quarta-feira, 11 de maio de 2016




8-dicas-para-se-inspirar-e-escrever-um-livro
Thomas Edison foi bem conciso ao dizer que “Talento é 1% inspiração, 99% transpiração.” São as palavras de um inventor. Pablo Picasso pintou uma frase dentro da sua especialidade: “Que a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é garantir que ela me encontre trabalhando.”
A boa notícia é que ela chega a todo o momento, basta ficar atento e trabalhar. Agir gera mais inspirações do que o inverso, tenha certeza disto.
Existem alguns “apoios” bem interessantes para forçar essa tal inspiração a sair da caverna e manifestar-se na tinta em seu caderno ou nos bits em seu computador. São eles:
1. Pergunte-se “E se?” – Vocês não imaginam a quantidade de ideias que esta simples pergunta é capaz de gerar. Você olhar para uma pessoa, um fato ou um conceito e fazer a grande pergunta: “E se?” Funciona para criar livros inteiros e também para capítulos ou cenas. E se uma garota romântica e sonhadora se transformasse em uma megera vingativa? E se um asteroide desgovernado se chocasse com a lua amanhã às 23:22?
2. Uma Linha ou Um título – a técnica de uma linha funciona da seguinte forma: você pega o jornal (ainda existe isto?), folheia ou navega até a seção de livros mais vendidos e lê as frases que resumem as tramas que ocupam os primeiros lugares do ranking. Use a trama como modelo para uma história diferente. Funciona também com títulos. Vá até a livraria mais próxima, pegue o livro com o título mais irresistível para você, mas não o compre, nem o leia. Adicione sua história para aquele título. Funciona melhor com títulos mais abrangentes, menos com títulos do tipo “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Mas você pode escrever sobre um garoto (ou uma garota) órfão que desenvolve super poderes ou vence grandes desafios. Basta ser original e não imitar Peter Parker, Bruce Wayne, Clark Kent, Tarzan, Wolverine, Branca de Neve, Cinderela, Harry Potter, Goku, James Bond, Bambi, Oliver Twist, Tom Sawyer, Huckleberry Finn, Luke Skywalker, Heidi, Tom Jones, Jane Eyre, David Copperfield, Frodo Bolseiro, entre outros.
3. Empreste uma Sinopse Antiga – histórias são escritas e podem ser reescritas de muitas formas. Que tal pegar o resumo de Casablanca e transformá-lo em um Thriller médico ou criminal com um triângulo amoroso nos moldes de Rick, Ilsa e Victor?
4. Questão Quente – pegue um tema polêmico e coloque dois personagens, um de cada lado. Seja justo com ambos, justifique cada posição. Assunto controverso é o que não falta hoje.
5. Método Ray Bradbury – crie um personagem com uma obsessão, como Guy Montag de Fahrenheit 451, e siga-o.
6. Plante a Noite e Colha pela Manhã – escreva algumas ideias aleatórias em um diário ou caderno de notas antes de dormir. Na manhã seguinte, sente-se para escrever e veja se algum milagre acontece.😉
7. Tendências são Tendências – assine uma newsletter de tendências em qualquer área – medicina, tecnologia, finanças, relacionamento – procure uma tendência e escreva uma história a partir dela. Não se surpreenda se isto criar um clássico de ficção científica.
8. Profissão Perigo – escolha uma profissão. Pergunte-se qual seria a pior coisa que poderia acontecer com um profissional daquela área. Escreva um thriller jurídico arrepiante, por exemplo. John Grisham é um mestre neste modelo.
Caso essas ideias não ajudem, muitas pessoas odeiam ou simplesmente não funcionam dentro de métodos, busque inspiração em uma das nove filhas de Mnemosine e Zeusnas musas da mitologia grega que inspiravam a criação artística ou científica. No seu caso, as musas (ou os musos, depende de você!) não precisam ser necessariamente gregas.
***

https://eldessaullo.com/2014/06/09/8-dicas-para-se-inspirar/
EDITORIAL
Retomando o fio da meada
Claudius
por Silvio Caccia Bava
A democracia tem causado problemas para as elites que tradicionalmente governavam os países da América do Sul. Nos últimos quinze anos, seguidas eleições mantiveram governos comprometidos com a melhoria de vida das classes populares, os quais beneficiaram cerca de 60% da população do continente. E, de fato, a vida melhorou, a pobreza recuou, e os indicadores sociais mostram os resultados de políticas públicas mais efetivas para atender às necessidades das maiorias. 
A mobilização cidadã, sustentada pela criação na sociedade civil de muitas entidades, sindicatos e associações de defesa de direitos, gerou mudanças – pela via eleitoral – inimagináveis até então.1 Novos governos populares assumiram, e em vários países processos constituintes reescreveram suas Constituições e nelas inscreveram novos direitos.
Essa “onda rosa”, como chamam alguns, de uma esquerda reformista no governo2 levou à criação de um bloco regional, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que aposta num mundo multipolar, com maior integração entre os países-membros, e numa maior autonomia em contraposição ao domínio do império norte-americano na região. Em várias oportunidades neste período, a Unasul foi capaz de atuar de maneira substantiva: sustar tentativas de golpes de Estado, como na Venezuela e no Equador; evitar um conflito entre a Colômbia e a Venezuela; questionar diplomaticamente a ativação da IV Frota dos Estados Unidos para patrulhar as águas do Atlântico Sul, entre outras iniciativas. 
Os esforços por uma maior autonomia regional intensificaram as trocas comerciais entre os países-membros e reavivaram projetos nacionais desenvolvimentistas, nos quais a dinamização do mercado interno e a industrialização ocupam lugar de destaque. Além do Banco do Sul, criado para financiar a construção da infraestrutura regional, surgiu a preocupação em facilitar e dinamizar a integração das cadeias produtivas dos países-membros. 
A disputa pelas riquezas naturais, o grande patrimônio do continente, está inscrita na disputa por modelos de desenvolvimento. As nacionalizações do petróleo e a recuperação das receitas que ele gera para fins públicos permitiram a criação de novas políticas públicas. Essas nacionalizações ocorreram na Venezuela (2002), na Bolívia (2006), no Equador (2006), na Argentina (2010) e também no Brasil, com a regulamentação da exploração do pré-sal e a criação do Fundo Social do Pré-Sal (2010). A recuperação da receita da venda do petróleo foi determinante para a redução da pobreza. 
Outra frente importante de disputa são os tratados de livre-comércio, que favorecem os produtos importados e sacrificam a produção local. Em 2005, países da América do Sul disseram não à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O que deveria se tornar o maior bloco econômico do planeta foi rejeitado, obrigando os poderes econômicos a mudar de estratégia. 
Nem os Estados Unidos nem as grandes corporações transnacionais, especialmente as da exploração do petróleo (hoje controladas pelos grandes agentes do sistema financeiro), gostaram dessas iniciativas, que limitaram seus ganhos e a “liberdade” do mercado fazer o que quiser nesta região do mundo. 
Diante dessa nova realidade, de diversas maneiras os Estados Unidos e o “mercado” puseram em movimento um poderoso aparato político e midiático para combater e desestabilizar esses governos que vão contra seus interesses. 
A conjuntura econômica, porém, estava favorável à economia dos países da região, o que deu fôlego a esse ciclo combinado de incremento da democracia e da distribuição da renda. O início do século XXI foi marcado pelo boom no preço das commodities (petróleo, minérios, grãos etc.) em razão de uma demanda aquecida, liderada pelas altas taxas de crescimento da China. Com uma receita crescente das exportações e um aumento da receita pública proveniente dos impostos, os novos governos da América do Sul se beneficiaram desses tempos de bonança para criar políticas de atenção aos mais pobres, sem promover mudanças estruturais, como a reforma tributária. No Brasil, em particular, a gestão Lula (2003-2010), depois de um ajuste fiscal em seu primeiro ano de governo, apresentou-se como um governo que beneficiou a todos, desde os banqueiros até os mais pobres cidadãos. 
Em 2008, com a quebra do sistema financeiro internacional, que teve de ser socorrido pelos bancos centrais de seus países, o cenário mudou. Vários governos de países europeus e os Estados Unidos transformaram a dívida privada em dívida pública para socorrer seus bancos privados e se viram às voltas com uma dívida impagável junto a esse mesmo sistema financeiro privado que antes socorreram. Esses bancos, por sua vez, não tiveram nenhuma consideração pelo socorro que receberam de fundos públicos. Impuseram, por meio das instituições multilaterais que controlam, ajustes estruturais que castigam profundamente a sociedade desses países. Para garantir o pagamento da dívida, os governos tiveram de fazer cortes nas políticas sociais, nos salários, na previdência, gerando desemprego e pobreza. Para além da questão imediata do pagamento da dívida, essas políticas de ajuste têm um objetivo inconfessável publicamente: estão orientadas para o rebaixamento do custo da força de trabalho. Em nome de uma maior competitividade internacional das empresas, é preciso reduzir os custos dos fatores de produção, especialmente o custo dos salários.
Grécia, Espanha, Portugal, Itália, entre outros países europeus, tiveram de aceitar o amargo remédio da recessão imposto pelos maiores bancos internacionais por meio do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia. A doutrina neoliberal repete o receituário do Consenso de Washington, que muitos acreditavam em decadência, mas que se reapresenta com toda força e impõe a esses países a mesma receita dos ajustes impostos aos países latino-americanos na década de 1980.  
O crescimento do mundo entra em desaceleração, marcadamente com a redução do crescimento chinês. A demanda pelas commodities cai, e com a queda da demanda vem a queda em seus preços. Depois de mais de uma década se beneficiando de preços altos, a América do Sul se vê obrigada a apertar o cinto. 
Em 2011, o governo do Brasil adotou medidas anticíclicas para enfrentar a desaceleração mundial do crescimento econômico. Seu objetivo foi fortalecer o mercado interno e garantir o valor do salário, o pleno emprego. Acabara o período das vacas gordas e o jogo de ganha-ganha, em que nenhum setor era punido em benefício de outro.
Nesse mesmo ano, o governo baixou fortemente a taxa Selic, impôs por meio dos bancos públicos uma redução nos juros ao consumidor, congelou preços administrados, ampliou o crédito, impulsionou investimentos públicos etc. Para além da defesa da renda e do emprego das maiorias, no conjunto essas iniciativas expressavam uma política nacional desenvolvimentista, com um papel destacado para o Estado e especialmente para o BNDES no fortalecimento de algumas cadeias produtivas estratégicas, como as de óleo e gás, petroquímica, construção naval. Uma política contrária aos interesses do sistema financeiro e do capital internacional. Pela primeira vez, o controle da política econômica não coincidia com os interesses do sistema financeiro e das grandes corporações.3 

As medidas anticíclicas reduziram os ganhos do setor financeiro privado e das grandes corporações, fortaleceram o Estado e colocaram o fator de insegurança para esses empresários. Eles se deram conta de que não controlavam mais as políticas econômicas, e isso foi inaceitável. 
Em reação a essas medidas, as elites financeiras conseguiram a adesão de todo o grande empresariado, que, a partir do fim de 2012, unido, passou a se colocar contra o governo Dilma, a apoiar a oposição neoliberal e a buscar desestabilizar o novo governo, mesmo depois de sua vitória eleitoral de 2014.4
A “onda rosa” se fragiliza nesta nova quadra recessiva. Há uma tentativa de golpe em curso no Brasil que se assemelha ao golpe que derrubou o presidente Lugo no Paraguai (2012). Com um novo Congresso em que 70% dos parlamentares foram financiados em suas campanhas eleitorais por dez grandes grupos empresariais, está em andamento uma iniciativa parlamentar de tentar promover o impedimento da presidenta. Na Argentina e na Venezuela, as últimas eleições repuseram a dominação neoliberal.

As duas democracias
Como bem aponta Noam Chomsky,5 “a questão de fundo são as distintas concepções de democracia. A democracia liberal entende o cidadão como consumidor, observador, não como participante. O público tem o direito de ratificar políticas que tiveram sua origem em outro lugar, mas, se excede esses limites, aí não temos mais democracia, mas uma crise da democracia que precisa, de alguma forma, ser resolvida”.
A democracia liberal tem como objetivo garantir a manutenção dos privilégios das elites e manter a aparência de um regime democrático. Em 1786, durante o processo de elaboração da Constituição dos Estados Unidos, James Madison, um dos founding fathers da democracia norte-americana e seu quarto presidente (1809-1817), defendia da tribuna que “a democracia serve para proteger os ricos e suas propriedades das pressões redistributivas dos pobres”. 
Passados 230 anos, a concepção liberal de democracia se mantém, mas os capitalistas são outros: poderosas corporações transnacionais, com faturamentos maiores que o PIB de muitos países, controladas pelas instituições financeiras, os verdadeiros donos do poder. O capitalismo se globalizou e seu comando também. Em sua visão, a democracia se submente a seus interesses. E onde ela não couber, prevalecem seus interesses. 
Estes dois séculos também viveram momentos de ampla mobilização popular, revoluções, conquistas de direitos, novas formas de exercício do poder. Na América do Sul, nos últimos vinte anos, elas tornaram-se um instrumento de construção de novas maiorias que desafiam o poder das elites. 
A disputa é a mesma: quem controla o poder e para quê. E se o poder se expressa pela democracia, então quem controla a democracia. São duas visões de democracia: aquela expressa por James Madison e a construída pelas lutas sociais e expressa em várias das novas Constituições latino-americanas, nas quais a justiça social, a solidariedade, a cooperação, a valorização do espaço público, a participação e o respeito à diversidade e à natureza são afirmados e estimulados. 
Como se dá essa disputa? As elites do país querem uma ordem institucional que defenda seus interesses particulares contra os interesses das maiorias. No caso brasileiro, o presidencialismo de coalizão e o Congresso capturado pelo poder econômico cumprem esse papel. Mas há também um grande empenho em construir a hegemonia do pensamento liberal na sociedade pelo contínuo trabalho de convencimento da população de que é melhor assim, do jeito que está, de que não há alternativa. No limite, as elites apelam para a força, ainda que aplicada seletivamente. 
No capitalismo, esse poder de controle sobre a democracia sempre se manteve em mãos do setor privado, que dele não abre mão. A mídia passou a ser um instrumento a seu serviço. A estratégia foi manter as estruturas político-democráticas formalmente intactas, mas sem qualquer interferência na política econômica. 
Os liberais, melhor dizendo, os neoliberais, nesta conjuntura, depois do “ensaio desenvolvimentista” de 2011, querem retomar o controle da política econômica e submeter o Estado a seus interesses privados. Em contraposição a esses interesses ocorrem as mobilizações e campanhas populares pela reforma política, por exemplo, que querem um Estado cada vez mais público e orientado para atender aos interesses de todos. Esses termos já expressam a natureza da disputa pela ordem institucional. 
A disputa principal é por corações e mentes. As classes dominantes, ao abraçarem a democracia, foram se dotando, ao longo do tempo, dos mais poderosos instrumentos e tecnologias de comunicação para buscar converter sua representação de mundo na representação de toda a sociedade e garantir um comportamento submisso desta. As técnicas de propaganda e convencimento desenvolvidas pelo mercado são postas a serviço desses interesses políticos. 
Então, se as tecnologias estão à disposição e a mídia está em suas mãos, o que faltou às classes dominantes para se afirmarem como hegemônicas? O que permitiu que nestes últimos quinze anos, na América do Sul, as classes dominantes viessem a perder o controle do processo político? 
O fator crucial foi a organização e politização de importantes setores sociais oprimidos, que recusaram a postura de submissão que o sistema político lhes destina. Nos países andinos se destaca o processo de organização indígena em confederações nacionais que passaram a atuar na política. No Brasil, a riqueza e a diversidade das organizações da sociedade civil que se constituem para a defesa de direitos fizeram a diferença, mobilizando amplos setores e canalizando sua força política para a construção e eleição do PT. 
Um segundo fator foi que o apoio popular aos novos governos dificultou a articulação de uma nova narrativa, por parte das elites dominantes, que tivesse o poder de convencer as maiorias a apoiar seu projeto de sociedade. 
Na impossibilidade de vencerem pelo voto, as elites aqui no Brasil partiram para o jogo pesado, atacando a democracia com sua tentativa de golpe, comprando o Congresso, mobilizando a mídia para uma enorme campanha e, com o apoio de parte do Judiciário, iniciando uma guerra aberta contra o governo e o PT. 
Sintonizada com o capitalismo internacional, que reaviva a narrativa que dá suporte ao Consenso de Washington, a elite brasileira lançou mão do terrorismo econômico, de análises e projeções catastrofistas para a economia brasileira,6 distorcendo uma realidade na qual os indicadores macroeconômicos não apontavam a necessidade de um ajuste, muito menos que ele se desse com essa radicalidade. E apresentou como solução para a crise a mesma política de austeridade que o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu impuseram à Grécia. 
O sucesso da mobilização da mídia na guerra contra o governo e em favor das políticas de ajustes foi uma demonstração do imenso poder dessas empresas de comunicação. E na guerra da comunicação, “a questão central é a escolha da agenda e dos temas em destaque, o leque de opiniões permitidas, as premissas inquestionáveis que orientam a produção da informação e os comentários, a visão de mundo que estrutura esses argumentos”.7 
No entanto, como nos alerta Rancière, a disputa por direitos nunca se dá em termos abstratos. Ela é uma demanda dos que não têm por algo muito concreto. Quando Lula lançou o Fome Zero, uma de suas primeiras medidas de governo, ele pautou a agenda pública e estimulou a discussão sobre o assunto. Quando a intelectualidade de direita e a mídia impõem a “necessidade do ajuste” para enfrentar a crise, elas mobilizam a discussão pública sobre esse tema, e não sobre outro. E o governo e as esquerdas não souberam se contrapor a essa agenda. Na verdade, aceitaram o diagnóstico conservador da conjuntura caracterizada como de crise, e mesmo a necessidade do ajuste.
Aquele que consegue impor no espaço público os temas que são de seu interesse obriga o adversário a debatê-los, confina o conflito aos campos de seu interesse, apresenta sua narrativa como a solução para os problemas do país.8 
O fato é que a direita não conseguiu apresentar, no Brasil, um projeto de país para disputar a preferência do eleitor nas eleições de 2014. Centrou sua campanha na produção de um terrorismo econômico e na necessidade de evitar uma catástrofe. E atacou o governo e o PT acusando-os de incompetentes e corruptos. Mas esse não é um fenômeno brasileiro. Por toda parte parece ter se esgotado o repertório de seduções que o capitalismo apresenta. 
Tanto no Brasil como fora, assistimos a um endurecimento do jogo político. O discurso é o mesmo. Aqui, renomados economistas neoliberais afirmam publicamente, para os jornais brasileiros, que é preciso promover a recessão e o desemprego para rebaixar o custo do trabalho. É uma declaração de guerra aos trabalhadores. 
Com o Congresso controlado pelos grandes empresários e com a deslegitimação do sistema político, aí incluídos os partidos, a democracia brasileira fica em perigo. Grande parte da população não se vê representada em seus interesses, e assim se abre espaço para o surgimento de uma nova onda conservadora e de novas práticas autoritárias na sociedade, como buscar fazer justiça com as próprias mãos e criminalizar os pobres pela violência na sociedade. 
As versões da direita monopolizam a mídia conservadora, levando grande parte da população a responsabilizar o governo por uma crise engendrada pelo poder econômico. Seus especialistas em trabalhar com a opinião pública criam as ilusões necessárias, supersimplificações emocionalmente potentes que atribuem ao governo e ao PT a corrupção, o “desgoverno”, os riscos do desemprego, a inflação, a perda de poder aquisitivo por parte da população.  
O uruguaio Aram Aharonian, fundador da TeleSur, alerta: “Vivemos em plena batalha cultural: a guerra pela imposição de imaginários coletivos se dá através de meios cibernéticos, audiovisuais e da imprensa... São golpes baixos permanentes, notícias... que não têm contextualização, mas que conseguem impactar o coletivo e já foram empregadas para desestabilizar os governos populares da América Latina”.9 
“A mídia não cobre mais os acontecimentos. Ela gera versões e tenta transformá-las em verdade”, alertou o sociólogo Laymert Garcia dos Santos.10 Para o professor, o quadro é de tamanha gravidade que a relação entre verdade e mentira, entre verdade e ficção, está completamente abalada. “Nós chegamos a um ponto em que os ladrões gritam ‘pega ladrão’ para os não ladrões. E isso cola! É uma inversão de valores gigantesca”, ironizou. 
A disputa entre as distintas visões de democracia se materializa na disputa das narrativas e na disputa da agenda pública. É uma tarefa da cidadania combater, mobilizando seus coletivos, a manipulação e o controle que a mídia impõe à nossa sociedade; é uma tarefa intelectual de autodefesa que envolve a questão até hoje intocada da democratização da mídia, e de apresentar uma agenda positiva para a sociedade


Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil

1 Wanderley Guilherme dos Santos,” A universalização da democracia. In: Maria Victoria Benevides; Paulo Vannuchi; Fábio Kerche (org.). Reforma política e cidadania. 1ªed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003, v.1, p.33-43.
2 Samuel Pinheiro Guimarães, palestra no I Seminário Latino-Americano de Saúde, Brasília, dez. 2015.
3 Essa análise se apoia no excelente artigo de André Singer, “Cutucando onças com varas curtas”, Novos Estudos, n.102, jul. 2015. 
4 Ver o artigo de André Singer, “O lulismo nas cordas”, piauí, n.111, dez. 2015.
5 Noam Chomsky, Necessary illusions: thought control in democratic societies [Ilusões necessárias: controle de pensamento em sociedades democráticas], South End Press, Boston, 1989.
6 Ver “Por um Brasil justo e democrático”. Disponível em: www.plataformapoliticasocial.org.br. 
7 Chomsky, op. cit.
8 Chico de Oliveira, “Política numa era de indeterminação: opacidade e reencantamento”. In: Francisco de Oliveira e Cibele Saliba Rizek (orgs.), A era da indeterminação, Boitempo, São Paulo, 2007.
9 Frederico Füllgraf, “Ataque midiático à democracia e aos projetos nacionais”, Revista Adusp, dez. 2015.
10 Professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp e membro do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP. Ver “Há uma operação de enfeitiçamento em curso”, Carta Maior, 17 nov. 2015. 

http://www.diplomatique.org.br/editorial.php?edicao=103
SKYPRO

CREW WOMAN SHOES

http://www.wearskypro.com/en/17-women-shoes

GRAVITATIONAL WAVES


PHD Comics

http://phdcomics.com/comics/archive.php?comicid=1853


Stephen Hawking: “Foi descoberta uma nova forma de se olhar o universo”

Além de provar teoria de Einstein, é a primeira observação direta de buracos negros em fusão, diz ele

físico Stephen Hawking afirmou na quinta-feira que a detecção das ondas gravitacionais, a última previsão das teorias de Einstein que ainda precisava ser comprovada, abre as portas a “uma nova forma de se olhar o universo”. “A capacidade de detectá-las tem o potencial de revolucionar a astronomia”, disse à BBC o físico teórico de 74 anos, especialista em buracos negros.
A detecção dessas ondas, os sinais deixados por grandes cataclismos no universo, é também “a primeira prova de um sistema binário de buracos negros e a primeira observação de buracos negros em fusão”, afirmou Hawking. “Além de provar a Teoria Geral da Relatividade, podemos esperar ver buracos negros ao longo da história do Universo. Podemos até mesmo ver os vestígios do Universo primordial, durante o Big Bang”, graças às ondas gravitacionais, enfatizou o físico.
A pesquisadora da Universidade de Glasgow Sheila Rowan, que participou do projeto LIGO que detectou as ondas, descreveu seu trabalho como uma “viagem fascinante”. “Estamos sentados aqui na Terra observando como as costuras do Universo se alongam e se comprimem devido a uma fusão de buracos negros que ocorreu a mais de um bilhão de anos”, disse Rowan. “Quando ligamos nossos detectores, o Universo estava pronto, esperando para dizer ‘olá’”, descreveu a pesquisadora.

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/11/ciencia/1455208679_481462.html
MARINA LIMA
“Conquistei o amor aos 60”

Com 35 anos de carreira e disco novo, a cantora revela que nunca tinha sido feliz numa relação e teve esse "bônus" na maturidade. Pretende casar e ter filho, e diz que falar sobre homossexualidade no Brasil é mais confortável hoje

por Gisele Vitória
Edição 27.01.2016 - nº 2407
AddThis Sharing Buttons
É como nos versos de um de seus sucessos dos anos 80. Vem chegando o verão e o calor no coração de Marina Lima nunca teve tanta magia colorida. Coisas da vida, aos 60 anos. Com 35 de carreira e 20 discos, a cantora lançou o acústico “No Osso” e, na curva dos sessentinha, conta que ganhou pela primeira vez “o bônus” de ser feliz no amor.

VERMELHA-1-IE.jpg
BRASIL 
”Sou contra o impeachment, mas talvez fosse bom para o País se 
Dilma renunciasse. Na minha leitura, não seria uma fraqueza”

Há três anos, ela namora a advogada Lídice Xavier e com ela pretende se casar e ter um filho. A cantora, uma das principais vozes em defesa da homossexualidade como direito individual, acredita que a batalha contra o retrocesso tem como trunfo a voz das ruas.

VERMELHA-2-IE.jpg
”Eduardo Cunha declarou guerra às mulheres independentes. Ele declarou
guerra a mim. Mas a reação nas ruas foi um belo exemplo”

Em 2015, ela vibrou com a reação das mulheres ao presidente da Câmara dos Deputados. “Eduardo Cunha declarou guerra às mulheres independentes e declarou guerra a mim”, diz. Marina acompanha com interesse o momento brasileiro. “O Brasil parece um filme de ficção”, acredita a cantora.

VERMELHA-3-IE.jpg
”Antes, uma relação gay parecia um eterno namoro. Isso é bom, mas quando 
você fica mais velha, quer deixar inventário, construir família. Ter isso legalizado 
é vital. É o que torna o mundo mais civilizado para todos”
ISTOÉ –
 Como a sra. está acompanhando o momento político brasileiro?
Marina Lima –
 O Brasil é um filme. Parece um enredo de ficção. Nunca me interessei tanto por política. Sempre foquei nos direitos individuais e de liberdade, dos negros, das mulheres, dos gays. E aí surge um juiz no sul (Sergio Moro), que começa a equilibrar a questão ética. E você descobre que a polícia federal está trabalhando. Descobrimos que a Câmara é uma loucura e que não há razão para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estar lá. Um senador é preso. E aí o Cunha deflagra o processo de impeachment da presidente quando vê que não terá votos na comissão de ética. É inacreditável. Esse “filme” tem a ver com a vida de cada um. A internet aproximou a política das pessoas. A carta do Temer para Dilma está na internet para quem quiser ler. Vemos o quanto essa política rege nossa vida. A Câmara, na calada da noite, aprova uma lei que diz que a família é formada por homem e mulher, quando o mundo caminha na direção contrária. É surreal.
ISTOÉ –
 A sra. é a favor do impeachment?
Marina Lima –
 Pelo que leio e dentro do que entendo, não há elementos para o impeachment. Mas talvez fosse bom para o País se Dilma renunciasse. Vivemos numa situação impossível dela governar. Minha leitura é que a renúncia não seria uma fraqueza. Mas ela não vê assim, e não vejo chance de acontecer.  Acho que ela é honesta, mas tudo conspira contra ela. Até por ela ser mulher.
ISTOÉ –
 E o momento positivo para as mulheres na luta por seus direitos?
Marina Lima –
 Estou gostando. A reação contra o Cunha foi um belo exemplo. Foi proibida pela Câmara a pílula do dia seguinte. E mais ou menos foi dito que estupro não era motivo para a mulher abortar. Com isso, ele declarou guerra às mulheres independentes. Cunha declarou guerra a mim. Mas aprendemos que eles têm pavor da voz das ruas, que é o caminho. Vejo que onde há crise pode haver mudança.
 
ISTOÉ –
 A sra. se posicionou no movimento do primeiro assédio?
Marina Lima –
 Não vivi assédio. A primeira vez que tive uma experiência de liberdade sexual, eu consenti. Tinha 17 anos. Foi num avião, e permiti. Seria mentira falar que foi assédio. Mas é preciso falar dos traumas. Mulheres passaram anos caladas, sofrendo. 
ISTOÉ –
 A sra. vê avanços concretos nas leis para as uniões homoafetivas?
Marina Lima –
 Sim. Os americanos estão mais avançados. É um assunto que está nos debates presidenciais. O Brasil também avançou. Todo mundo que paga imposto é cidadão, pode ter uma união civil, plano de saúde, pode deixar herança. Antigamente, uma relação gay parecia um eterno namoro. Mesmo mais sérias, as relações não podiam ter aparato. Um eterno namoro é bom, mas quando você fica mais velha, quer deixar inventário, construir família. Ter isso legalizado é vital. É o que torna o mundo mais civilizado para todos. Não gosto de me expor, mas tomo posições. Quando vejo que minha vida privada pode ajudar alguém a se sentir melhor na própria pele, tenho certeza que devo falar. Se for por mera exibição, não tenho tanto interesse.
ISTOÉ –
 Das cantoras brasileiras, a sra. foi uma das primeiras a assumir a sua homossexualidade. Isso ajudou?
Marina Lima –
 Nunca deixei de me colocar. Outro dia, vi o filme sobre o Chico Buarque. Uma jornalista pergunta: “O sr. é homossexual?” Ele diz: “Se eu disser que não, parece que estou me defendendo. E não tenho que me defender”. Eu me identifico com essa postura.
ISTOÉ –
 Se lhe pergunto se a sra. é homossexual, o que responderia?
Marina Lima –
 Diria que na maioria do tempo, sim. Não posso dizer 100% do tempo. Coisas acontecem. Pessoas quebram regras. O importante é a pessoa ter direitos. Um negro entrar pela porta da frente, poder ser como Joaquim (Barbosa). Mulher poder ser presidenta. Uma pessoa pode ser gay, se quiser. É mais a ética do que a moral. 
ISTOÉ –
 A sra. sofreu preconceitos?
Marina Lima –
 Claro que sim. Tem muita gente que não gosta de mim. Às vezes até uma colega ou um colega pode não gostar do que eu digo.
ISTOÉ –
 É verdade que a cantora Gal Costa teria ameaçado processá-la por ter declarado que teriam tido uma relação anos atrás?
Marina Lima –
 Dizem. Não sei.
ISTOÉ –
 O que aconteceu de fato?
Marina Lima –
 Dei uma entrevista onde falava da minha vida, que sempre foi muito liberal. Meus pais são nordestinos, intelectuais e nunca ninguém se meteu na minha vida sexual. O importante era eu ser verdadeira, estudar, ser justa. Isso foi um respeito à minha liberdade. E citei como exemplo uma história que tive com uma cantora, que foi uma coisa importantíssima na minha vida, que aprendi muito e que meus pais nunca se meteram. Foi isso. Para mim, aquilo era a liberdade que eu aprendi. Não imaginei que causaria um problema. Falei de uma memória, que é para mim motivo de orgulho. Os baianos foram importantes na minha liberdade. Aprendi com Caetano, com Dedé, primeira mulher dele. Com Gil. São pessoas muito à frente. 
ISTOÉ –
 Como é ter 60 anos?
Marina Lima –
 Eu conquistei os 60. Vou para frente na fila do avião. Pago meia entrada. A única coisa estranha é que tenho mais dor na lombar. Fora isso, uns cabelos brancos. Sempre gostei de parecer mais velha. Meu dia chegou.
ISTOÉ –
 E o amor aos 60?
Marina Lima –
 Não fui uma pessoa sortuda no amor. Só agora isso mudou. As coisas vem quando você merece, quando está pronta para viver. Estou vivendo uma relação que tem a ver com isso. Amo e estou apaixonada. É alguém que me entende. Conquistei o amor perto dos 60. Não achei que aconteceria, mas veio. Tive esse bônus.
 
ISTOÉ –
 Quem é ela?
Marina Lima –
 Não é uma pessoa conhecida. É uma advogada, seu nome é Lídice. Estamos juntas. Ela é meu amor. Nunca tive nada assim. Tive paixões, desencontros. Foi a primeira vez que me deparei e percebi: nossa, o amor pode ser assim. Faz três anos. É muito rico. Estou felicíssima. Tomo vinho toda noite. Agora, não esqueça, aos 60 anos, tem a dor na lombar… (risos) Faço pilates. É importante ter consciência corporal para envelhecer bem. 
ISTOÉ –
 O amor chegou tarde?
Marina Lima –
 Não sei se o amor chegou tarde. Chegou na hora certa. Passei anos pensando: puxa, sou uma pessoa justa e por que não sou feliz no amor? Hoje, entendo e me coloco melhor no lugar do outro. Imagino que seja difícil se relacionar comigo. Tem a coisa da fama. Minha carreira é extensão do que sou. Não há deslumbre. Não saberia ser uma pop-star. Não aguentei isso. No auge, briguei com isso e me dei ao direito de sair.
ISTOÉ –
 Falar sobre sua homossexualidade era mais difícil?
Marina Lima –
 Hoje é mais confortável. Muita gente fala. Não sei se era mais difícil. Nem mesmo era perguntado. Tudo mudou. Hoje eu não sinto como uma invasão você me perguntar.
ISTOÉ –
 E se casará no papel?
Marina Lima –
 Provavelmente. Ela quer ter filho. Se tivermos, acho que casamos.
ISTOÉ –
 E como é ter filho aos 60?
Marina Lima –
 A questão de filho para mim foi aos 40. Tive dúvida, depois decidi que não daria luz e isso saiu da cabeça. Com essa união, se ela quer ter filho, nós vamos ter. Não sei se adotaremos ou se ela dará à luz. Depende mais dela. Eu já disse que topo.
 
ISTOÉ –
 A sra. se imagina trocando fralda, pensando em escola?
Marina Lima –
 Por essa relação, imagino.
ISTOÉ –
 O novo disco tem a ver com este momento?
Marina Lima –
 O disco é isso. É um disco relevante nesses 35 anos de carreira. É voz e violão. Há músicas novas, e um remix. Meu próximo disco terá muita música eletrônica, mas era importante fazer este disco e fazer valer meus 35 anos de carreira. Escolhi as músicas que marcaram minha trajetória. Por ser compositora, o violão sempre esteve comigo. E a minha voz hoje é esta. Se não gostarem, comprem os discos antigos. Agora sou assim. 
 
ISTOÉ –
 Lhe constrange ouvir “Marina não tem mais a mesma voz”?
Marina Lima –
 Não me constrange. Se fosse assim, não teria feito esse disco. Fiz o disco até para liberar as pessoas. Se você não acha mais que canto como você gosta, está liberado. Não é problema.
ISTOÉ –
 Quanto tempo de análise?
Marina Lima –
 Não faço análise há sete anos. Mas foram 40 anos de análise. Não vim para agradar, mas tomara que eu agrade. Não faço uma música por noite. Faço uma a cada seis meses. Não quero ficar imitando o que eu era. Não tenho interesse. Por quatro discos, esse foi o assunto. Fiz o disco para isso: querem falar sobre a voz? Vamos falar e encerrar o tema. Quero liberar as pessoas e me liberar.
ISTOÉ –
 Sentiu-se patrulhada?
Marina Lima –
 Muito. Mas nunca elogiaram minha voz. Foi sempre o conjunto: voz, jeito, estilo, opiniões. 
ISTOÉ –
 Há quanto tempo ocorreu problema nas cordas vocais?
Marina Lima –
 Isso foi em 1997. Há 19 anos. Quando tive o problema, não conseguia nem falar. Tinha falta de ar. Houve vários discos depois. Tudo foi fruto da insatisfação com a carreira de cantora pop. Tive problemas com a banda, com a empresária, tudo ao mesmo tempo. Cancelei shows. Culminou num estresse que afetou a voz. Não foi uma doença específica. Hoje vejo que a vida é inteligente. Sucumbi a uma série de coisas porque não queria continuar como estava. São 35 anos de carreira, 20 discos. O próximo será como tenho vontade de fazer.

http://istoe.com.br/445146_CONQUISTEI+O+AMOR+AOS+60+/