Cultura
Exposição
A verdade revolucionária de Josef Koudelka
Museu da Imagem e do Som em São Paulo apresenta as 75
obras realistas do tcheco que registrou a Primavera de Praga e de
outros grandes fotógrafos
Gregory Crewdson/Josef Koudelka/Magnum Photos/Divulgação
Em arte, o realista é frequentemente o
triste, aquele que escaneia o mundo em sua porção desencontrada.
Realista foi entendida a fotografia em seu início, quase uma prova
jurídica do que o real (essa melancolia) deveria ser. Mas o tempo, aos
poucos condutor de credibilidade artística ao ato de capturar imagens,
encarregou-se de mostrar que a realidade é aquilo que o fotógrafo
constrói. E agora o Museu da Imagem e do Som apresenta exposições e
eventos fotográficos sob o signo dessa beleza triste (confira a programação).
O principal deles é a exposição de 75 fotos em preto e branco do tcheco Josef Koudelka. Invasão 68 – Primavera de Praga
tem sido exibida pelo mundo desde que, na Nova York de 2008, marcou os
40 anos do desfilar de tanques soviéticos sobre a cidade europeia. Não
fossem tais imagens, feitas na pulsão dos terríveis fatos pelo habitante
de um vilarejo da Morávia, jamais sabedor, até ali, da existência da
palavra fotojornalismo, e a imposição bélica sobre os tchecos talvez
jamais tivesse sido informada ao mundo. Koudelka descobriu-se fotógrafo
naquele momento, embora tivesse chegado dois dias antes de uma extensa
viagem na qual, engenheiro aeronáutico, clicara os ciganos, nômades como
ele próprio se via. Por quase duas décadas, sua identidade de autor
exilado não pôde ser revelada, sob pena de a família padecer de
represálias.
Icônico contribuinte da agência Magnum,
destemido ao expor diretamente as emoções extremas e contextualizadas,
Koudelka é um herói realista em caminho oposto ao de Gregory Crewdson,
presente ao maio da fotografia com as 20 imagens extremamente coloridas
de Por Baixo das Rosas. O americano de 52 anos retrabalha
exaustivamente cenas em estúdio para capturar com verossimilhança um
senso de vazio na vida americana. E quem dirá que não é real o que ele
vê? Assim como as obras de Robério Braga em torno de três tribos do
Quênia ou daquelas de Valdir Cruz, sobre sua Guarapuava natal, buscam-se
nessas fotografias o homem e a esperança sem os quais não seriam feitas
as revoluções.
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