quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Nakameguro - Tokyo


Nakameguro in Tokyo is one of the most famous places for admiring the blossoming cherry trees in the middle of the city.

http://photography.nationalgeographic.com/photography/photo-of-the-day/cherry-blossoms-nakameguro

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

domingo, 17 de novembro de 2013

Confira os filmes imperdíveis do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade

 

http://igay.ig.com.br/2013-11-03/confira-os-filmes-imperdiveis-do-festival-mix-brasil-de-cultura-da-diversidade.html

Molly Bb


http://www.youtube.com/channel/UCmMia0ebwz-KTNh9mZFPIUg

Scientists discover another cause of bee deaths, and it's really bad news

So what is with all the dying bees? Scientists have been trying to discover this for years. Meanwhile, bees keep dropping like... well, you know.
Is it mites? Pesticides? Cell phone towers? What is really at the root? Turns out the real issue really scary, because it is more complex and pervasive than thought.
Quartz reports:

Scientists had struggled to find the trigger for so-called Colony Collapse Disorder (CCD) that has wiped out an estimated 10 million beehives, worth $2 billion, over the past six years. Suspects have included pesticides, disease-bearing parasites and poor nutrition. But in a first-of-its-kind study published today in the journal PLOS ONE, scientists at the University of Maryland and the US Department of Agriculture have identified a witch’s brew of pesticides and fungicides contaminating pollen that bees collect to feed their hives. The findings break new ground on why large numbers of bees are dying though they do not identify the specific cause of CCD, where an entire beehive dies at once.
The researchers behind that study in PLOS ONE -- Jeffery S. Pettis, Elinor M. Lichtenberg, Michael Andree, Jennie Stitzinger, Robyn Rose, Dennis vanEngelsdorp -- collected pollen from hives on the east coast, including cranberry and watermelon crops, and fed it to healthy bees. Those bees had a serious decline in their ability to resist a parasite that causes Colony Collapse Disorder. The pollen they were fed had an average of nine different pesticides and fungicides, though one sample of pollen contained a deadly brew of 21 different chemicals. Further, the researchers discovered that bees that ate pollen with fungicides were three times more likely to be infected by the parasite.
The discovery means that fungicides, thought harmless to bees, is actually a significant part of Colony Collapse Disorder. And that likely means farmers need a whole new set of regulations about how to use fungicides. While neonicotinoids have been linked to mass bee deaths -- the same type of chemical at the heart of the massive bumble bee die off in Oregon -- this study opens up an entirely new finding that it is more than one group of pesticides, but a combination of many chemicals, which makes the problem far more complex.
And it is not just the types of chemicals used that need to be considered, but also spraying practices. The bees sampled by the authors foraged not from crops, but almost exclusively from weeds and wildflowers, which means bees are more widely exposed to pesticides than thought.
The authors write, "[M]ore attention must be paid to how honey bees are exposed to pesticides outside of the field in which they are placed. We detected 35 different pesticides in the sampled pollen, and found high fungicide loads. The insecticides esfenvalerate and phosmet were at a concentration higher than their median lethal dose in at least one pollen sample. While fungicides are typically seen as fairly safe for honey bees, we found an increased probability of Nosema infection in bees that consumed pollen with a higher fungicide load. Our results highlight a need for research on sub-lethal effects of fungicides and other chemicals that bees placed in an agricultural setting are exposed to."
While the overarching issue is simple -- chemicals used on crops kill bees -- the details of the problem are increasingly more complex, including what can be sprayed, where, how, and when to minimize the negative effects on bees and other pollinators while still assisting in crop production. Right now, scientists are still working on discovering the degree to which bees are affected and by what. It will still likely be a long time before solutions are uncovered and put into place. When economics come into play, an outright halt in spraying anything at all anywhere is simply impossible.
Quartz notes, "Bee populations are so low in the US that it now takes 60% of the country’s surviving colonies just to pollinate one California crop, almonds. And that’s not just a west coast problem—California supplies 80% of the world’s almonds, a market worth $4 billion."

http://www.treehugger.com/natural-sciences/scientists-discover-another-cause-bee-deaths-and-its-really-bad-news.html

Netgeo - Battle of the ages


http://channel.nationalgeographic.com/channel/brain-games/episodes/battle-of-the-ages/video/

While it's long been believed that both your body and your brain deteriorate over time, recent studies show that may not always be the case. Some brain functions improve as we get older, while others don't fully develop until later in life. In this episode, we explore your brain and how it doesn't always act its age. Through a series of games and experiments, you'll discover how your daily routines might be aging your brain, and how you can actually slow down the clock.
Assistir Filmes Online Gratis

Seguro, mas com quantidade enorme de propagandas: ver ADBLOCK PLUS e pesquisar no Google como assistir os filmes sem clicar nos links errados.

http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-o-som-ao-redor-nacional-online.html
http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-rookie-blue-todas-as-temporadas-dublado-legendado-online.html

http://monitorations.blogspot.com.br/2012/08/bloquear-propaganda-site.html

Uma aproximação entre os pensamentos de Hegel e Freud sob as perspectivas das inquietudes e desejos humanos.

 



http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/24/artigo178133-1.asp

http://sayakvalencia.blogspot.com.br/

Conferencia "Capitalismo GORE"  

Do outro lado do rio: retificações, canalizações e projetos abandonados dos rios de São Paulo

http://gizmodo.uol.com.br/do-outro-lado-do-rio-segunda-parte/

Você pode não notar, mas São Paulo é uma cidade repleta de rios. Por baixo de avenidas congestionadas, que, feriado após feriado, quebram recordes de trânsito, correm córregos e rios. Eles foram canalizados e aterrados para dar lugar a avenidas, símbolo do progresso da cidade.

Pauline Kael

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/14179-meritos-de-pauline.shtml

Cinema
Méritos de Pauline
O retrato de uma crítica Resumo A primeira biografia de Pauline Kael suscita dúvidas sobre sua honestidade intelectual -ela teria afanado estudos sobre "Cidadão Kane" de um de seus colaboradores-, mas reafirma a norte-americana como a mais célebre crítica de cinema dos Estados Unidos. Dez anos após sua morte, o lançamento desse e de dois outros livros nos EUA provam a permanência de seu prestígio.
BRUNO GHETTI
Há 40 anos, a mais célebre crítica de cinema dos Estados Unidos, Pauline Kael (1919-2001), publicava seu artigo mais famoso. Era um detalhado estudo sobre "Cidadão Kane" (1941), espertamente intitulado "Raising Kane" (trocadilho com a expressão "to raise Cain", que significa algo como "gerar reações inflamadas").
No texto -que integra a coletânea "Criando Kane e Outros Ensaios", publicada no Brasil em 2000-, Pauline defendia que o roteirista Herman J. Mankiewicz era a força criativa por trás do filme, mais importante até que o diretor, Orson Welles (1915-85). Ela queria fazer justiça a Mankiewicz, que caíra em esquecimento, enquanto Welles entrara para a história com a reputação de gênio maldito, frequentemente reivindicando para si as principais qualidades de "Kane" e a coautoria do roteiro -embora Pauline jurasse que Welles não escrevera nem sequer uma linha do script.
Independente do quanto de justiça e veracidade "Raising Kane" trazia (o artigos foi bastante contestado na época), surgem agora evidências de que a própria Pauline atuou de modo tão pouco ético como ela acusava Welles de ter agido. A crítica teria baseado o seu artigo nos estudos realizados por outra pessoa -Howard Suber, pesquisador da UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), que colaborou com Pauline, mas que, por fim, não foi sequer mencionado no texto final. A revelação surpreendente está em *"Pauline Kael: A Life in the Dark" [Viking, 432 págs., R$ 68,30]*, a primeira biografia da crítica, escrita pelo jornalista Brian Kellow.
"Ela roubou os estudos", diz Kellow, em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York. "Howard Suber era um professor-assistente da UCLA que pesquisava sobre 'Kane'. Pauline descobriu e o chamou para colaborar em uma publicação. De posse dos dados da pesquisa dele, nunca mais falou no assunto. Um dia, Suber abriu a [revista] 'New Yorker' e lá estava o trabalho dele, em um artigo assinado só por Pauline. Foi chocante descobrir isso porque, em geral, Pauline era uma pessoa ética", diz.
Por e-mail, Suber confirmou à Folha a versão de Kellow. "As conclusões expostas no artigo são mesmo dela. Mas, de resto, diria que ela não fez pesquisa nenhuma, apenas usou o que eu forneci." Na época, o crítico e cineasta Peter Bogdanovich quis defender Suber. "Mas era muito doloroso para mim falar sobre isso. Só agora resolvi desabafar", diz o pesquisador.
KAELMANIA A revelação certamente deixa uma mancha na reputação de Kael, mas a crítica dificilmente deixará de ser respeitada -até porque, ao longo da carreira, foi atacada muitas vezes pelos (diversos) detratores e conseguiu sair incólume, seguindo até hoje como a mais influente crítica americana.
Prova de seu prestígio mesmo dez anos após sua morte é a atual "kaelmania" que toma conta do mercado editorial nos EUA -recentemente, além da biografia de Kellow, foram lançadas duas outras publicações relacionadas à crítica. Uma delas é a excelente antologia *"The Age of Movies: Selected Writings of Pauline Kael" [Library of America, 750 págs., R$ 97,70]*, com os textos mais importantes de Pauline (menos o longo artigo sobre "Kane", que ficou de fora por falta de espaço). O livro é organizado pelo crítico e escritor Sanford Schwartz.
A outra é *"Lucking Out" [Doubleday, 272 págs., R$ 60,90]*, livro de memórias do jornalista James Wolcott, da revista "Vanity Fair", em que Pauline, sua amiga pessoal e mentora, surge como uma personagem expressiva -ela domina quase 50 páginas do livro. Como Kellow, ele traça um retrato respeitoso escrito por um admirador, mas sem deixar de mostrar que a crítica nem sempre era uma pessoa fácil. Protegido de Pauline, Wolcott é um caso típico de "Paulette", denominação jocosa dada no meio jornalístico dos EUA aos diversos críticos surgidos nos anos 70 que imitavam o estilo kaeliano.
A devoção dos "Paulettes" à inspiradora não é tão difícil de entender: os textos ferinos de Pauline demonstravam ampla cultura geral e eram peculiarmente fluidos e divertidos. Ela não seguia nenhuma linha teórica -acreditava que a força de uma crítica vinha de uma sua própria resposta emocional ao que via na tela.
"Bastava ver um filme uma vez para ela reparar em detalhes que outros críticos não notariam nem revendo em diversas ocasiões", ressalta Kellow. O conteúdo de seus textos era polêmico e até podia ser discutível, mas o prazer literário que proporcionavam era inegável. Tanto que seu livro de críticas "Deeper into Movies" (1973) foi o primeiro do gênero a ganhar um National Book Award.
TRAJETÓRIA Pauline Kael nasceu na pequena Petaluma, Califórnia, em 1919, filha de pais judeus poloneses. Foi criada em um rancho de galinhas, mas em um meio que privilegiava o interesse pelas artes. Mas sua formação cultural se deu mesmo quando se mudou para a região de San Francisco, onde estudou filosofia e conviveu com artistas de vanguarda.
Antes de se tornar uma crítica de sucesso, Pauline penou em profissões diversas: foi costureira, cozinheira, "ghost-writer" e até cobaia de cosméticos. Segundo o biógrafo, "ela também tentou ser roteirista, dramaturga e autora de peças para rádio, mas não era muito boa nisso. Só encontrou sua voz mesmo como crítica".
A tal voz Pauline botou para fora pela primeira vez aos 33, em 1952, com uma análise (negativa) de "Luzes da Ribalta", de Charles Chaplin, na revista "City Lights". Mas sua situação financeir melhorou só dez anos depois, quando ganhou notoriedade nacional com o texto "Circles and squares", em que atacava o crítico Andrew Sarris e sua "teoria do autor" (derivação da "política dos autores", criada pelos franceses, nos anos 50). O artigo trazia características importantes da escrita kaeliana: o estilo coloquial, o gosto pela polêmica e a antipatia ao culto ao cineasta-autor -de certa forma, o texto foi um "esquenta" para a defesa do cinema enquanto arte colaborativa que ela praticaria em "Raising Kane", de 1971.
Sarris levou as críticas pelo lado pessoal e iniciou uma disputa pública com Pauline. "Ela respeitava a inteligência de Sarris, mas não o achava um bom escritor", diz Kellow. "Sarris não gostava dela. Ao entrevistá-lo para meu livro, para poupar seu tempo, sugeri uma conversa de só 15 minutos. Mas Sarris disse: 'Não tem problemas, podemos conversar por mais tempo desde que eu não precise voltar a falar dessa senhora!'".
EXTREMOS Odiada por muitos, mas já com leitores fiéis, Pauline estreou em 1967 na prestigiada revista " The New Yorker", onde trabalharia até 1991, quando se aposentou ("para não ter mais que ver filmes de Oliver Stone", ela brincou na época, embora o verdadeiro motivo tenha sido o mal de Par-kinson, que a acompanharia até a morte, aos 82). Teve uma relação cordial, mas por vezes tensa, com seu editor, William Shawn, que lhe deu liberdade quase total em suas críticas -embora não gostasse dos seus coloquialismos.
Seus vigorosos textos das décadas de 70 e 80 a consolidaram como grande formadora de opinião. Mesmo escrevendo para uma revista de público refinado, não escondia sua aversão a filmes muito intelectualizados e pretensiosos -dizia, por exemplo, que ver alguns longas de Robert Bresson era "algo assim como ser açoitado, vendo cada lambada se aproximando". Se John Cassavetes, Rainer Werner Fassbinder e Andrei Tarkovski não estavam entre seus preferidos, obras menos ambiciosas de Brian de Palma, Irving Kershner e Paul Mazursky lhe proporcionavam grande prazer.
Mas Pauline sabia reconhecer um grande filme. Ela foi uma das primeiras a falar, por exemplo, da importância de "Uma Rajada de Balas" (1967), de Arthur Penn, e de "Nashville" (1975), de Robert Altman. Sua análise de "O Último Tango em Paris" (1972), de Bernardo Bertolucci, foi um dos seus pontos altos (mesmo que, lida hoje, possa soar exagerada).
"Pauline às vezes tinha tendência à hipérbole, idolatrava um filme na excitação do momento, mas isso vinha do enorme amor que ela tinha pelo que fazia", diz seu biógrafo, salientando que escrever sobre cinema foi a maior paixão da vida da crítica.
A maior, mas não a única: Pauline amou muito, mas não deu sorte em seus relacionamentos -tinha tendência a se apaixonar por homens gays. Com um deles (o cineasta de vanguarda James Broughton), teve sua única filha, Gina, que Pauline criou sozinha, com grande severidade. (Gina foi uma das poucas pessoas que se recusaram a colaborar com a biografia escrita por Kellow.)
O biógrafo descreve Pauline como uma pessoa enérgica, falastrona e em geral agradável, mas competitiva e centrada em si. Era generosa com os "Paulettes", mas exigia idolatria irrestrita dos mesmos. Mas sua maior qualidade talvez fosse o humor. Certa vez, o diretor George Roy Hill, irritado com uma crítica a "Butch Cassidy" (1969), escreveu-lhe uma carta desaforada, chamando-a de "vadia miserável". Pauline se divertia com o bilhete e o mostrava aos amigos que iam à sua casa. Pouco tempo antes de morrer, a crítica encontrou Hill em um restaurante. Ao ver que o cineasta também sofria de Parkinson, Pauline se apressou em lhe dar o contato de sua massagista: "Fará maravilhas por você!".
Kellow entrevistou cerca de 160 pessoas para a biografia e teve acesso total aos arquivos pessoais da crítica. "Fiquei impressionado: ela guardou quase todas as cartas que recebeu em vida" (entre os documentos, Kellow achou os estudos de Howard Suber, mas nenhuma pesquisa da própria Pauline sobre "Cidadão Kane").
A biografia reproduz vários trechos de textos de Pauline. Uma das principais qualidades dos seus artigos é o poder de análise do que estava acontecendo no mundo e como isso influía nos filmes. Seus textos falavam sobre a época em que foram escritos, além de mostrarem quem era Pauline Kael. Certa vez, disse que nunca escreveria uma biografia: "Fiz isso ao longo dos anos". De certa forma, ela tinha razão.
Independente do quanto de justiça e veracidade o artigo trazia, surgem agora evidências de que a própria Pauline atuou de modo tão pouco ético como ela acusava Orson Welles de ter agido
Antes de se tornar uma crítica de sucesso, Pauline Kael penou em diversas profissões: foi costureira, cozinheira, "ghost-writer" e, inclusive, cobaia de cosméticos
O biógrafo descreve Pauline como uma pessoa enérgica, falastrona e agradável, mas competitiva e centrada em si. Exigia idolatria irrestrita dos "Paulettes"

Mostra de São Paulo 2013


http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/31/mostra-de-sao-paulo-tera-programacao-extra-com-mais-de-40-filmes.htm#fotoNav=9

Em "Uma Família Japonesa", de Yoji Yamada, um casal de idosos viaja do interior do Japão a Tóquio para visitar os filhos e netos. Ao chegar, entretanto, descobrem que os filhos mais velhos não têm tempo para eles. O filme é uma releitura de "Era Uma Vez Em Tóquio", de Yasujiro Ozu, considerado o melhor filme da história do cinema pelo BFI (sigla em inglês para Instituto Britânico de Cinema), e que também está na mostra. Também de Ozu, a Mostra exibe "A Rotina Tem Seu Encanto" e "Flor do Equinócio"

A revolução das indignações e as lutas democráticas


A palestra “A revolução das indignações e as lutas democráticas” reuniu o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, Frei Betto e a filósofa Marilena Chaui, em encontro organizado pela Cortez Editora. Os renomados intelectuais debateram sobre Direitos Humanos, e os protestos que têm ocorrido no Brasil.

Na ocasião, foram lançados os livros:

Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos (Boaventura de Sousa Santos): http://bit.ly/18LtQgE

Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento (Boaventura de Sousa Santos e Marilena Chaui): http://bit.ly/Hbqn0S
- See more at: http://alice.ces.uc.pt/en/index.php/brazil/the-revolution-of-indignation-and-democratic-struggles/?lang=pt#sthash.wZW5LFYi.dpuf


http://www.youtube.com/watch?v=8WVE30YsKvA

Meritocracia


http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira

temas livres e variados

Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira

A primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média, chamá-la de fascista, violenta e ignorante, tive a reação que provavelmente a maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase impulsivamente. Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe média. Não dá para pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte: igualdade na miséria seria retrocesso, na riqueza seria impossível. Então, o engrossamento da classe média tem sido visto como sinal de desenvolvimento do país, de redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, ou mais, de uma positiva mobilidade social, em que muitos têm ascendido na vida a partir da base. A classe média seria como que um ponto de convergência conveniente para uma sociedade mais igualitária. Para a esquerda, sobretudo, ela indicaria uma espécie de relação capital-trabalho com menos exploração.
Então, eu, que bebi da racionalidade desde as primeiras gotas de leite materno, como afirmou certa vez um filósofo, não comprei a tese assim, facilmente. Não sem uma razão. E a Marilena não me ofereceu esta razão. Ela identificou algo, um fenômeno, o reacionarismo da classe média brasileira, mas não desvendou o sentido do fenômeno. Descreveu “O QUE” estava acontecendo, mas não nos ofereceu o “PORQUE”. Por que logo a classe média? Não seria mais razoável afirmar que as elites é que são o “atraso de vida” do Brasil, como sempre foi dito? E mais, ela fala da classe média brasileira, não da classe média de maneira geral, não como categoria social. Então, para ela, a identificação deste fenômeno não tem uma fundamentação eminentemente filosófica ou sociológica, e sim empírica: é fruto da sua observação, sobretudo da classe média paulistana. E por que a classe média brasileira e não a classe média em geral? Estas indagações me perturbavam, e eu ficava reticente com as afirmações de dona Marilena.
Com o passar do tempo, porém, observando muitos representantes da classe média próximos de mim (coisa fácil, pois faço parte dela), bem como a postura desta mesma classe nas manifestações de junho deste ano, comecei lentamente a dar razão à filósofa. A classe média parece mesmo reacionária, talvez não toda, mas grande parte dela. Mas ainda me perguntava “por que” a classe média, e “por que” a brasileira? Havia um elo perdido neste fenômeno, algo a ser explicado, um sentido a ser desvendado.
Então adveio aquela abominável reação de grande parte da categoria médica – justamente uma categoria profissional com vocação para classe média - ao Programa Mais Médicos, e me sugeriu uma resposta. Aqueles episódios me ajudaram a desvendar a espuma. Mas não sem antes uma boa pergunta! Como pode uma categoria profissional pensar e agir assim, de forma tão unificada, num país tão plural e tão cheio de nuanças intelectuais e políticas como o nosso? Estudantes de medicina e médicos parecem exibir um padrão de pensamento e ação muito coesos e com desvios mínimos quando se trata da sua profissão, algo que não se vê em outros segmentos profissionais. Isto não pode ser explicado apenas pelo que se convencionou chamar de “corporativismo”. Afinal, outras categorias profissionais também tem potencial para o corporativismo, e não o são, ao menos não da mesma forma. Então deveria haver outra interpretação para isto.
Bem, naqueles episódios do Mais Médicos, apesar de toda a argumentação pretensamente responsável das entidades médicas buscando salvaguardar a saúde pública, o que me parecia sustentar tal coesão era uma defesa do mérito, do mérito de ser médico no Brasil. Então, este pensamento único provavelmente fora forjado pelas longas provações por que passa um estudante de medicina até se tornar um profissional: passar no vestibular mais concorrido do Brasil, fazer o curso mais longo, um dos mais difíceis, que tem mais aulas práticas e exigências de estrutura, e que está entre os mais caros do país. É um feito se formar médico no Brasil, e talvez por isto esta formação, mais do que qualquer outra, seja uma celebração do mérito. Sendo assim, supõe-se, não se pode aceitar que qualquer um que não demonstre ter tido os mesmos méritos, desfrute das mesmas prerrogativas que os profissionais formados aqui. Então, aquela reação episódica, e a meu ver descabida, da categoria médica, incompreensível até para o resto da classe média, era, na verdade, um brado pela meritocracia.
A minha resposta, então, ao enigma da classe média brasileira aqui colocado, começava a se desvelar: é que boa parte dela é reacionária porque é meritocrática; ou seja, a meritocracia está na base de sua ideologia conservadora.
Assim, boa parte da classe média é contra as cotas nas universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de mérito; é contra o bolsa-família, pois ganhar dinheiro sem trabalhar além de um demérito desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque meritocracia também significa o contrário, pagar caro pela falta de mérito; reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado por um Governo que não produz, muito menos ser distribuído em serviços para quem não é produtivo e não gera impostos. É contra os políticos porque em uma sociedade racional, a técnica, e não a política, deveria ser a base de todas as decisões: então, deveríamos ter bons gestores e não políticos. Tudo uma questão de mérito.
Mas por que a classe média seria mais meritocrática que as outras? Bem, creio que isto tem a ver com a história das políticas públicas no Brasil. Nós nunca tivemos um verdadeiro Estado do Bem Estar Social por aqui, como o europeu, que forjou uma classe média a partir de políticas de garantias públicas. O nosso Estado no máximo oferecia oportunidades, vagas em universidades públicas no curso de medicina, por exemplo, mas o estudante tinha que enfrentar 90 candidatos por vaga para ingressar. O mesmo vale para a classe média empresarial, para os profissionais liberais, etc. Para estes, a burocracia do Estado foi sempre um empecilho, nunca uma aliada. Mesmo a classe média estatal atual, formada por funcionários públicos, é geralmente concursada, portanto, atingiu sua posição de forma meritocrática. Então, a classe média brasileira se constituiu por mérito próprio, e como não tem patrimônio ou grandes empresas para deixar de herança para que seus filhos vivam de renda ou de lucro, deixa para eles o estudo e uma boa formação profissional, para que possam fazer carreira também por méritos próprios. Acho que isto forjou o ethos meritocrático da nossa classe média.
Esta situação é bem diferente na Europa e nos EUA, por exemplo. Boa parte da classe média europeia se formou ou se sustenta das políticas de bem estar social dos seus países, estas mesmas que entraram em colapso com a atual crise econômica e tem gerado convulsões sociais em vários deles; por lá, eles vão para as ruas exatamente para defender políticas anti-meritocráticas. E a classe média americana, bem, esta convive de forma quase dramática com as ambiguidades de um país que é ao mesmo tempo das oportunidades e das incertezas; ela sabe que apenas o mérito não sustenta a sua posição, portanto, não tem muitos motivos para ser meritocrática. Se a classe média adoecer nos EUA, vai perder o seu patrimônio pagando por serviços privados de saúde pela absoluta falta de um sistema público que a suporte; se advém uma crise econômica como a de 2008, que independe do mérito individual, a classe média perde suas casas financiadas e vai dormir dentro de seus automóveis, como se via à época. Então, no mundo dos ianques, o mérito não dá segurança social alguma.
As classes brasileiras alta e baixa (os nossos ricos e pobres) também não são meritocráticas. A classe alta é patrimonialista; um filho de rico herda bens, empresas e dinheiro, não precisa fazer sua vida pelo mérito próprio, portanto, ser meritocrata seria um contrassenso; ao contrário, sua defesa tem que ser dos privilégios que o dinheiro pode comprar, do direito à propriedade privada e da livre iniciativa. Além disso, boa parte da elite brasileira tem consciência de que depende do Estado e que, em muitos casos, fez fortuna com favorecimentos estatais; então, antes de ser contra os governos e a política, e de se intitular apolítica, ela busca é forjar alianças no meio político.
Para a classe pobre o mérito nunca foi solução; ela vive travada pela falta de oportunidades, de condições ou pelo limitado potencial individual. Assim, ser meritocrata implicaria não só assumir que o seu insucesso é fruto da falta de mérito pessoal, como também relegar apenas para si a responsabilidade pela superação da sua condição. E ela sabe que não existem soluções pela via do mérito individual para as dezenas de milhões de brasileiros que vivem em condições de pobreza, e que seguramente dependem das políticas públicas para melhorar de vida. Então, nem pobres nem ricos tem razões para serem meritocratas.
A meritocracia é uma forma de justificação das posições sociais de poder com base no merecimento, normalmente calcado em valências individuais, como inteligência, habilidade e esforço. Supostamente, portanto, uma sociedade meritocrática se sustentaria na ética do merecimento, algo aceitável para os nossos padrões morais.
Aliás, tenho certeza de que todos nós educamos nossos filhos e tentamos agir no dia a dia com base na valorização do mérito. Nós valorizamos o esforço e a responsabilidade, educamos nossas crianças para serem independentes, para fazerem por merecer suas conquistas, motivamo-as para o estudo, para terem uma carreira honrosa e digna, para buscarem por méritos próprios o seu lugar na sociedade.
Então, o que há de errado com a meritocracia, como pode ela tornar alguém reacionário?
Bem, como o mérito está fundado em valências individuais, ele serve para apreciações individuais e não sociais. A menos que se pense, é claro, que uma sociedade seja apenas um agregado de pessoas. Então, uma coisa é a valorização do mérito como princípio educativo e formativo individual, e como juízo de conduta pessoal, outra bem diferente é tê-lo como plano de governo, como fundamento ético de uma organização social. Neste plano é que se situa a meritocracia, como um fundamento de organização coletiva, e aí é que ela se torna reacionária e perversa.
Vou gastar as últimas linhas deste texto para oferecer algumas razões para isto, para mostrar porquê a meritocracia é um fundamento perverso de organização social.
a) A meritocracia propõe construir uma ordem social baseada nas diferenças de predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.) e não em valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.). Então, uma sociedade meritocrática pode atentar contra estes valores, ou pode obstruir o acesso de muitos a direitos fundamentais.
b) A meritocracia exacerba o individualismo e a intolerância social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivíduo e às suas valências as responsabilidades por seus sucessos e fracassos.
c) A meritocracia esvazia o espaço público, o espaço de construção social das ordens coletivas, e tende a desprezar a atividade política, transformando-a em uma espécie de excrescência disfuncional da sociedade, uma atividade sem legitimidade para a criação destas ordens coletivas. Supondo uma sociedade isenta de jogos de interesse e de ambiguidades de valor, prevê uma ordem social que siga apenas a racionalidade técnica do merecimento e do desempenho, e não a racionalidade política das disputas, das conversações, das negociações, dos acordos, das coalisões e/ou das concertações, algo improvável em uma sociedade democrática e pluralista.
d) A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem. O Quintana, pelo imenso valor literário que tem, não merecia ter morrido pobre nem ter tido que morar de favor em um hotel em Porto Alegre, mas quem amealhou fortuna com a literatura foi o Coelho. Um tem inegável valor literário, outro tem desempenho de mercado. O José, aquele menino nota 10 na escola que mora embaixo de uma ponte da BR 116 (tema de reportagem da ZH) merece ser médico, sua sonhada profissão, mas provavelmente não o será, pois não terá condições para isto (rezo para estar errado neste caso). Na música popular nem é preciso exemplificar, a distância entre merecimento e desempenho de mercado é abismal. Então, neste mudo em que vivemos, valor e resultado, merecimento e desempenho nem sempre caminham juntos, e talvez raramente convirjam.
Mas a meritocracia exige medidas, e o merecimento, que é um juízo de valor subjetivo, não pode ser medido; portanto, o que se mede é o desempenho supondo-se que ele seja um indicador do merecimento, o que está longe de ser. Desta forma, no mundo da meritocracia – que mais deveria se chamar “desempenhocracia” - se confunde merecimento com desempenho, com larga vantagem para este último como medida de mérito.
e) A meritocracia escamoteia as reais operações de poder. Como avaliação e desempenho são cruciais na meritocracia, pois dão acesso a certas posições de poder e a recursos, tanto os indicadores de avaliação como os meios que levam a bons desempenhos são moldados por relações de poder; e o são decisivamente. Seria ingênuo supor o contrário. Assim, os critérios de avaliação que ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.
Critérios avaliativos e medidas de desempenho são moldáveis conforme os interesses dominantes, e os interesses são a razão de ser das operações de poder; que por sua vez, são a matéria prima de toda a atividade política. Então, por trás da cortina de fumaça da meritocracia repousa toda a estrutura de poder da sociedade.
Até aí tudo bem, isso ocorre na maioria dos sistemas políticos, econômicos e sociais. O problema é que, sob o manto da suposta “objetividade” dos critérios de avaliação e desempenho, a meritocracia esconde estas relações de poder, sugerindo uma sociedade tecnicamente organizada e isenta da ingerência política. Nada mais ilusório e nada mais perigoso, pois a pior política é aquela que despolitiza, e o pior poder, o mais difícil de enfrentar e de combater, é aquele que nega a si mesmo, que se oculta para não ser visto.
e) A meritocracia é a única ideologia que institui a desigualdade social com fundamentos “racionais”, e legitima pela razão toda a forma de dominação (talvez a mais insidiosa forma de legitimação da modernidade). A dominação e o poder ganham roupagens racionais, fundamentos científicos e bases de conhecimento, o que dá a eles uma aparente naturalidade e inquestionabilidade: é como se dominados e dominadores concordassem racionalmente sobre os termos da dominação.
f) A meritocracia substitui a racionalidade baseada nos valores, nos fins, pela racionalidade instrumental, baseada na adequação dos meios aos resultados esperados. Para a meritocracia não vale a pena ser o Quintana, não é racional, embora seus poemas fossem a própria exacerbação de si, de sua substância, de seus valores artísticos. Vale mais a pena ser o Paulo Coelho, a E.L. James, e fazer uma literatura calibrada para vender. Da mesma forma, muitos pais acham mais racional escolher a escola dos seus filhos não pelos fundamentos de conhecimento e valores que ela contém, mas pelo índice de aprovação no vestibular que ela apresenta. Estudantes geralmente não estudam para aprender, estudam para passar em provas. Cursos de pós-graduação e professores universitários não produzem conhecimentos e publicam artigos e livros para fazerem a diferença no mundo, para terem um significado na pesquisa e na vida intelectual do país, mas sim para engrossarem o seu Lattes e para ficarem bem ranqueados na CAPES e no CNPq.
A meritocracia exige uma complexa rede de avaliações objetivas para distribuir e justificar as pessoas nas diferentes posições de autoridade e poder na sociedade, e estas avaliações funcionam como guiões para as decisões e ações humanas. Assim, em uma sociedade meritocrática, a racionalidade dirige a ação para a escolha dos meios necessários para se ter um bom desempenho nestes processos avaliativos, ao invés de dirigi-la para valores, princípios ou convicções pessoais e sociais.
g) Por fim, a meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.
Enfim, a meritocracia é um dos fundamentos de ordenamento social mais reacionários que existe, com potencial para produzir verdadeiros abismos sociais e humanos. Assim, embora eu tenda a concordar com a tese da Marilena Chauí sobre a classe média brasileira, proponho aqui uma troca de alvo. Bradar contra a classe média, além de antipático pode parecer inútil, pois ninguém abandona a sua condição social apenas para escapar ao seu estereótipo. Não se muda a posição política de alguém atacando a sua condição de classe, e sim os conceitos que fundamentam a sua ideologia.
Então, prefiro combater conceitos, neste caso, provavelmente o conceito mais arraigado na classe média brasileira, e que a faz ser o que é: a meritocracia.

Escreva seu livro


http://www.escrevaseulivro.com.br

Seus relacionamentos não dão certo? Siga dez passos para mudar isso

 

http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2013/09/12/seus-relacionamentos-nao-dao-certo-siga-dez-passos-para-mudar-isso.htm

Japan Train and Lights

http://photography.nationalgeographic.com/photography/photo-of-the-day/train-lights-japan



André Singer defende ruptura do PT com conservadores e critica leilão de Libra

(André e Lula no Palácio do Planalto em 2006. Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Ex-porta-voz e secretário de Imprensa de Lula (2003-2007), o cientista político André Vítor Singer tem se destacado como teórico –e crítico– do que chama de “lulismo”. Nesta entrevista ao colaborador do blog João Paulo Martins, o autor de Os Sentidos do Lulismo (Companhia das Letras) analisa erros e acertos do PT no poder e lamenta a ausência de uma esquerda forte o suficiente para pressionar o governo pela aceleração das mudanças.
Ele também aponta a “falta de confrontação com o capital” e aposta que o leilão de Libra foi feito para agradar “a burguesia que está passando por um período de grande hostilidade” em relação ao governo Dilma. “A Petrobrás teria condições de fazer a exploração de Libra por si mesma, sem a necessidade de associação com empresas privadas. Parece-me razoável, sendo o petróleo um elemento estratégico para o desenvolvimento do país”, disse.
Para Singer, é necessário “algum grau de afastamento das forças conservadoras” . É arriscado? Sim. Mas o partido poderia correr o risco. “Para manter uma posição mais firme na perspectiva das mudanças estruturais que o Brasil precisa”, defende. Leiam a íntegra da entrevista abaixo.
***
A JOÃO PAULO MARTINS
Em 10 anos de governo PT (Lula-Dilma), o País passou por diversas conjunturas dentro do processo político. Sua tese sobre o lulismo nos auxilia a entendê-las. Quais medidas tiveram resultados satisfatórios? Em que o governo preferiu não mexer e foi negativo para o processo de mudanças no Brasil?
André Singer – No fundamental, houve uma significativa redução da pobreza no Brasil, sobretudo da pobreza extrema. O que a gente poderia chamar de tripé do “Lulismo”– que é constituído pelo Bolsa Família, pelo aumento do salário mínimo real e pelo crédito consignado–, funcionou muito bem. Na verdade, muita gente passou a ter acesso a bens de consumo e serviços que não tinha antes, você pode constatar uma melhora na condição de vida das camadas mais pobres da sociedade. E isso acabou produzindo uma reativação da economia partindo de baixo, o que significou também um quarto elemento fundamental: a geração de emprego. Nós tivemos uma redução importante do desemprego, de cerca de 12% para 5%. Isto significa que não só houve uma redução da pobreza, mas houve uma melhora das condições de luta da classe trabalhadora que acompanha a redução do desemprego. Esse é o aspecto que eu acho que funcionou bem.
Em contrapartida, o modelo lulista é um modelo que implica em não confrontação com o capital. E nos resta saber, partindo deste fato, se mudanças mais amplas no modelo econômico podem ser feitas utilizando essa estratégia. A presidente Dilma foi ousada, na primeira parte do seu mandato, tentando construir uma base para uma nova industrialização do Brasil, promovendo uma recolocação do Brasil em outros termos na DIT( Divisão Internacional do Trabalho). No entanto, aparentemente, o resultado não foi bom e agora estamos assistindo a um momento muito incerto com relação à maneira como esse projeto poderá se desenvolver no futuro.
O atendimento dos interesses de alguns setores por parte do governo, como o capital financeiro (bancos e investidores financeiros), grandes empreiteiras e o agronegócio é proporcional ao enfrentamento da pobreza promovido também por ele?
É uma constatação difícil. O lulismo é um modelo de governo de arbitragem. Ou seja, é um governo que tenta se colocar acima das classes, fazendo com que esta arbitragem produza certo equilíbrio. Claro, isto significa um governo que tende a oscilar de acordo com a conjuntura e a correlação de forças existentes no processo político. Então, não há como fazer essa apreciação geral. O lulismo é um modelo que prima por “repartir os ganhos”, por assim dizer, mas que pode ficar limitado no momento em que não há muito o que repartir.
De que maneira o pacto conservador como garantia de governabilidade e a perda de contato com os movimentos sociais modificaram as propostas iniciais do PT e trouxeram novos rumos para as diretrizes políticas do partido?
À medida que o lulismo foi se consolidando, ao longo do primeiro mandato do ex-presidente Lula e, sobretudo, sendo coroado na eleição de 2006, o PT foi adotando esse modelo, fazendo com que houvesse um deslocamento em suas bases. O PT era um partido claramente de esquerda, teve uma tradição de mais de 20 anos como um partido radical, e a partir do lulismo ele começa a transitar para outro tipo de política, que não é mais uma política radical, mas uma política de conciliação. Então, eu acho que a questão do PT é que ele ainda tem uma parcela da sua militância e mesmo dos seus dirigentes que raciocinam em termos do que foi o passado do partido e com um projeto de esquerda, mas a maioria dos membros aderiu a outro modelo de política que tem outros parâmetros.
E qual o impacto disto sobre o partido? Foi de certa forma prejudicial para o PT e seus membros antigos?
Impacto sobre o partido tem, em todos os sentidos. Essa é uma mudança importante, do que o partido foi até 2002 e do que ele passou a ser a partir de 2003. Agora, quanto a ser prejudicial é uma questão bastante dependente da posição de cada um. Eu acho que, no Brasil, seria positivo vir uma esquerda que pressionasse mais fortemente na direção de uma aceleração maior das mudanças. O sentido das mudanças que o lulismo está fazendo é basicamente correto. Qualquer esquerda no Brasil teria que ter como ponto prioritário do seu programa a redução da pobreza e desigualdade. O grande problema é o ritmo dessas mudanças. Seria bom para o Brasil um setor de esquerda forte e atuante que pressionasse no sentido de acelerar essas mudanças.
Quais são as suas perspectivas sobre o leilão do Campo de Libra? Houve privatização? Quais os ganhos e as perdas reais do Brasil com ele?
O que eu pude depreender é que a Petrobrás teria condições de fazer a exploração de Libra por si mesma, sem a necessidade de associação com empresas privadas. Parece-me razoável, sendo o petróleo um elemento estratégico para o desenvolvimento do país. Seria interessante que isso ficasse sobre controle nacional porque permitiria uma maior influência sobre o ritmo da exploração e o preço do petróleo. A meu ver, a própria compra de equipamentos produzidos no Brasil entra em um conjunto de fatos que justificariam o controle da produção por parte da Petrobrás, mesmo que isso implicasse uma certa lentidão no processo. Até porque, em minha concepção, o processo de exploração desse petróleo tem que ser lento, e é bom que ele seja. Minha intuição aponta para que esta medida tenha sido tomada a fim de dar uma prova de confiança para a burguesia que está passando por um período de grande hostilidade em relação ao governo Dilma. Não tenho como provar, mas a minha hipótese é essa: a associação não foi feita por razões estritamente econômicas, mas sim para permitir que o governo Dilma tivesse uma espécie de prova de confiabilidade em relação ao capital privado.
Como você analisa o sistema tributário brasileiro? Há uma proporcionalidade na relação entre arrecadação e distribuição?
O meu entendimento é que o sistema tributário brasileiro poderia ser mais progressivo, ou seja, taxar mais os que possuem mais. Esse é o ponto principal. Para que o Brasil possa construir um Estado de bem-estar social, o Estado tem que ter muitos recursos. Como eu acredito que esta seja das experiências mundiais que levou os países que o construíram mais próximo de um nível elevado de civilidade, sou simpático à construção dele no Brasil. Para tornar isso possível, a minha sugestão seria um sistema tributário mais progressivo, em que o Estado taxasse mais os mais ricos e pudesse financiar a construção deste Estado de bem-estar social.
Seria possível o PT se distanciar das forças conservadoras para disputar a eleição? Isso seria bom para o partido?
Possível é. A questão é que isso envolve riscos eleitorais. Em minha opinião, sem abrir mão do realismo político que é necessário, o partido poderia correr alguns riscos em nome de manter uma posição mais firme na perspectiva das mudanças estruturais que o Brasil precisa. Em política, você não deve tomar riscos que você não tenha calculado, nem que sejam riscos exagerados. Eu não sou voluntarista e não acredito numa proposta meramente para marcar posição. Acho que o partido tem tido um papel nas mudanças e deve continuar tendo. Com moderação, o partido poderia e deveria correr alguns riscos. Nesse sentido, algum grau de afastamento das forças conservadores seria necessário.
E a aliança com o PMDB, com os ruralistas e com os pastores deputados? Há como o partido se desvencilhar delas?
São setores poderosos da sociedade brasileira, mas que de modo geral dependem de um programa conservador, que é muito oposto às propostas originais do PT. Sem dúvida são setores com os quais deveria se pensar em criar alguma distância. Mas repito: haveria muitos riscos eleitorais.
Qual é sua análise sobre as manifestações de junho? Como o Estado deveria atender as reivindicações populares?
As manifestações acabaram se constituindo em um fenômeno muito complexo, porque elas não tiveram uma causa única e nem uma direção única. Isso torna o mês de junho no Brasil difícil de entender. Elas começam como manifestações de esquerda e com uma plataforma voltada para aceleração das mudanças e a construção do Estado de bem-estar social. A reivindicação pela diminuição da tarifa com perspectiva de um transporte público gratuito aponta no sentido de direito coletivo ao transporte público, e é uma visão, no fundo, anticapitalista.
No entanto, a partir de um certo momento, que eu situo naquela grande manifestação do dia 16 de junho, elas deixaram de ser manifestações de esquerda, porque começaram a entrar outras forças ideológica que eram de direita e de centro. A esquerda continuou presente, mas ela deixou de ser majoritária e deixou de ter o comando efetivo das manifestações. A partir desse momento, as reivindicações se tornaram alguma coisa muito ambígua, porque elas estavam pedindo coisas muito diferentes, partindo de orientações ideológicas muito diferentes. Nesse sentido, manifestações com aquelas características não vão acontecer mais, porque é muito raro acontecer uma situação na qual a extrema esquerda e a extrema direita estejam em uma mesma passeata, passando por diversos espectros. O fato é que a partir de junho os setores fiscais se viram, de alguma maneira, estimulados a se mobilizarem e pressionarem no sentido das suas reivindicações particulares. O problema é que são reivindicações muito diferentes e, em alguns casos, opostas.
Por exemplo, tivemos depois de junho manifestações públicas contra o Mais Médicos. São reivindicações contrárias a quem quer uma expansão da saúde pública no Brasil. São duas visões diferentes. Não há resposta para a pergunta se haverá atendimento ou não às reivindicações e por quais medidas. Na verdade, o que acontece é que junho marca uma mudança na conjuntura brasileira, em que você passa a ter uma luta social mais intensa. O que já está acontecendo é que cada setor, cada camada social, cada fração de classe vai lutar por si e o resultado vai depender da sua força relativa. Nós tivemos, de lá pra cá, greves, como a greve dos bancários. Ela foi bem sucedida, visto que eles conseguiram um aumento real para a classe. Então, isso tende continuar acontecendo em todos os setores. Agora, em que medida essas reivindicações vão ter sucesso ou não vai depender da força relativa de cada setor.
Publicado em 13 de novembro de 2013
 
http://socialistamorena.cartacapital.com.br/andre-singer-defende-ruptura-do-pt-com-conservadores-e-critica-leilao-de-libra/ 

Universities

JM Coetzee: Universities head for extinction

JM Coetzee
 
 
Novelist and academic JM Coetzee's foreword to University of Cape Town fellow Professor John Higgins's new book.
The response of the political class to the university's claim to a special status in relation to the polity has been crude but effectua. (David Harrison, MG)
Dear John,
Thank you for letting me see your essays on academic freedom in South Africa. The general question you address - "Is a university still a university when it loses its academic autonomy?" - seems to me of the utmost importance to the future of higher education in South Africa.
Hardly less important is the junior cousin of that question, namely: "Is a university without a proper faculty of humanities (or faculty of humanities and social sciences) still a university?"
As you point out, the policy on academic autonomy followed by the ANC government is troublingly close to the policy followed by the old National Party government: universities may retain their autonomy as long as the terms of their autonomy can be defined by the state.
The National Party had a conception of the state, and the role played by education within the state, to which such tenets of British liberal faith as academic freedom were simply alien. The indifference of the ANC to academic freedom has less of a philosophical basis, and may simply come out of a defensive reluctance to sanction sites of power over which it has no control.
But South African universities are by no means in a unique position. All over the world, as governments retreat from their traditional duty to foster the common good and reconceive of themselves as mere managers of national economies, universities have been coming under pressure to turn themselves into training schools equipping young people with the skills required by a modern economy.
You argue - cogently - that allowing the transient needs of the economy to define the goals of higher education is a misguided and short­sighted policy: indispensable to a democratic society - indeed, to a vigorous national economy - is a critically literate citizenry competent to explore and interrogate the assumptions behind the paradigms of national and economic life reigning at any given moment. Without the ability to reflect on ourselves, you argue, we run a perennial risk of relaxing into complacent stasis. And only the neglected humanities can provide a training in such critical literacy.
I hope that your book will be high on the reading list of those politicians busy reshaping higher ­education in the light of national priorities, as well as of those university administrators to whom the traditional humanities have become alien ground. I hope that, having read and digested what you have to say, those politicians and administrators will undergo a change of heart. But alas, I do not believe that your hopes and mine have much chance of being realised.
There are two main reasons for my pessimism. The first is that you somewhat underestimate, in my opinion, the ideological force driving the assault on the independence of universities in the (broadly conceived) West. This assault commenced in the 1980s as a reaction to what universities were doing in the 1960s and 1970s, namely, encouraging masses of young people in the view that there was something badly wrong with the way the world was being run and supplying them with the intellectual fodder for a critique of Western civilisation as a whole.
The campaign to rid the academy of what was variously diagnosed as a leftist or anarchist or anti-rational or anti-civilisational malaise has continued without let-up for decades, and has succeeded to such an extent that to conceive of universities any more as seedbeds of agitation and dissent would be laughable.
The response of the political class to the university's claim to a special status in relation to the polity has been crude but effectual: if the university, which, when the chips are down, is simply one among many players competing for public funds, really believes in the lofty ideals it proclaims, then it must show it is prepared to starve for its beliefs. I know of no case in which a university has taken up the challenge.
The fact is that the record of universities, over the past 30 years, in defending themselves against pressure from the state has not been a proud one. Resistance was weak and ill organised; routed, the professors beat a retreat to their dugouts, from where they have done little besides launching the intermittent satirical barb against the managerial newspeak they are perforce having to acquire.
This leads me to the second reason why I fail to share your optimistic faith that the tide may yet be turned. A certain phase in the history of the university, a phase taking its inspiration from the German Romantic revival of humanism, is now, I believe, pretty much at its end. It has come to an end not just because the neoliberal enemies of the university have succeeded in their aims, but because there are too few people left who really believe in the humanities and in the university built on humanistic grounds, with philosophical, historical and philological studies as its pillars.
You argue that only the faculties of humanities are equipped to teach students the critical literacy that allows a culture to continually renew itself. But I envisage a telling question will be asked of you: even if we grant that critical literacy is as important as you claim, do students really need to know about Hesiod and Petrarch, about Francis Bacon and Jean-Paul Sartre, about the Boxer Rebellion and the Thirty Years War, to attain a sufficient competence in such literacy? Can you not simply design a pair of one­-semester courses - courses in which all undergraduates, no matter what their career track, will be required to enrol - one course to be entitled "Reading and Writing", in which students will be trained to dissect arguments and write good expository prose; and the other to be entitled "Great Ideas", in which they will be briefed on the main currents of world thought from Ancient Egypt to the present? A pair of courses like that will not require an entire faculty of humanities behind them, merely a school of critical literacy staffed with bright young instructors.
Basic courses in cultural literacy are not a new idea. They have been mounted at countless American universities under the rubric of "Freshman Composition". These universities have been responding to precisely the same pressure that the humanities in South Africa now feel.
There is nothing wrong with arguing that a good humanistic education will produce graduates who are critically literate, by some definition of critical literacy. However, the claim that only the full apparatus of a humanistic education can produce critical literacy seems to me hard to sustain, since it is always open to the objection: if critical literacy is just a skill or set of skills, why not just teach the skill itself? Would that not be simpler, and cheaper too?
I could not be more strongly on your side in your defence of the humanities and of the university as the home of free enquiry. I respect your basic approach, which, as I see it, is to mount a strategic defence of academic freedom, the kind of defence that stands a chance of swaying the relevant decision-makers, as opposed to a quixotic defence that can be easily brushed aside.
But in the end, I believe, you will have to make a stand. You will have to say: we need free enquiry because freedom of thought is good in itself. We need institutions where teachers and students can pursue unconstrained the life of the mind because such institutions are, in ways that are difficult to pin down, good for all of us: good for the individual and good for society.
In institutions of higher learning in Poland, in the bad old days, if on ideological grounds you were not permitted to teach real philosophy, you let it be known that you would be running a philosophy seminar in your living room, outside office hours, outside the institution. In that way the study of philosophy was kept alive. It may be something along the same lines will be needed to keep humanistic studies alive in a world in which universities have redefined themselves out of existence.
Best regards
John Coetzee
This is an edited extract from novelist and academic JM Coetzee's foreword to University of Cape Town fellow Professor John Higgins's new book, Academic Freedom in a Democratic South Africa, published this month by Wits University Press

http://mg.co.za/article/2013-11-01-universities-head-for-extinction/

 /
Intolerância intelectual

“Não temos mais debate nenhum”

Publicado em 09/11/2013 | Paulo Camargo

Em julho passado, o jornalista William Waack, editor-chefe e âncora do Jornal da Globo, foi várias vezes interrompido por vaias e protestos durante uma mesa que ele tentava mediar na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O tema eram as manifestações de junho, e o fato de Waack representar, indiretamente, um grande grupo de co­mu­ni­cação, fez dele alvo de hostilidade por parte do público pre­sente. No fim de outu­bro, cerca de 30 estu­dantes interrom­pe­ram duas mesas na Festa Literá­ria Inter­nacional de Ca­choeira (Flica), na Bahia. O protesto pedia o cance­lamento de de­bates com o so­ciólogo Demé­trio Mag­noli e o filó­sofo Luiz Felipe Pondé, colu­nistas da Folha de S. Paulo. Também no mês passado, o 1.º Fórum de Filosofia e Ciência das Origens, que aconteceria na Uni­versidade Estadual de Campinas (Uni­camp) foi cance­lado na vés­pera, a pedido de pro­fes­sores da própria instituição. O motivo: os convidados eram no­mes ligados ao “criacionismo cien­tífico”, que nega a Teoria da Evolução de Charles Darwin. Nesta semana, o Caderno G Ideias discute essa crescente indisposição para o diálogo e o debate, em favor de posicionamentos mais radicais, que preferem calar o opositor a ouvi-lo.
Marco Antônio Villa, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP) diz que a intolerância intelectual no Brasil vem se acentuando desde as manifestações do último mês de junho e tendem a se acirrar em 2014, ano de eleição presidencial. Para ele, essa intransigência é decorrência, sobretudo, da inexistência de um debate político consistente no ­país. “O brasileiro não gosta de política, que a considera um assunto chato, que não o encanta. Não há aqui uma sociedade politizada. O nível de consciência é muito pobre.”
“Sempre houve uma tradição autoritária no Brasil, uma enorme dificuldade em conviver com o outro, que se tiver ideias contrárias, ‘não representa nada’.”
Marco Antônio Villa, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP).
“O Brasil não tem tradição de dissonância”
Há um clima de ódio instaurado na vida política do ­Brasil, que vem se agravando ao longo dos últimos anos em decorrência do embate de forças entre o PT e seu principal opositor, o PSDB. A constatação é do filósofo Renato Janine Ribeiro, professor-titular da cadeira de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista concedida à Gazeta do Povo
Confira a entrevista completa
A cada legislação, diz Villa, se elegem políticos mais desprovidos de boas ideias, inconsistentes. Os partidos se diluíram, perderam a ideologia, e agem em benefício de seus próprios interesses, enquanto os sindicatos, que já tiveram um papel importante na vida brasileira, se tornaram braços do Estado, desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
A visão do historiador da vida acadêmica brasileira é ainda mais nefasta. “Há um acirramento no meio acadêmico, porque a ‘intelectualidade chapa-branca’ tem medo de perder o que conquistou nos últimos 12 anos.”
Para Villa, o debate intelectual arrefeceu no Brasil a partir da redemocratização, em meados dos anos 80, e segue quase inerte até hoje, nestas primeiras décadas do século 21. “Não temos mais debate nenhum. A universidade pública inexiste. Perdeu-se a capacidade crítica e forma-se muito mal. Há teses de doutorado ilegíveis, a produção científica nas áreas das Ciências Humanas hoje é pífia e inconsistente.”
O mais grave, na visão do historiador, é que já não há mais nas universidades espaço para o contraditório. “É impossível estabelecer um diálogo inteligente de ideias. O controle está nas mãos de grupelhos e não se consegue trabalhar com as diferenças.”
Villa ressalta, contudo, que essa indisposição ao diálogo não é algo novo. Pelo contrário. “Sempre houve uma tradição autoritária no Brasil, uma enorme dificuldade em conviver com o outro, que se tiver ideias contrárias, ‘não representa nada’.”
Embates
O historiador ressalta que já houve, no passado, um debate político intenso no ­país em alguns momentos. Lembra que, no fim do século 19, o jornalista e escritor Euclides da Cunha defendeu fervorosamente na imprensa o fim da monarquia e o ideário republicano, enquanto que, nos anos 1920, a Primeira República sofreu forte questionamento na imprensa, até a Revolução de 30, que levou ao poder Getúlio Vargas e, por consequência, seu regime ditatorial. Nos anos 50, o debate em torno do entreguismo e do nacionalismo, materializado na campanha pela nacionalização do petróleo, foi outra discussão que ganhou âmbito nacional por meio da imprensa, assim como a implantação das comunidades de base, nos anos 60, durante o governo de João Goulart, um dos pivôs do Golpe de 1964.
Entre as discussões intelectuais públicas brasileiras, Villa cita o embate virulento entre os críticos José Verissimo e Silvio Romero, autores de histórias da literatura brasileira contrapostas, e que trocaram farpas em público no fim do século 19. Outro confronto histórico ocorreu entre o escritor José de Alencar, autor de O Guarani, e o jurista e diplomata Joaquim Nabuco nas páginas do jornal O Globo , em 1875.
Villa defende a ideia de que, no plano político, a redemocratização do país teria, em certa medida, fracassado, já que a população não se tornou muito mais politizada e disposta a debater os problemas nacionais. “Algum êxito, talvez, tenha sido alcançado no plano econômico.” O historiador completa, afirmando que hoje o clima de animosidade é tão forte, que forças opositoras não conseguem mais sequer sentar à mesma mesa para discutir.
Na ditadura do eu
O recrudescimento da intolerância está relacionado ao esvaziamento e à perda das utopias a partir da década de 1960, processo que teria culminado nos anos 90, quando o paradigma liberal de uma sociedade regida por fatores econômicos e mercantilista se impuseram, passando a ter papel central em boa parte do mundo, reforçando um modo de pensamento individualista. “Valores como o respeito à diversidade, o humanismo e a luta pela desigualdade, pregados pelo socialismo, foram se perdendo, em nome do individualismo extremado”, disse à reportagem da Gazeta do Povo César Bueno de Lima, sociólogo, professor do curso de Ciências Sociais da PUCPR e integrante do Núcleo de Direitos Humanos da instituição.
Os meios de comunicação de massa, segundo ele, incluindo agora as próprias redes sociais, substituíram a política, que deixou de ser um território para o debate, e passou a ser o meio pelo qual diferentes grupos fazem valer seus interesses de forma muito pragmática.
As causas coletivas que visam ao bem comum, segundo ele, teriam cedido lugar à cultura do eu. Nessa ordem, que vem se consolidando desde então, o público é sinônimo de decadência e o privado é sempre priorizado. A intolerância, dentro das universidades, inclusive, seria a radicalização desse pensamento que não contempla o diálogo como forma de resolução de problemas. Pelo contrário.
A estratégia passou a ser descredenciar o outro, aquele que se opõe ao que eu penso. A ordem hoje seria a da imposição de um ideário que satisfaz o anseio de indivíduos e de seus iguais, nem que para isso seja necessário causar a morte de quem discorda das minhas ideias. Essa “morte” pode ser simbólica, por meio da censura, do impedimento da expressão desse outro, ou literal, em casos mais radicais.
Individualismo
“Vivemos a ditadura do eu, em que o indivíduo está autorizado a fazer tudo em defesa dos seus próprios interesses. Nem que para isso ele tenha de esvaziar o discurso do outro, com o qual está em discordância, e até de calá-lo.”
O intolerante, assinala o professor, é aquele que defende a pena de morte e não defende os direitos humanos, e sim os direitos dos humanos que pensam como ele. “Há uma recusa de entender e absolver, impingindo dor e sofrimento, dentro de um paradigma da vingança.”
Essa postura, diz Bueno de Lima, atinge também o meio acadêmico, que deveria ser um templo do saber, espaço democrático para o debate e o intercâmbio de ideias, mas acaba por reproduzir todos esses vícios, o que se mostra até mais grave, levando-se em consideração sua vocação à universalidade. “Há hoje uma imensa dificuldade em saber ouvir. Poucos se dispõem a se abrir a outras possibilidades, para além daquilo que acreditam e defendem.”
“Atualmente, a educação não necessariamente torna as pessoas melhores. Poucos se perguntam para que se está educando. Há uma ignorância política muito grande, Educa-se, muitas vezes, para o medo”, finaliza o professor.

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1423851&tit=Nao-temos-mais-debate-nenhum

JORNAL GGN


LUIS NASSIF - ONLINE


COMO ERA A PROPAGANDA ANTI-JANGO, NA VOZ DE CID MOREIRA

sábado, 16 de novembro de 2013

Gazeta do Povo - Não temos formação e nem tradição

 

G Ideias

 /
Entrevista

“O Brasil não tem tradição de dissonância”

Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP)
Publicado em 09/11/2013 | Paulo Camargo
Há um clima de ódio instaurado na vida política do ­Brasil, que vem se agravando ao longo dos últimos anos em decorrência do embate de forças entre o PT e seu principal opositor, o PSDB. A constatação é do filósofo Renato Janine Ribeiro, professor-titular da cadeira de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista concedida à Gazeta do Povo. Para ele, o país não oferece um ambiente propício à dissonância, à divergência de pontos de vista. “Os períodos de democracia no Brasil são muito limitados.” Leia a seguir trechos da conversa.
Temos percebido, nos últimos tempos, um recrudescimento no debate ideológico e intelectual no país. O senhor crê que isso tem, de fato, ocorrido ou é apenas uma impressão surgida da repercussão dada pelas mídias sociais?
“Não temos mais debate nenhum”
Marco Antônio Villa, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP) diz que a intolerância intelectual no Brasil vem se acentuando desde as manifestações do último mês de junho e tendem a se acirrar em 2014, ano de eleição presidencial
Confira matéria completa
Isso me chama a atenção há pelo menos cinco anos. Eu dei uma conferência na Universidade de Columbia [em Nova York] sobre o ódio na política brasileira há três, quatro anos. Eu percebi que esse clima ficou muito forte, e isso está muito ligado ao enfrentamento entre o PT e o PSDB. Me parece que esse ódio vem mais do PSDB, mas isso é de certa forma natural, a oposição ter mais ódio do governo do que o contrário. Acho que a mídia social aumenta a ressonância disso, mas não é a causa: o fenômeno já existia antes, mas é amplificado, porque a mídia social cresce em uma progressão geométrica. Ela favorece uma coisa muito narcisista. Você tem duas perspectivas no Facebook, por exemplo: a que poderia ser, e não é, e a que é.
Qual poderia ser?
A perspectiva de espaço de debate. Seria o que a gente na área de Filosofia Política chama de ágora, a praça de discussão no sentido grego. A ideia de que você, em Atenas, tem um espaço onde todo mundo discute, e isso é o que de melhor existe na democracia. Então, o Facebook, por exemplo, favorece uma igualdade de participação, em que todas as pessoas estão no mesmo patamar. Ele tem regras, como a limitação de cinco mil amigos, o que reduz a desigualdade entre as pessoas. O sucesso de um usuário é em grande parte decorrente do seu mérito de granjear pessoas que repercutam aquilo que ele posta. Todos esses fatores reduzem a desigualdade econômica, o que não ocorre na mídia tradicional. Tudo isso poderia oferecer um espaço de discussão mais amplo e livre. Mas isso não acontece. O que a gente vê no Facebook é uma reprodução das mesmas posições. Quando eu posto alguma coisa, e coloco uma pergunta, a minha percepção é a de que as pessoas apenas reafirmam o que já haviam dito antes. Por exemplo, há um mês ou dois, coloquei uma pergunta: “Alguém mudou sua opinião a respeito do mensalão em decorrência do julgamento? Alguém que achava que os acusados eram inocentes, se convenceu da culpa deles; ou alguém que acreditava na culpa deles, acreditou que o julgamento foi injusto?” Eu tive mais de cem respostas, e não houve uma única pessoa que dissesse: “Eu mudei de opinião”. Aliás, a maior parte nem tocava na questão que eu fiz. Diziam: “Bando de bandidos” ou “Julgamento fraudulento!”. A minha pergunta não era respondida. A conclusão à qual eu cheguei é que a disposição para o diálogo em uma rede social é muito baixa. Você pode ter discussão, mas é do tipo: “Eu não aprendo e não mudo nada! Não mundo nunca de ideia”. Então, isso é muito preocupante: você tem a ferramenta perfeita para uma coisa melhor, mas não consegue.
O senhor crê que as elites culturais no Brasil estão dispostas a dialogar ou elas tendem a se fechar para as vozes dissonantes, que discordem de seu pontos de vista?
O Brasil não tem tradição de dissonância, de discussão. Aqui, por muitas razões, a ideia basicamente é: concorda-se ou então se está diante do mal. Fazendo uma diferenciação entre a ética e a política. Na ética, você está lidando com o certo e o errado, vamos dizer, ou com “o bem e o mal”, entre aspas mesmo. É muito difícil aceitar a discordância sobre grandes questões éticas. Agora, a política não é assim: você tem de aceitar que existem posições divergentes, mas respeitáveis. É claro que não quer dizer que todas as posições são aceitáveis, como a defesa do preconceito, da ditadura, do genocídio, que não são respeitáveis. Mas você sai disso e entra em um debate padrão como, por exemplo, entre o socialismo e o liberalismo. Nenhum dos dois lados é sórdido. Você pode ter liberais corruptos e socialistas bandidos, mas isso não elimina a dignidade das duas causas. Mas isso não ocorre. Aqui no Brasil, a gente não tem uma conduta política minimamente razoável. Então, temos a tendência de acreditar que quem diverge de nossas ideias é corrupto, é indecente e está errado. E isso tem custo altíssimo, do ponto de vista do avanço do país, porque o diálogo praticamente não existe.
Por que não existe?
Você tem coisas que precisam ser construídas a partir do contato, do confronto, e não são. E, desse ponto de vista, o conflito entre PT e PSDB acabou fazendo com que dois partidos que nasceram da luta contra a ditadura desenvolvessem um tal clima de ódio que é muito difícil você fazer eles se juntarem em pontos nos quais poderiam se unir.
É possível encontrar na história do Brasil elementos que nos ajudem a compreender como se dão esses debates sobre temas polêmicos? O senhor diz que o país não tem uma tradição de aceitar o dissonante.
Primeiro, os períodos de democracia no Brasil são muito limitados. Nós tivemos uma relativa democracia entre 1945 e 1964, em que vemos uma expressão muito limitada da esquerda, e tivemos uma democracia muito melhor de 1985 para cá. Mas é tudo. Se comparar com os Estados Unidos e a Europa, há uma distância gigantesca. Ao longo dessa história, quase sempre houve a tendência de termos um único discurso dominante, desde o período colonial. Além disso, a falta de imprensa até 1808, e a inexistência de universidades até 1930, limitam muito a capacidade de formação brasileira. Todos esses fatores foram muito severos. Nós temos um aspecto positivo, comparado a outros países de língua espanhola, que é nós sermos menos violentos. A morte violenta não foi algo tão forte no Brasil. Nós não tivemos tantas guerras civis como na América hispânica. Mas mesmo de uma forma mais discreta, temos a tendência de acreditar que apenas um caminho é o certo. E isso está fazendo com que o Brasil perca uma oportunidade gigantesca nestes últimos 20 anos. Nós temos um sistema institucional que permite a divergência, mas nós temos atores se movendo nesse caminho que negam o direito à divergência.
O senhor pode exemplificar esse ponto de vista?
A Justiça eleitoral no Brasil, do ponto de vista da tolerância, é melhor do que o candidato. Nós temos muitos atores na área da política, que negam o direito do outro, ou melhor, se pudessem calar o outro, calariam.
Como vê essa discussão em torno das biografias não autorizadas?
Eu não consigo entender esse caso. Acho que há dois atores que tomaram protagonismo nesse caso. Um é o cantor Roberto Carlos e o outro é a [produtora cultural] Paula Lavigne. Os demais têm falado muito pouco a respeito. O Roberto Carlos Carlos tem uma trajetória consistente, que vem de décadas, em que ele vem proibindo a produção de biografias sobre ele, e que coloca em um mesmo pacote uma biografia escandalosa da década de 80 e esse livro do Paulo César de Araújo [Roberto Carlos em Detalhes], que eu li e no qual não vejo nada demais. É um assunto do Roberto, e eu não consigo entender o que o move. Já a Paula Lavigne é o sonho de todo mundo que deseja a liberação total das biografias, porque ela se expressa de maneira muito antipática. O que me preocupa em relação às biografias, e eu sou a favor da liberação, é que toda a discussão está se dando em torno de celebridades, e nada está sendo dito em relação a personagens históricos. Isso é até bom, porque é muito mais importante saber a verdade sobre Getúlio Vargas, sobre o ditador [Emílio Garrastazú] Médici, do que sobre o Caetano Veloso. Mas os argumentos valeriam para todos. Se alguém quiser fazer uma biografia sobre Paulo Maluf, esse livro pode ser proibido.
Em relação a essa questão do debate, da polarização e da intolerância, como o senhor vê o papel desempenhado pelos grandes meios de comunicação de massa?
É ruim, porque eles próprios não acreditam no direito à divergência. Você pega, por exemplo, a Folha de S. Paulo. O jornal tem um número enorme de colunistas, mais de cem articulistas permanentes de opinião, e desses, se existirem dois ou três que tendem para a esquerda, é muito. Você tem o Jânio de Freitas e o Vladimir Safatle. Isso favorece a ideia de que não há um equilíbrio de opinião. Hoje, se você quiser equilíbrio de opinião, terá de ler os blogs. Você não consegue encontrar um espaço de debate. O próprio Fernando Henrique Cardoso tentou criar um site, o Observador Político, que acabou virando um portal, sobretudo, de tucanos, e até de gente que está à direita dos tucanos.
A pluralidade, defendida por muitos veículos de comunicação em suas linhas editoriais, é apenas um recurso de retórica na grande imprensa?
A pluralidade está na lei, ela é garantida pelo Judiciário, porém a instituição é melhor do que o uso que estamos fazendo dela. Assim como a instituição Justiça Eleitoral é melhor do que os candidatos: a instituição liberdade de imprensa é melhor do que o uso que se faz dela. Esse uso é muito pobre. Não há espaço para o debate que inclua os vários lados. O que resta disso é quase apenas para inglês ver.

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1423855&tit=O-Brasil-nao-tem-tradicao-de-dissonancia

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Revistausp

Computação em Nuvem

 

Clique aqui

 

Black blocs, o assassinato do menino Douglas e o inferno anunciado…

 

Blog do Rovai 

J S Bach - Toccata and Fugue in D minor BWV565

Música do céu

 



Em maio de 1999 pela Philadelphia Orchestra

Red Hot + Rio

Lançado em 1996, um tributo a bossa nova e a Antônio Carlos Jobim. Vestindo pop e o peito de camisa aberta com o clima do Rio nos anos 60.

Veja o video aqui

 

Cartazes para Nymphomaniac, de Lars Von Trier

"Forget about love"

 

Aguardado o novo filme de Lars: Nymph()maniac