguns importantes)
acertos, nós conseguimos sintetizar um modelo de sociedade que,
diferente do que pensa o senso comum, é dotado de muita fibra. Brasil Post: O senhor cita que um dos aspectos mais
admiráveis do povo brasileiro é o fato de que somos um povo pacífico.
Isso incomoda muitos brasileiros e foi contestado em 2013, quando
tivemos manifestações por todo o país. Para o senhor, um país civilizado
e pacífico é necessariamente um país que caminha para a felicidade? Domenico De Masi: Veja: o povo brasileiro
contém dezenas de etnias. Não está livre do racismo, mas o racismo
brasileiro é certamente mais brando do que o americano ou o muçulmano.
Os países eslavos sofreram por séculos uma guerra fratricida entre suas
quatro ou cinco etnias. Cada país da Europa fez guerras de dez, 30, 100
anos contra seus países vizinhos. Itália, Áustria e Alemanha provocaram
duas guerras mundiais. O Brasil tem fronteira com dez países e só fez
uma guerra, contra o Paraguai. Ser pacífico não significa estar
disponível à escravatura e à violência do poder. Os movimentos sociais
do último ano não são contrários à vocação pacífica do povo brasileiro:
são apenas uma rebelião justa contra a corrupção e contra a violência do
poder. Em tantos meses de luta urbana do proletariado e da pequena
burguesia brasileira contra a alta burguesia não deixou um morto sequer.
Por outro lado, ao fim do século 17, a burguesia estava no poder na
França, e lá guilhotinaram 23 mil aristocratas e opositores. O senhor cita que o nosso modelo precisa ser mais
conceitualizado e explicitado, além de oferecido para fora do país. O
que nos falta para isto? Esta é uma falha da nossa classe intelectual?
Sim, é uma “falha da classe intelectual”. Mas não depende da
incapacidade ou da preguiça. Depende da falta de autoestima. Os
intelectuais brasileiros – que estão entre os melhores intelectuais do
mundo – não se sentem suficientemente portadores de uma cultura
extraordinária, que pode ser modelo para todo mundo. O senhor cita que nós somos um dos países que mais aproximou
classes econômicas diferentes. Estamos em ano de eleição e isto é
contestado por muitos, inclusive candidatos que são contra o governo
atual. No seu entendimento, nossa caminhada por uma eqüidade de classes
tem maior vínculo com políticas governamentais ou isso está conectado,
de alguma forma, à índole do brasileiro?
Em todos os países ricos, a distância entre a classe hegemônica e a
classe subalterna tem aumentado. Em todos os países ricos, a classe
média está sendo proletariada. No Brasil, ao invés disso, muitos
subproletários estão virando proletários, muitos proletários estão
virando classe C. Isso foi demonstrado em estatísticas e em movimentos
sociais. Se tantos proletários e subproletários não virassem classe C,
não teriam dado vida às grandes contestações que aconteceram às grandes
contestações que aconteceram no Brasil de um ano para cá. O senhor utiliza exemplos de nossa literatura e música para
explicar porque nosso modelo pode ser uma alternativa viável. Isto não
pode ser interpretado como uma maneira infantil de compreender nossa
realidade?
No capítulo sobre o Brasil do livro O Futuro Chegou utilizo
muitos dados demográficos, econômicos e políticos. Mas o meu livro se
ocupa dos “modelos sociais” e a cultura faz parte integrante desses
modelos. O modelo de vida necessário para eliminar a desorientação e o
medo que hoje afetam a sociedade pós-industrial não podem menosprezar a
cultura, que não representa o lado infantil, mas o lado mais maduro de
uma sociedade. Pelo que o senhor leu e conhece de nosso país, nos falta conhecer a nossa própria literatura?
Acredito que os brasileiros conhecem pouco da história, da vida e da
arte dos índios, a quem devem muito mais do que devem à Europa e aos
EUA. O senhor cita três dos principais intelectuais brasileiros
que se propuseram a explicar a sociedade brasileira – Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Hollanda e Darcy Ribeiro. Falta uma literatura ou um
intelectual que explique os tempos atuais? A sua proposta no último
capítulo do livro segue nesta direção?
Eu escrevi meu livro não apenas para os leitores brasileiros, mas
também para os leitores italianos e para o resto do mundo. Me
interessava contribuir para fora do Brasil o conhecimento dos maiores
intelectuais brasileiros. Mas no meu livro, além de Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Hollande e Darcy Ribeiro, cito outros nomes. Leio
sempre com grande atenção e admiração o que escrevem os intelectuais de
extraordinária inteligência, como Fernando Henrique Cardoso, Cristóvam
Buarque e tantos outros. Uma particularidade dos grandes intelectuais
brasileiros é que, à diferença dos intelectuais estrangeiros, quase
todos fizeram uma militância política ativa. Como escreveu Gilberto Freyre, a sociedade brasileira foi
concebida através de construções sociais e familiares ligadas ao
patriarcado. Nossos avanços sociais recentes tem alguma conexão com o
(mínimo) papel que a mulher ganhou em nosso país? Qual o peso simbólico
de termos uma presidente mulher?
No Brasil, como explico também no meu livro, a mulher sempre teve um
papel muito mais importante que na Europa e nos Estados Unidos também
porque, por muitos séculos, no Brasil as mulheres sempre foram
percentualmente menos numerosas do que os homens. Além disso, contra as
mulheres brasileiros não houve uma repressão social que na Europa
condenou as mulheres a uma sociabilidade perene. Não pode se deixar de
lado o significado, não apenas simbólico, do fato de que Dilma é uma
presidenta enquanto na Itália, França, Alemanha e nos EUA, por exemplo,
nunca houve uma mulher chefe de estado. Se, como explica Sérgio Buarque, nossa evolução urbana não
está ligada à ideia do "ladrilhador", como o senhor entende que as
cidades brasileiras podem ser modificadas agora? O Modelo Brasileiro,
que o senhor cita guarda um espaço para que nossas cidades possam se
planejar? Nosso passado rodoviarista e segregador pode dar espaço para
cidades que deem mais atenção ao espaço público?
Sobre o perfil urbanístico de uma cidade como São Paulo, por exemplo,
há os verdadeiros e próprios monstros urbanos onde a vida dos cidadãos é
transformada em um inferno cotidiano. Hoje é dificílimo planificar uma
estrutura imensa como esta, criada sem um plano racional. O único
remédio para uma cidade como São Paulo seria uma cura intensiva do
trabalho à distância, o que pode reduzir o deslocamento físico, inútil
com as modernas tecnologias de informação. Não é mais necessário mudar
os cidadãos de lugar mas basta mudar o trabalho intelectual – que
representa 70% das tarefas – de onde estão os trabalhadores. Toda a vida
urbana do Brasil é um grande manicômio. É absurdo que cidadãos de São
Paulo e do Rio se desloquem entre essas duas metrópoles de avião,
viajando de modo incômodo e poluindo, enquanto com um trem moderno e
cômodo poderiam cobrir a distância em duas horas, poupando tempo,
dinheiro e poluição.
E se alguém te dissesse que o Brasil é, sim, um modelo a ser seguido por todo o mundo? Pois esta é a leitura que o sociólogo italiano Domenico De Masi faz do nosso país em seu novo livro, O Futuro Chegou.
Domenico, que é o sociólogo e professor da Universidade La Sapienza, em Roma, esteve por aqui durante esta semana para a divulgação de sua nova obra (que sai pela Editora Casa da Palavra/Quitanda Cultural e tem 768 páginas). Diferente do best-seller que o deixou mundialmente famoso – O Ócio Criativo – no novo livro ele faz um ensaio em que defende que, mesmo com o progressivo aumento de países democráticos e a difusão de informação e educação, o mundo se sente preso entre a desorientação e o medo. Para esta análise, estuda 15 modelos diferentes de sociedade.
Entre esses “tipos” de sociedade, no entanto, a brasileira ganha destaque na leitura de De Masi porque, para o autor, nosso modelo é o futuro, algo que deveria ser divulgado e estudado por outros países, inclusive os chamados “de Primeiro Mundo”. Não faltam motivos para o autor defender a ideia.
Domenico, costurando leituras de alguns autores clássicos de nossa produção literária – Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque e Gilberto Freyre são nomes comuns no livro – entende que o modelo brasileiro de sociedade que deve ser proposto para o resto do mundo é baseado na nossa miscigenação cultural, sincretismo religioso e a maneira pacífica – porém consistente – com que costumamos resolver os nossos problemas.
Conversando com o Brasil Post o italiano fala que a ideia do livro apareceu em 2012: “Tive a ideia durante um seminário aqui no Brasil e me aprofundei nas leituras e no trabalho do livro até dezembro do último ano.”
Para De Masi, a palavra “crise”, que aparece em alguns momentos do livro, é algo que “diz respeito a um mal breve e curável”. Entretanto é enfático a respeito do atual momento social em que vivemos: “não é uma crise passageira, mas uma redistribuição mundial da riqueza que não permite mais que os países ricos roubem os pobres.”
O italiano explica que o Brasil tem um lugar especial no livro porque “oferece um modelo que não é perfeito – considerando a corrupção, a distância entre ricos e pobres, o analfabetismo – mas que, todavia, apresenta aspectos de grande vitalidade e humanidade”.
Em entrevista, De Masi deixa claro seu ponto de vista sobre o tal “modelo brasileiro”: entre (os muitos) erros e (alguns importantes) acertos, nós conseguimos sintetizar um modelo de sociedade que, diferente do que pensa o senso comum, é dotado de muita fibra.
Brasil Post: O senhor cita que um dos aspectos mais admiráveis do povo brasileiro é o fato de que somos um povo pacífico. Isso incomoda muitos brasileiros e foi contestado em 2013, quando tivemos manifestações por todo o país. Para o senhor, um país civilizado e pacífico é necessariamente um país que caminha para a felicidade?
Domenico De Masi: Veja: o povo brasileiro contém dezenas de etnias. Não está livre do racismo, mas o racismo brasileiro é certamente mais brando do que o americano ou o muçulmano. Os países eslavos sofreram por séculos uma guerra fratricida entre suas quatro ou cinco etnias. Cada país da Europa fez guerras de dez, 30, 100 anos contra seus países vizinhos. Itália, Áustria e Alemanha provocaram duas guerras mundiais. O Brasil tem fronteira com dez países e só fez uma guerra, contra o Paraguai. Ser pacífico não significa estar disponível à escravatura e à violência do poder. Os movimentos sociais do último ano não são contrários à vocação pacífica do povo brasileiro: são apenas uma rebelião justa contra a corrupção e contra a violência do poder. Em tantos meses de luta urbana do proletariado e da pequena burguesia brasileira contra a alta burguesia não deixou um morto sequer. Por outro lado, ao fim do século 17, a burguesia estava no poder na França, e lá guilhotinaram 23 mil aristocratas e opositores.
O senhor cita que o nosso modelo precisa ser mais conceitualizado e explicitado, além de oferecido para fora do país. O que nos falta para isto? Esta é uma falha da nossa classe intelectual?
Sim, é uma “falha da classe intelectual”. Mas não depende da incapacidade ou da preguiça. Depende da falta de autoestima. Os intelectuais brasileiros – que estão entre os melhores intelectuais do mundo – não se sentem suficientemente portadores de uma cultura extraordinária, que pode ser modelo para todo mundo.
O senhor cita que nós somos um dos países que mais aproximou classes econômicas diferentes. Estamos em ano de eleição e isto é contestado por muitos, inclusive candidatos que são contra o governo atual. No seu entendimento, nossa caminhada por uma eqüidade de classes tem maior vínculo com políticas governamentais ou isso está conectado, de alguma forma, à índole do brasileiro?
Em todos os países ricos, a distância entre a classe hegemônica e a classe subalterna tem aumentado. Em todos os países ricos, a classe média está sendo proletariada. No Brasil, ao invés disso, muitos subproletários estão virando proletários, muitos proletários estão virando classe C. Isso foi demonstrado em estatísticas e em movimentos sociais. Se tantos proletários e subproletários não virassem classe C, não teriam dado vida às grandes contestações que aconteceram às grandes contestações que aconteceram no Brasil de um ano para cá.
O senhor utiliza exemplos de nossa literatura e música para explicar porque nosso modelo pode ser uma alternativa viável. Isto não pode ser interpretado como uma maneira infantil de compreender nossa realidade?
No capítulo sobre o Brasil do livro O Futuro Chegou utilizo muitos dados demográficos, econômicos e políticos. Mas o meu livro se ocupa dos “modelos sociais” e a cultura faz parte integrante desses modelos. O modelo de vida necessário para eliminar a desorientação e o medo que hoje afetam a sociedade pós-industrial não podem menosprezar a cultura, que não representa o lado infantil, mas o lado mais maduro de uma sociedade.
Pelo que o senhor leu e conhece de nosso país, nos falta conhecer a nossa própria literatura?
Acredito que os brasileiros conhecem pouco da história, da vida e da arte dos índios, a quem devem muito mais do que devem à Europa e aos EUA.
O senhor cita três dos principais intelectuais brasileiros que se propuseram a explicar a sociedade brasileira – Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Darcy Ribeiro. Falta uma literatura ou um intelectual que explique os tempos atuais? A sua proposta no último capítulo do livro segue nesta direção?
Eu escrevi meu livro não apenas para os leitores brasileiros, mas também para os leitores italianos e para o resto do mundo. Me interessava contribuir para fora do Brasil o conhecimento dos maiores intelectuais brasileiros. Mas no meu livro, além de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollande e Darcy Ribeiro, cito outros nomes. Leio sempre com grande atenção e admiração o que escrevem os intelectuais de extraordinária inteligência, como Fernando Henrique Cardoso, Cristóvam Buarque e tantos outros. Uma particularidade dos grandes intelectuais brasileiros é que, à diferença dos intelectuais estrangeiros, quase todos fizeram uma militância política ativa.
Como escreveu Gilberto Freyre, a sociedade brasileira foi concebida através de construções sociais e familiares ligadas ao patriarcado. Nossos avanços sociais recentes tem alguma conexão com o (mínimo) papel que a mulher ganhou em nosso país? Qual o peso simbólico de termos uma presidente mulher?
No Brasil, como explico também no meu livro, a mulher sempre teve um papel muito mais importante que na Europa e nos Estados Unidos também porque, por muitos séculos, no Brasil as mulheres sempre foram percentualmente menos numerosas do que os homens. Além disso, contra as mulheres brasileiros não houve uma repressão social que na Europa condenou as mulheres a uma sociabilidade perene. Não pode se deixar de lado o significado, não apenas simbólico, do fato de que Dilma é uma presidenta enquanto na Itália, França, Alemanha e nos EUA, por exemplo, nunca houve uma mulher chefe de estado.
Se, como explica Sérgio Buarque, nossa evolução urbana não está ligada à ideia do "ladrilhador", como o senhor entende que as cidades brasileiras podem ser modificadas agora? O Modelo Brasileiro, que o senhor cita guarda um espaço para que nossas cidades possam se planejar? Nosso passado rodoviarista e segregador pode dar espaço para cidades que deem mais atenção ao espaço público?
Sobre o perfil urbanístico de uma cidade como São Paulo, por exemplo, há os verdadeiros e próprios monstros urbanos onde a vida dos cidadãos é transformada em um inferno cotidiano. Hoje é dificílimo planificar uma estrutura imensa como esta, criada sem um plano racional. O único remédio para uma cidade como São Paulo seria uma cura intensiva do trabalho à distância, o que pode reduzir o deslocamento físico, inútil com as modernas tecnologias de informação. Não é mais necessário mudar os cidadãos de lugar mas basta mudar o trabalho intelectual – que representa 70% das tarefas – de onde estão os trabalhadores. Toda a vida urbana do Brasil é um grande manicômio. É absurdo que cidadãos de São Paulo e do Rio se desloquem entre essas duas metrópoles de avião, viajando de modo incômodo e poluindo, enquanto com um trem moderno e cômodo poderiam cobrir a distância em duas horas, poupando tempo, dinheiro e poluição.